O machismo estrutural reflete nas homenagens publicadas nos diários oficiais da cidade
A Prefeitura e a Câmara dos Vereadores de Ponta Grossa aprovaram 112 concessões de títulos de cidadania, cidadão benemérito, nomeação de espaços públicos e de utilidade pública em 2022. Entre todas as homenagens concedidas, apenas 23 foram destinadas a mulheres, enquanto outras 77 foram prestadas a homens. A câmara concedeu ainda outras 10 a instituições que prestam serviços na cidade. Esses números revelam um reconhecimento limitado às mulheres na cidade. O levantamento foi realizado a partir dos registros nos Diários Oficiais da cidade em 2022.
O reconhecimento limitado das mulheres pela escassez de homenagens está atrelado ao machismo estrutural, conforme analisa a co-vereadora pelo Psol e integrante da Frente Feminista de Ponta Grossa, Ana Paula Melo. “Importante dizer que o machismo é estrutural, assim você percebe que o machismo se expressa em todos os aspectos da sociedade, e que se manifesta também nesses números em que os homens recebem mais homenagens do que mulheres pela Câmara”, afirma. Ana Paula, destaca que dos 19 vereadores, apenas 3 são mulheres, portanto, para ela não é incomum a existência de discursos parlamentares que têm um viés machista, mesmo que camuflado.
Das 23 mulheres que receberam os títulos na Câmara, quatro foram homenageadas como cidadãs honorárias, três como cidadãs beneméritas e 16 tiveram seus nomes atribuídos a espaços públicos. A distinção entre cidadão honorário e cidadão benemérito é de que o primeiro título é conferido a personalidades que não são residentes na cidade que a homenagem será concedida, enquanto o segundo, benemérito, é destinado àqueles que são domiciliados no município há mais de 10 anos. Já as nomeações de espaços públicos são uma forma de homenagem póstuma. No caso dos homens, dos títulos concedidos, 27 foram para cidadãos honorários, quatro para cidadãos beneméritos e 46 receberam a honraria de terem seus nomes atribuídos a espaços públicos.
A quantidade limitada de mulheres homenageadas remete a desigualdade de gênero. Para Ana Paula, esse número baixo de representatividade é uma das coisas que alimentam o sistema patriarcal e a cultura misógina. “De fato, vivemos uma sub-representação das mulheres na política institucional e isso faz com que as pessoas acreditem que os homens são mais dignos de homenagens por serem mais homenageados pelos seus representantes. Como se as mulheres não tivessem capacidade de serem homenageadas”, analisa.
Conforme estabelecido pela Lei Municipal 4331/89, a concessão de títulos de cidadania honorária ou qualquer outra honraria pode ser atribuída a qualquer pessoa, residente ou não na cidade, desde que tenha prestado algum serviço ou contribuição em prol da Sociedade Ponta-Grossense. Esses títulos são concedidos a serviços de “caráter público, assistencial, educativo, cultural, artístico, desportivo ou sócio-comunitário”.
Ficha técnica:
Reportagem: Alex Daniel Dolgan
Edição: Kailani Czornei
Publicação: Kailani Czornei
Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos