Pró-reitoria da universidade contabiliza ocorrências apenas a partir de denúncias

A Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), órgão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), afirma que desde 2019, quando começou suas atividades, foram registrados sete casos de preconceito na instituição: três de racismo, três envolvendo pessoas com deficiência e autismo e um de homofobia. Contudo, as informações, obtidas pela reportagem via Lei de Acesso à Informação (LAI), podem não representar a realidade da universidade, uma vez que não há registros anteriores a 2019 e a maioria das ocorrências não são denunciadas.

A professora Paula Melani Rocha, integrante da comissão de cotas da UEPG e pesquisadora dos Direitos Humanos, afirma que essas denúncias podem não levar em consideração os casos de racismo estrutural, por exemplo. Ela também destaca que algumas pessoas não conseguem identificar quando estão sendo vítimas de preconceito e, por isso, não denunciam.“O próprio sistema de cotas revela que existem diversos problemas, isso porque vários departamentos sequer acreditam na necessidade de cotas raciais”, explica Melani. A pesquisadora ressalta que quando há uma preocupação com a presença de negros, pobres e membros da comunidade LGBTQIA+, com esse diagnóstico, os departamentos podem empregar ações de combate ao preconceito. Porém, esse panorama não é realidade em todos os cursos da universidade.

O pesquisador Cícero Pereira, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), explica em sua tese de doutorado, intitulada “Um estudo do preconceito na perspectiva das representações sociais”, que casos de preconceito tanto racial quanto de qualquer outro gênero surgem para suprir uma necessidade de se sentir superior. “Os discursos ideológicos são os maiores causadores destes tipos de preconceito”, explica Pereira ao dizer que as cotas demonstram a diferença entre estudantes negros e brancos, pobres e ricos.

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Cartazes da campanha "A UEPG está de olho"  estão espalhados pela instituição/Foto: Kathleen Schenberger

Questionada sobre as ações que toma para combater casos de racismo, a PRAE informou, através de nota ao Periódico, que realiza rodas de conversa e círculos restaurativos nos cursos, junto à Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidades. Além disso, promove  campanhas como “A UEPG está de Olho”, que visa combater os diversos preconceitos na instituição, disponibilizando o telefone 3220-3237 para denúncias. 

 

Ficha Técnica: 

Reportagem: Heryvelton Martins

Edição e publicação: Kathleen Schenberger

Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky