Dados oferecidos pelo SUS mostram que atendimento oferecido às mulheres após
o nascimento do bebê não cumpre todos os objetivos

 

Neste final de semana (14) o Brasil comemora o Dia das Mães, uma data que traz também reflexões sobre as problemáticas que envolvem a maternidade no país. De acordo com dados publicados pelo Ministério da Saúde em 2017, 98% dos partos acontecem em instituições hospitalares, e as avaliações pós-parto ocorrem normalmente durante as primeiras 72 horas, ainda nos hospitais. Entretanto, o atendimento pós-parto ainda apresenta falhas durante o período de puerpério, que vai desde o nascimento do bebê, até o momento em que a mulher ou pessoa com útero volte a menstruar. Pesquisas apontam que apesar dos esforços, o SUS ainda necessita de maior atenção no cuidado neste período, entre as demandas estão inclusos atendimento psicológico e visitas de agentes comunitários.

A doutora em Ciências Sociais Aplicadas, Ana Maria Bourguignon, que pesquisou como são as condições de atenção à saúde no puerpério, afirma que o momento após o nascimento do bebê é essencial na vida das mães. “Essa primeira semana é fundamental, pois é nela que ocorre a maior parte das mortes maternas. Não só isso, mas a fase do puerpério também é importante do ponto de vista social e psicológico. Psicólogos e estudiosos do puerpério afirmam que esta é uma fase de reconstrução da identidade, visto que, quando nasce uma criança, nasce também uma mãe”, comenta Ana Maria. “É um momento de muitas ambivalências, com diversos pensamentos positivos e negativos em relação à maternidade”, afirma a doutora.

Os órgãos públicos de saúde são responsáveis pela pesquisa Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PNMAQ-AB), que busca identificar o atendimento feito à quem realizou o parto pelo SUS. Ana Maria utilizou esses dados em seus estudos concluindo que a quantidade de pessoas que responderam a pesquisa dos órgãos públicos de saúde é pouco mais da metade das genitoras. “Esse é um dado importante, pois podemos identificar que há uma lacuna no atendimento às mulheres em um período extremamente importante em relação à saúde mental”, analisa a doutora. Mesmo com números relativamente baixos, os dados obtidos servem para mostrar como é feito o atendimento pós-parto no Brasil. Ao todo, 90% das mulheres afirmaram que receberam orientação em relação a amamentação, e 80% afirmaram que houve oferta de métodos contraceptivos.

Por outro lado, menos da metade das mulheres confirmaram que foi realizado exame ginecológico e exame das mamas, e 30% afirmaram que não foram perguntadas como se sentiam. O número de visitas domiciliares também é baixo, com uma queda nos últimos anos. Ana Maria explica que houve um retrocesso dessas medidas: “Em 2012, o número era de cerca de 60% das mulheres usuárias do SUS entrevistadas confirmaram que receberam a visita da agente comunitária de saúde, mas esse dado caiu para 58% em 2014, e 44% em 2017, uma frequência ainda baixa”, conta Ana.

Ainda de acordo com a médica, o Brasil já tomou medidas para melhorar o atendimento na maternidade, seja durante ou após o parto. “No Brasil, nós temos o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, que é considerado inovador, pois reorganizou toda a atenção obstétrica no país, mas ele sozinho não é suficiente”, afirma. “O primeiro passo para melhorar a assistência no período pós-parto é monitorar os atendimentos realizados. Assim como as consultas pré-natais são registradas, a consulta e visita pós-parto também devem ser. Com um monitoramento, será possível identificar o perfil de puérperas que não estão sendo alcançadas pelos serviços de saúde, e, assim, tomar medidas para melhorar a cobertura”, analisa.

 

Maio Furta-Cor

 

A questão da saúde mental materna também é marcada neste mês pela campanha Maio Furta-Cor. Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram que em torno de 26% das mulheres sofrem de depressão pós-parto, e a campanha busca sensibilizar a população sobre a saúde mental materna. A doula e representante da campanha em Ponta Grossa, Juliane Carrico, comentou sobre. “É uma questão que para muita gente é algo óbvio, mas para muitos outros não faz nem de longe parte da realidade da pessoa. Contudo, a campanha apenas traz o assunto à tona, só quem pode tratar o problema é o município, o estado e o país”.

 A campanha realizará eventos durante todo mês de maio, como a apresentação de um documentário sobre luto perinatal e roda de mães em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA), que contará com a presença de uma psicóloga. “É importante termos rodas de conversa em lugares como o CRAS, psicólogos especializados na saúde mental materna, nós precisamos de profissionais que estudem sobre isso, e principalmente que eles sejam acessíveis”, comenta a doula.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Lincoln Vargas

Edição: Naiomi Mainardes, Maria Eduarda Kobilarz e Quiara Camargo

Publicação: Amanda Dal´Bosco

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos