Elas não perdem uma corrida e fazem movimentos para deixar o esporte menos masculino, mesmo não havendo pilotas na categoria

 

“Lembro de acordar cedo no domingo e assistir às corridas com meu avô e meu pai quando eu era criança”. Essa foi a resposta das dez mulheres consultadas pelo Periódico para a produção desta reportagem sobre assistir às corridas de Fórmula 1. Isso é apenas uma amostra de que há muito tempo as corridas deixaram de ser exclusivas para os homens e também conquistaram a paixão das mulheres.

F1 Gabriel Mendes

Foto: Gabriel Mendes

O séquito de mulheres que acompanham as competições também cresceu a partir de 2019, com a série F1: Dirigir para viver, sob a direção de James Gay-Rees, produzida pela Netflix. Entre as amantes do esporte e da produção está Rebecka Elia. Ela é fã de Max Verstappen, piloto holandês da Fórmula 1 (F1) e atual campeão da categoria, e acredita que o espaço das mulheres nas competições deveria ser maior, uma vez que há muitas mulheres que praticam o esporte, mas ficam de fora dos holofotes. “Com toda a infraestrutura, reconhecimento e investimentos, as mulheres já deveriam estar participando. Desde a engenharia até os convidados para a bandeirada final, a participação das mulheres é pequena e tímida”. A bandeirada final, citada por Rebecka, serve para sinalizar a última volta e é uma função majoritariamente masculina.


Para além das corridas nas manhãs de domingo, a internet teve um papel fundamental para promover o esporte entre as mulheres. Maria Luiza Rios, fã da equipe McLaren, avalia que as redes sociais são um fator importante para a visibilidade das mulheres que produzem conteúdo sobre F1, mas ainda existem obstáculos para a comunidade, até mesmo o preconceito e estereótipo. “Elas ainda não recebem a visibilidade merecida, muitas vezes são tratadas como tietes que só gostam porque tal piloto é bonito, mesmo divulgando informações interessantes e acessíveis”. Giuliana Okuma, fã de Lewis Hamilton, piloto principal da equipe Mercedes, entende que o machismo vai além do esporte. “Não se limita à Fórmula 1. É desde aquela piada da mulher no volante, perigo constante. Prefiro acompanhar perfis gerenciados por mulheres no automobilismo porque evito de ver comentários assim, não tem graça nenhuma”, relata.

Para além das pistas
A admiração pelos pilotos e pelo esporte atravessam as pistas e contemplam também a vida pessoal. Favorito entre as entrevistadas, Lewis Hamilton é uma das atrações também por conta da sua atuação em campanhas de moda e causas sociais, motivo que faz Giuliana acompanhar a vida do piloto. O mesmo sentimento é compartilhado por Bruna Aragutti, fã da equipe do heptacampeão. “Ele se distingue de outros pilotos porque usa a voz para diversas pautas, e isso chama atenção das mulheres que quando conhecem os pilotos não querem ver só mais uma extensão de traços do machismo diário”, comentou.

 

E por falar em assédio, há iniciativas para combatê-lo durante as competições. Na temporada de 2022, perfis e influenciadoras da área apresentaram a importância de acompanhar as corridas sempre em companhia de pessoas conhecidas. Em novembro, o Grande Prêmio do Brasil aconteceu no autódromo de Interlagos, onde houve uma campanha de segurança para mulheres que iriam assistir à corrida juntas. Amanda Dantas acompanhou o movimento pelas redes sociais. “Conhecer alguém que gosta do esporte é difícil, com um projeto online você acha a sua turma e se sente mais segura, além de mostrar a força que temos e a quantidade de mulheres que acompanham está aumentando bastante”, finaliza.

 

Ficha Técnica: 

Reportagem: Lilian Magalhães

Edição e publicação: Gabriel Mendes e Janaina Cassol

Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli