Doença pode resultar em condições mais graves, como diabete tipo 2, aumento no colesterol, hipertensão e até levar a óbito
Os índices de obesidade infantil cresceram em Ponta Grossa nos últimos anos. Segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) que cobrem crianças de 5 a 10 anos de idade, em um período de 4 anos, entre 2018 e 2022, houve um aumento de mais de 550% no número total de casos. O crescimento da obesidade infantil é multifatorial, mas especialista aponta a mudança nos hábitos alimentares, como o consumo excessivo de industrializados, que foram agravados pela pandemia.
No ano de 2018, houveram 414 casos, número que subiu para 1920 casos em 2019. A coleta de dados foi afetada durante o auge da pandemia, em 2020, e apenas 188 casos foram registrados. Contudo, os dados coletados nos dois anos seguintes mostram que a tendência de aumento no número de casos continuou: em 2021, foram 2745 casos, enquanto o ano de 2022 teve 2820 registros.
O aumento da obesidade infantil também foi registrado no estado do Paraná. Segundo o site do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), os dados do mesmo período apontado anteriormente mostram que, em 2018, haviam 20.286 crianças acima do peso. Esse número mais do que dobrou em 2022, com 44.267 registros.
A nutricionista Ana Paula Pinheiro, conta que também notou esse crescimento nos casos de obesidade infantil em seu consultório no ano de 2022. De acordo com a nutricionista, o período em casa durante a pandemia pode ter resultado no ganho de peso de muitas dessas crianças. Isso ocorre por conta do grande tempo passado em casa, juntamente de questões psicológicas, como por exemplo a ansiedade, o que resultou em hábitos alimentares não tão saudáveis por parte de muitas pessoas.
Ana Paula explica também que existe uma facilidade maior em buscar por alimentos industrializados. “Antigamente, as comidas eram mais naturais e eram feitas em casa”. A nutricionista conta que hoje em dia as comidas industrializadas possuem muitos conservantes, e uma quantidade maior de açúcar e sódio, que são ingredientes que contribuem para o aumento de casos de obesidade entre as crianças. “Hoje temos muitos produtos industrializados, que conquistam o paladar das crianças”, analisa. Bolachas, salgadinhos e macarrão instantâneo, por exemplo, são alimentos que se encaixam nessa situação. A facilidade e a falta de tempo das famílias em preparar o alimento de forma natural em casa faz com que as crianças ganhem peso. “Não só a criança, mas a família toda”, pontua a nutricionista.
Outro problema mencionado por Ana Paula Pinheiro, são os Fast Food, que atualmente permitem um acesso mais fácil a comidas industrializadas, por serem feitas de forma rápida e pela presença em diversos lugares. A nutricionista ressalta que esses alimentos quando consumidos diariamente podem oferecer riscos à saúde, e elevar o peso da população em geral, em especial das crianças, pois são alimentos que conquistam o paladar, fazendo com que diminuam o consumo de comidas saudáveis
Devido à inexistência de um peso ideal para crianças, o diagnóstico é feito utilizando o peso e altura da criança, o chamado índice de massa corporal (IMC), sendo levado em consideração também a genética da família. O diagnóstico é importante pois a condição pode levar a outros problemas, como diabete tipo 2, colesterol e a hipertensão, que, sem o devido tratamento, podem se agravar e possivelmente levar a óbito. “Geralmente, a criança segue os exemplos da família, então é natural se a família está com sobrepeso a criança também vai estar, porque ela vai comer os mesmo alimentos que os pais comem”, analisa Ana Paula. Por isso, em casos de obesidade infantil, o ideal é que toda a família melhore seus hábitos alimentares, e não apenas a criança.
Ana Paula Pinheiro ressalta que existem políticas públicas, mas que são poucas e que o foco dessas campanhas deveria ser em escolas, uma vez que “a educação nutricional tem que ser feita desde que a criança começa a comer”. Porém, a nutricionista considera que a indústria alimentícia é muito forte e consegue pagar para que as pessoas sejam bombardeadas de propagandas sobre seus produtos. “Você não vê no mercado nenhuma propaganda grande de maçãs, mas você vê uma propaganda grande de Bala Fini”, comenta.
Ana Paula considera que a criança que sofre de obesidade infantil pode carregar isso para a vida adulta, especialmente se os hábitos alimentares não forem corrigidos.“Se a criança come errado na infância, ela vai comer errado na vida adulta”. As principais consequências que essas crianças sofrem, tanto em casa como nas escolas, são a falta de locomoção, baixa autoestima e até mesmo o bullying, além de outras doenças que podem ser fatais, como citado anteriormente. A nutricionista explica que hoje as pessoas preferem comprar alimentos prontos em vez de preparar sua comida, por conta da vida mais corrida e agitada, preferem adotar uma alimentação rápida. “A lasanha em si não é o problema, mas a lasanha congelada pronta sim”, aponta. De acordo com Ana Paula, o problema real fica por conta dos conservantes, que fazem mal, e são muito presentes nesses alimentos.
Alimentação nas escolas
Ana Paula destaca a importância da educação alimentar em casa e nas escolas. A criança que aprende sobre a alimentação saudável na escola, vai trazer esse hábito para casa também. A nutricionista cita que em hospital é feito um trabalho voluntário a respeito de educação alimentar. Afinal, a educação alimentar deveria ser cultura, muitos hábitos alimentares que não são saudáveis ainda estão enraizados na nossa sociedade e precisam evoluir, conclui Ana Paula.
Nas escolas, os estudantes têm duas opções de alimentação: a merenda ou os lanches vendidos nas cantinas. Segundo a lei estadual 14.855/05, é proibido a venda de alimentos como bala, pirulitos, refrigerantes, salgados fritos e outros industrializados, com o objetivo de oferecer opções mais saudáveis aos estudantes.
Ana Julia Stein, de 14 anos, contou que estuda no Colégio Regente, onde costuma ser vendido salgados, sorvetes e sucos, além da merenda oferecida na hora do lanche. A estudante comenta que não compra o lanche com frequência, pois prefere comer em casa. Mas esse não é o caso do estudante Guilherme de Castro, de 17 anos, que contou que compra somente os salgados vendidos no colégio. O adolescente pontua que come esses salgados somente no colégio e evita consumir ao longo da semana, por ser atleta. Outros estudantes comentaram também que tentam não consumir muito o lanche vendido, mas que às vezes compram na escola ou em lanchonetes próximas.
A nutricionista explica que independente da venda desses lanches ser proibida nas escolas, eles devem sempre ser consumidos com moderação. “Pense em você comendo diariamente uma minipizza toda manhã, não é saudável. Além da minipizza possuir embutidos, como a calabreza”. Consumir esses lanches, diariamente, pode prejudicar a saúde da criança, pois não é mais saudável que a merenda escolar.