População do Distrito de Itaiacoca enfrenta dificuldades para manter os custos com poço artesiano
De acordo com o Instituto Trata Brasil, cerca de 30 milhões de brasileiros não têm acesso ao fornecimento de água adequado. Próximos a esta realidade, os moradores do Passo do Pupo, no Distrito de Itaiacoca, enfrentam dificuldades no abastecimento das casas. Com cerca de 55 casas afetadas, o problema impacta o cotidiano de, aproximadamente, 165 moradores daquela região.
Elaine Scudlarek mora na região há mais de 40 anos. Ela explica que a Prefeitura de Ponta Grossa construiu, na comunidade, um poço artesiano para fornecimento de água para a população. A obra foi concluída entre 2005 e 2008, mas após a entrega aos moradores, a responsabilidade de manutenção e cuidado do poço foi transferida à comunidade. Porém, por falta de instrução, o abastecimento integral das moradias é prejudicado. “A partir de quando a Prefeitura terminou o poço ela disse ‘vocês se virem’, cuidem, se estiver estragado, vão lá e corram atrás”, revela.
A moradora conta ainda que o Passo do Pupo enfrenta obstáculos no abastecimento. Ela destaca que os principais motivos são devido ao desconhecimento sobre a operação do sistema do poço, a insuficiência de água para abastecer a comunidade, além da contaminação causada.
Caixa d’água com tampa de cimento e uma suspensa feita de ferro dificulta manutenção e afeta a qualidade da água | Foto: Larissa Del Pozo
Associação de Moradores
Na tentativa de solucionar as demandas da comunidade, Elaine e sua cunhada, Tânia de Oliveira Scudlarek, assumiram a responsabilidade de fundar a Associação de Moradores da comunidade do Passo do Pupo. Segundo Tânia, a motivação para criá-la deu-se após um problema na bomba do poço. O processo de criação ainda depende de ajustes na documentação para se oficializar. No entanto, assim que concluída, seu objetivo inicial é resolver o problema de abastecimento da região.
Para a funcionária da lanchonete Parada Boa Sorte, Josiane Rodrigues, a iniciativa para a criação da associação de moradores tem sido positiva para a resolução de problemas da comunidade. Além disso, ela ressalta que a contribuição de vinte reais solicitada mensalmente pela Associação contribui para que os moradores tenham um fundo financeiro em caso de emergências.
Segundo Tânia, a associação também deseja monitorar o encanamento principal do poço, por conta da coloração da água possuir variações, tornando-se avermelhada à medida que a bomba é ligada. Elaine revela que os moradores ficaram responsáveis por fazer a ligação da água para as próprias residências e espera que, com a associação, todos consigam acesso à água potável. “A água do poço não chega em todas as casas, não são todas que tem relógio e, quando fizeram a ciclovia, mexeram no encanamento, então não sabemos como está”, expõe a moradora.
Planejamento urbano
De acordo com Elaine Scudlarek, quando o poço foi entregue, ainda existiam poucas casas na comunidade. A água canalizada chegava apenas em uma região principal onde se concentravam as residências. Conforme Elaine, durante a instalação da ciclovia Estélio Viatroski, que liga o bairro Uvaranas à localidade do Passo do Pupo, aconteceram mudanças no sistema de canalização de água da região, mas não sabe ao certo o que foi modificado.
Segundo o representante do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Ponta Grossa (Iplan), Pedro Boldrini Zammar, ao longo da obra da ciclovia foi necessário modificar algumas das estruturas de abastecimento de água da comunidade. Pedro expôs a necessidade da ampliação de galerias pluviais e a realização de bueiros para a drenagem da água. O representante afirma que tais mudanças não estavam previstas no projeto inicial, mas foram fundamentais para não comprometer o abastecimento na região.
Qualidade da água
De acordo com Tânia, a água usada pelos moradores varia entre a “água do mato”, vinda de uma nascente e a água do poço artesiano. Ela revela que existe a necessidade de misturar a água do poço com a da nascente para chegar em todas as residências. “Se ficarem somente com a água do poço não será garantido que seja suficiente para manter a comunidade”, lamenta.
Além disso, Elaine expõe que a limpeza das caixas d’água também é uma dificuldade. Por se tratar de duas caixas d’água com tampas de cimento e uma suspensa feita de ferro, não se sabe como está a qualidade da água no interior dos reservatórios, mas revela a presença de uma coloração avermelhada da água.
De acordo com a proprietária da conveniência Passo do Pupo, Julina Rodrigues, a criação do poço colaborou para que parcela da comunidade tivesse acesso a água potável.
Entretanto, ela concorda que as condições de manutenção das três caixas d’água são um risco para a qualidade da água. Moradora da região há 18 anos, ela revela que percebe as mudanças na coloração da água, entretanto expõe que nunca adquiriu problemas de saúde por conta disso. “A água da nascente é amarela, mas a gente já se acostumou. Só que quando vem a água do poço ela vem com gosto e cheiro de ferrugem”, revela a moradora.
Tânia, destaca que quando o poço foi inaugurado a água recebeu a qualificação de potável. Porém, ela acredita que com as dificuldades de manutenção e limpeza das caixas d’água e do poço artesiano a qualidade da água esteja comprometida.
Bomba do poço
Segundo Elaine, a comunidade passou por problemas na bomba do poço por conta da falta de instrução após a instalação. Ela revela que a ativação e desativação da bomba ainda é feita somente pelo disjuntor, pois a empresa terceirizada responsável pela instalação do poço não ensinou o manuseio correto do equipamento. “Como a empresa instruiu só um morador, disseram que para simplificar já deixariam tudo arrumado para ele somente ligar o disjuntor”, comenta.
De acordo com Tânia, mesmo após a notificação à Prefeitura da necessidade da troca do equipamento, o órgão retornou com a afirmativa de que as manutenções eram de responsabilidade da comunidade. Nesse contexto, Elaine completa: “já aconteceu de queimar a bomba e a gente não tinha dinheiro para arrumar. Fomos de casa em casa pedindo R$ 200,00 por família para poder arrumar outra bomba”. Segundo as moradoras, a comunidade desembolsou R$ 3.500,00 para realizar uma das manutenções no equipamento.
Ficha técnica:
Reportagem: Larissa Del Pozo
Edição: Gabriela Oliveira
Publicação: Rafaela Colman
Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos