Além de identificar a situação de violência, é importante que as vítimas contem com uma rede de apoio e acionem a Lei Maria da Penha quando necessário
A violência contra a mulher é o terceiro indicador mais registrado no Brasil, atrás apenas de crimes com arma de fogo e ações policiais, de acordo com dados da Rede de Observatórios. No ano passado, a cada 35 minutos, uma mulher foi agredida no país. No estado do Paraná, foram registrados 44 mil casos de violência doméstica, além de um aumento em 30% nos casos de feminicídio.
O principal tipo de violência contra a mulher encontrado em nosso estado e no Brasil é a violência doméstica. Em pesquisa realizada pela reportagem foi identificado que mais de 70% das mulheres já sofreram assédio na rua, mais de 70% já sofreu assédio em demais espaços públicos e mais de 50% das mulheres relataram deixar de frequentar alguns lugares por medo de uma situação de assédio. A pesquisa foi realizada por meio de um formulário pelo Google Docs e obteve resposta de cinquenta mulheres com faixa etária entre 16 e 45 anos. Durante a pesquisa, uma das perguntas foi se a mulher já havia passado por uma situação de violência, e foi identificado que cerca de 8% das mulheres não sabem reconhecer se sofreram violência em situações de assédio ou relações abusivas.
Aira Vieira* (nome fictício) passou seis anos vivendo em uma situação de violência doméstica, relatou que era como uma relação normal no início e o agressor começou a controlar a sua vida com o decorrer do tempo, “Ele entrava na minha cabeça, fazia com que eu me sentisse culpada pelas brigas, pelas roupas que eu usava, pelas minhas amizades, me chamava de louca, maluca”.
Logo, as situações de violência começaram a acontecer. A vítima contou que insistia na relação porque acreditava que aquele era apenas o jeito do então companheiro e que não percebia o quanto ele fazia mal para ela e sua filha. Ela contou ainda que as piores partes são a identificação do abuso na relação, a falta de bem-estar, o recomeço após o término devido ao sentimento de culpa constante e a dificuldade de conseguir se amar após o trauma, algo doloroso e difícil. A vítima ressaltou também a importância de uma rede de apoio para conseguir superar a relação abusiva e para não voltar a situação de dependência e violência.
O psicólogo e especialista em comportamento, Derek Kupski Gomes, diz que a vítima volta para a situação de violência em muitos casos quando há algum tipo de dependência. “Há muitos casos em que a pessoa se sente dependente do agressor. Por isso, tem muita dificuldade de manter o afastamento do agressor”, aponta. Ele ainda reforçou que uma maneira de ajudar para que a vítima não volte para esse relacionamento é por meio da psicoeducação. Isso é feito mostrando que é melhor se manter afastada, que ela está em um estado vulnerável e que é possível que aquela situação volte a acontecer outras vezes. O psicólogo também destacou a importância de uma rede de apoio à vítima e de um acompanhamento psicológico especializado contínuo.
Formas de conter a violência contra a mulher
Outro meio para que as mulheres saibam reconhecer e evitar relações abusivas é entender o chamado ciclo de violência que é dividido em três fases: aumento da tensão, ato de violência e “lua de mel”.
A primeira fase é caracterizada pelo aumento da tensão: o agressor mostra-se tenso e irritado por coisas insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. Ele também humilha a vítima, faz ameaças e destrói objetos.
A segunda fase é o ato de violência: corresponde à explosão do agressor, ou seja, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento. Aqui, toda a tensão acumulada na primeira fase se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial.
A terceira fase, conhecida como “lua de mel”, se baseia no arrependimento e no comportamento carinhoso, que se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando o casal tem filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, enquanto ele diz que “vai mudar”.
Além de compreender este ciclo, outro recurso importante é contar com a Lei Maria da Penha, criada em 2006, que prevê diversas formas de coibir a violência. Uma delas é a medida protetiva de urgência que tenta afastar o agressor da vítima e aparar a vítima de possíveis dependentes.
Ponta Grossa conta com a Casa da Mulher que oferece acolhimento e atendimento às vítimas de violência. Também existe a patrulha Maria da Penha, programa da guarda municipal da cidade que acompanha 610 mulheres. A cidade ainda tem uma delegacia da mulher. Todos esses têm como objetivo oferecer suporte, segurança e acompanhamento para que a vítima de violência não fique desamparada.
Aira Vieira* é um nome fictício por segurança e a pedido da fonte, por isso, esta não terá seu nome identificado nesta reportagem.
Ficha técnica:
Reportagem: Emelli Schneider
Edição: Emelli Schneider e Gabriela Oliveira
Publicação: Gabriela Oliveira
Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos