75% das vítimas têm medo de denunciar seus agressores, aponta pesquisa do DataSenado
Em 2022, o número de casos de violência contra mulheres registrados mensalmente atingiu 4.600 ocorrências no Paraná, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em Ponta Grossa, de janeiro a março deste ano, 260 mulheres tiveram acompanhamento da Patrulha Maria da Penha (iniciativa que atende vítimas de violência doméstica). As vítimas não sofrem apenas violências físicas, mas também emocionais, o que dificulta a denúncia de seus agressores.
Mirian (nome fictício), uma vítima de violência doméstica, relatou sua história e os obstáculos que enfrentou para denunciar seu agressor. “Eu queria me separar e ele não, então ele começou a beber muito e tudo que não tinha coragem de fazer sóbrio, ele fazia quando bebia” relata Mirian.
Segundo Mirian, seu agressor acreditava que estava sendo traído. “Ele não aceitava que havia me perdido para ele mesmo”, explica. O ápice para que a vítima denunciasse seu agressor ocorreu após uma “visita” que ele fez ao seu trabalho, querendo levá-la para uma rodovia, a fim de cometerem suicídio juntos. “Ele falava que devia morrer e que eu deveria ir junto pelo nosso amor, mas na verdade ele só não queria me deixar sozinha no mundo”, relata Mirian.
Apesar de tudo, Mírian não queria que seu agressor respondesse criminalmente pelos seus atos. Em respeito à história que tiveram juntos, seu único desejo era que ele fosse afastado dela.
Dificuldades encontradas para denunciar
De acordo com a Coordenadora da Patrulha Maria da Penha, Liliane Chociai, muitas mulheres não denunciam criminalmente por terem afeto pelo parceiro, segundo a coordenadora, “é algo difícil de romper” e por questões financeiras. “Quando ela chama uma viatura ela quer que o sofrimento pare, mas quando volta para casa, olha para a casa, para os filhos e se encontra numa situação em que o marido/namorado não deixava ela trabalhar. Ela se vê sem informação, sem capacitação e sem dinheiro, então não sabe o que fazer”, explica a coordenadora.
De acordo com Mirian, a vergonha e o afeto por terem uma família juntos, foram as principais dificuldades que ela enfrentou para denunciá-lo. “Não queria que ele fizesse escândalo, queria amenizar pela família", diz. Ela conta que gostaria que terminasse de forma harmoniosa, sem precisar fazer “escândalo” da mesma forma que ele fazia.
Mirian explica que não dormia, pois tinha medo de que em um momento de fúria o agressor fizesse o que prometia: matar a vítima “Eu dormia por sono mesmo, eram 03 da manhã ele tava me perguntando sobre o meu amante (que nem existia)” afirma a vítima.
“Ele foi afastado de mim, a patrulha tirou ele da casa. Eu demorei para denunciar e se fosse para denunciar tudo que ele me fez e me faz até hoje eu teria muita coisa contra ele, mas não queria prejudicar o outro da mesma forma que fui prejuicada” afirma Mirian.
Ela também conta sobre a vergonha que sentia ao passar pelas agressões e ter que dividi-las com outra pessoa. “Eu sou uma profissional, estudada e me deixei passar por isso” explica. Outra dificuldade encontrada foi o temor pela vida: a vítima pensava que, “se esse homem for preso, ele volta sem nada a perder e me mata".
Descumprimento de medida protetiva de urgência
Mesmo quando as mulheres denunciam, outra dificuldade pode ser encontrada após a denúncia, como o descumprimento da medida protetiva de urgência (MPU) por parte dos agressores. Em Ponta Grossa, no ano de 2021 houveram 157 violações, em 2022 foram 179 e em 2023, até o mês de março, foram 71 casos de medidas de proteção urgentes violadas.
Número de casos
Dados da Agência Estadual de Notícias apontam que, aproximadamente, 30 mil mulheres já receberam medida protetiva de urgência do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR). Segundo a pesquisa do DataSenado “Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher — 2021”, cerca de 75% das vítimas não denunciam o agressor por medo e 18% moram com seus agressores.
Em Ponta Grossa, de acordo com a Prefeitura Municipal da cidade, em 2021 cerca de 410 mulheres foram acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha (PMP) após sofrerem algum tipo de agressão. Já em 2022 o número de mulheres atendidas pela PMP era de 819 mulheres. No ano de 2023, até o mês de março, 260 mulheres tiveram acompanhamento da PMP.
A Patrulha Maria da Penha é uma iniciativa criada pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa com a Secretaria Municipal de Cidadania e Segurança Pública e Guarda Municipal, que assiste mulheres em situação de violência.A PMP pode ser acionada pelo número 153. Após o atendimento a patrulha continua o trabalho com acompanhamento, visitas periódicas às mulheres em situação de violência.
Arte: Amanda Dal´Bosco
Ficha técnica:
Reportagem: Camila Ribeiro
Edição: João Vitor Pizani
Publicação: Vittória Mulfait
Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos