Evento discutiu pontos importantes da história nacional e local, convidando à participação e ao pensamento crítico
O curso de Jornalismo da UEPG realizou a 4ª edição do Ciclo Descomemorar Golpes durante a semana do dia 27 a 31 de março de 2023. A programação contou com entrevistas, debates, exposição de fotos e mostras de documentários sobre ataques à democracia e aos direitos humanos no contexto nacional e local. Entre os temas discutidos estão a história da Ditadura Militar e da redemocratização no Brasil, o papel dos negros na história dos Campos Gerais, as lutas pela moradia em Ponta Grossa e a história da criação dos pratos típicos da região. Palestraram no evento os jornalistas Osni Gomes e Neomil Macedo, o professor Ilton Martins do departamento de História da UEPG, Claudete Dalabona, Jeverson Tramontin e Leandro Dias, membros da Frente Nacional de Luta de Ponta Grossa, entre outros. Segundo o público, que acompanhou os debates, o evento estimulou a participação da comunidade acadêmica e provocou uma maior tomada de consciência, pois permitiu recordar e conhecer fatos desconhecidos pela maioria das pessoas.
Para a professora do Departamento de Jornalismo, Karina Janz Woitowicz, as discussões trouxeram contribuições positivas por resgatar detalhes importantes da história brasileira e abordar temáticas variadas. A professora coordenou a exibição dos documentários "Vlado-30 anos depois" e "Memórias da Ditadura". "Cada atividade propôs temas diferentes, e as reações foram várias. Os assuntos debatidos possuem uma atualidade, pois fazem conexões do passado e do presente, e houve, sim, um interesse por parte de quem participou", avalia Woitowicz.
Na avaliação do professor de Jornalismo Rafael Schoenherr, que coordenou a exposição "Cidade em Curso", a 4º edição do Ciclo Descomemorar Golpes teve a especificidade de relacionar nosso passado político recente ao atual cenário de polarização e desinformação. "Também vejo que algo que diferencia essa 4º edição é a tentativa de tematizar a cidade e mobilizar documentação na forma de depoimentos, entrevistas ou exposição fotográfica", completa. Schoenherr também destaca a participação dos alunos e alunas de Jornalismo na programação, que aprimoraram o exercício da escuta ao realizar entrevistas. Para o professor, esse exercício representa o início da resolução de problemas. "Sem um espaço de escuta, fica impensável ter um diagnóstico do país em que a gente vive e pensar em eventuais saídas", analisa Rafael.
O jornalista Osni Gomes, que participou do painel "História da mídia regional", avalia que o evento foi importante para mostrar o que a maioria das pessoas não conhece sobre a história da região dos Campos Gerais e também para poder contar o que ele produziu durante seus 25 anos de atuação no jornalismo impresso. "Foi útil porque mostrou pontos da nossa história que não estão facilmente disponíveis em outras fontes de pesquisa", aponta o jornalista. Gomes considera que a manifestação do público revela o interesse demonstrado em relação aos pontos que foram debatidos.
A estudante do primeiro ano de Jornalismo, Sabrina Waselcoski, acompanhou todos os eventos. "As palestras mostraram lados do jornalismo que eu não sabia que existiam e reforçaram a importância de assuntos como racismo e misoginia, e como eles estão inseridos na nossa sociedade", conta Sabrina. Waselcoski considera que os debates foram fundamentais para sua vida enquanto acadêmica e enquanto ser humano e trouxeram luz a assuntos que ainda são desconhecidos tanto pela sociedade como pela comunidade acadêmica, gerando uma maior conscientização.
Foto: Daphinne Pimenta / Palestra Invenção de pratos típicos nos Campos Gerais
A aluna do segundo ano de jornalismo, Luisa Andrade, participou da cobertura das entrevistas coletivas "Escravidão e Presença Negra nos Campos Gerais", "Morar em PG - 200 anos em memória de lutas sociais" e "A invenção de pratos típicos nos Campos Gerais”. Andrade destaca a própria dinâmica do evento, que contou não só com entrevistas, mas também exibição de documentários, ensaios fotográficos e lançamento de livro. A aluna também considera que os temas debatidos são pouco conhecidos pelos universitários e pela sociedade em geral. "Debates e eventos com essa temática, em minha opinião, servem para aprendermos sobre a nossa história como sociedade, identificar aquilo que foi negativo e errado, evitando assim que fatos semelhantes se repitam no futuro", conta Luisa.
O evento não se restringiu apenas à Universidade e no dia 31 de março foi exibido o documentário "Memórias da Ditadura" na ocupação Ericson Duarte. De acordo com a coordenadora da ocupação, Verônica Maria Rodrigues dos Santos, a apresentação do documentário e os debates foram importantes para gerar mais consciência sobre o que foi a Ditadura Militar, entendendo esse período como uma forma opressora de governo. "Isso tem que continuar sendo ensinado nos lares, na escola, propagado através de todos os meios possíveis. Temos que aprender com o passado e trabalhar com o hoje para termos um futuro melhor. Só Deus tem uma perspectiva eterna; a nossa é limitada", defende Verônica. Para a coordenadora, gerar consciência sobre assuntos como esse é uma missão, algo necessário para conduzir a escolhas mais seguras e que a reflexão deve ultrapassar os limites do ambiente acadêmico. "Olhar fora da comunidade acadêmica? É bom. Todos votam; não só acadêmicos. Todos escolhemos nossos governantes". Santos também ressalta a necessidade das minorias em refletir de forma comunitária sobre o que precisa ser melhorado e aprender com pessoas que lutaram para não aceitar a opressão.
Foto: Vittória Mulfait / Exibição documentário "Memórias da Ditadura" na ocupação Ericson Duarte
Resumo da programação
No dia 27, aconteceu a exposição fotográfica "Cidade em Curso", que mostrou um arquivo inédito de fotos sobre a história de Ponta Grossa entre 1985 e 2000. No dia 28, o painel "Intentona Golpista" recordou a memória da Ditadura e do retorno à democracia no Brasil. No dia 29, o professor Ilton Martins falou sobre a participação negra na história dos Campos Gerais. Já no dia 30, as entrevistas coletivas "Morar em PG" e "A invenção dos pratos típicos nos Campos Gerais" debateram sobre as lutas sociais pelo direito à moradia em PG e sobre as influências culturais na criação dos pratos típicos da região. No mesmo dia, houve a exibição do documentário "Vlado-30 anos depois" e um debate sobre o livro "Não verás país nenhum", de Ignácio Loyola Brandão. No último dia do evento, os jornalistas Osni Gomes e Neomil Macedo discutiram sobre a história da mídia regional e os moradores da ocupação Ericson Duarte assistiram ao documentário "Memórias da Ditadura". Os lançamentos da coleção "Fundo de Vale", pela Olaria Cartolera, e do livro "Desenvolvimento da atenção em crianças do ensino fundamental", de Marcelo Ubiali Ferracioli, fecharam a programação.
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Ficha técnica:
Reportagem: Carolina Olegário
Edição e publicação: Amanda Dal´Bosco
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli
Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli