O reajuste deste ano tem pesado mais no bolso de quem usa medicamentos com frequência 

O mês de abril foi marcado  pelo aumento no preço dos medicamentos para os consumidores. O Governo Federal aprovou, no dia 31 de março de 2023, que o valor dos remédios só poderiam aumentar em até 5,6%, de acordo com o índice definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Porém, o encarecimento dos fármacos no Paraná é maior, alcançando a média de 6% a 8%.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), esse reajuste  nos preços dos produtos das drogarias é justificado pelos custos crescentes de produção, armazenamento e distribuição dos medicamentos. A pandemia da COVID-19 também afetou o mercado das farmácias, com crescimento  na demanda por medicamentos e  escassez de matérias-primas.  

Além disso, o Paraná aumentou a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para medicamentos, que passou de 18% para 19%. Embora o reajuste deste ano tenha pesado no bolso do consumidor, não é o maior dos últimos anos. Em 2022, o aumento foi de 10,89% e em 2021 foi de 10,08%, mas ainda assim, o reajuste deste ano está mais alto do que em 2020 (5,21%), 2019 (4,33%), 2018 (2,43%) e 2017 (4,76%).

O representante de um laboratório farmacêutico com 9 anos de experiência, José Luciano, afirma que os preços dos medicamentos são reajustados todos os anos no Brasil e que a procura pelo medicamento também pode influenciar na elevação ou diminuição do preço. José Luciano relata que existe um cálculo chamado preço máximo ao consumidor (PMC), que é o custo máximo estipulado para a venda do remédio. Contudo, quando a procura aumenta, os laboratórios diminuem ou retiram os descontos, o que leva ao aumento do valor de compra.

No Brasil, o governo controla o custo dos medicamentos por meio de políticas de regulação de preços, o que tende a manter os valores mais baixos. Contudo, essa estratégia nem sempre funciona, já que algumas empresas podem elevar  os preços em outras áreas para compensar as perdas de lucro nos remédios. A falta de concorrência no mercado farmacêutico também pode contribuir para o aumento nos preços dos fármacos. Algumas empresas detêm o monopólio de produção de determinados medicamentos e podem cobrar valores excessivos, já que não há outras opções mais acessíveis no mercado.

Entre os remédios que sofreram os maiores aumentos neste ano estão os analgésicos, os medicamentos para tratamento de doenças cardiovasculares e os medicamentos para o tratamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Diante disso, consumidores têm buscado alternativas para economizar nas compras de remédios, como a procura  por genéricos e similares, a compra em farmácias populares ou a busca por descontos em programas de fidelidade. No entanto, especialistas alertam que a troca por alternativas mais baratas não deve comprometer a segurança e a eficácia dos fármacos. É importante sempre consultar um médico ou farmacêutico antes de substituir um medicamento por outra opção mais em conta.

 

Como o aumento afeta a população?

O aumento nos preços dos medicamentos nos últimos anos têm afetado diretamente o bolso dos consumidores. Pacientes que dependem de medicamentos para tratar doenças crônicas estão tendo dificuldades para arcar com os altos custos. Leide Mara Schmidt, de 73 anos, conta que antes do reajuste gastava entre 700 e 1.000 reais por mês em medicamentos e agora gasta de 1.000 a 1.400 reais mensais com os remédios que toma. “Os medicamentos para diabetes, principalmente as canetas de insulina que uso, são caras”, pontua.

Ademais, o aumento nos preços dos remédios pode levar a uma sobrecarga financeira para as famílias, especialmente aquelas com renda mais baixa. Isso pode afetar negativamente a qualidade de vida e o acesso a outros recursos essenciais, como alimentação e moradia.

Neste ano, o salário-mínimo vai ter reajuste de 1,3% em maio, subindo de 1.302 reais para R$1.320. A cesta básica também aumentou de preço, 0,13%, custando cerca de R$679,76 no Paraná. Analisando os dados é possível perceber que um salário-mínimo não supre todas as necessidades de uma pessoa. Muitas vezes, é necessário escolher entre uma coisa ou outra no mês.

Essa escolha precisou ser feita por Maria de Fátima Teixeira, que antes era professora e agora está desempregada. Durante a pandemia, por morar sozinha, ela desenvolveu depressão, mas logo começou a tratar. Com o fim do isolamento, ela perdeu o emprego e não consegue mais bancar o tratamento. “Eu entrei novamente em depressão profunda por não ter dinheiro para comprar os remédios, ou compro eles (os remédios) ou compro comida”, explica.

heloisa ribas bida foto 1O mês de abril foi marcado  pelo aumento no preço dos medicamentos para os consumidores Foto: Heloisa Ribas

 

Outro fator que pode ser afetado pelo aumento no preço dos medicamentos é o sistema de saúde como um todo. Os planos de saúde e o sistema público  podem ser sobrecarregados pelo aumento nos custos dos fármacos, o que pode afetar a disponibilidade de outros serviços.

Shanna Rebonato, enfermeira do sistema público de saúde, explica que muitos pacientes deixam de comprar os remédios certos por não ter dinheiro para custear. “Não só sobrecarrega o SUS como um todo, mas também interfere no processo de cura do paciente”, declara. 

A enfermeira também explicita que, quando um paciente opta por ir atrás dos medicamentos nos postos de saúde, geralmente não os encontra. “Nos postinhos não tem remédios de alta complexidade, muitas vezes tem só o básico”. Ela reforça que isso prejudica o tratamento, alongando o prazo de cura, o que pode, inclusive, agravar o quadro ou a doença.

Além disso, a alta do custo no setor farmacêutico pode afetar negativamente a pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. Isso porque muitas empresas precisam aumentar os preços dos remédios para compensar os altos custos de pesquisa e desenvolvimento, o que pode desencorajar a inovação e a criação de novos tratamentos.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Heloisa Ribas Bida

Edição: Carolina Olegario e João Vitor Pizani

Publicação: Camila Souza

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos