A iniciativa contou com a participação de movimentos populares do campo e da cidade e representantes políticas
As reuniões da Frente são mensais e acolhem novos participantes | Foto: Victor Gabriel Schinato
“Lutar pelo direito a todas as mulheres de viverem livres da opressão patriarcal, da discriminação e de todos os tipos de violência”. O trecho faz parte da Carta de Compromisso apresentada pela Frente Feminista de Ponta Grossa durante o lançamento do evento "Mulheres em Luta, em defesa da democracia", realizado no Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) em 23 de março. O evento foi promovido pelo projeto de extensão Elos: Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, Grupo de Pesquisa Jornalismo e Gênero e outras 17 entidades dedicadas à defesa dos direitos das mulheres.
Ana Paula de Melo, co-vereadora de Ponta Grossa pelo Mandato Coletivo do PSOL, foi uma das organizadoras da Frente Feminista. Ela comentou que a iniciativa surgiu durante as reuniões entre as mulheres que organizam atividades relacionadas ao mês da mulher em março. “A gente falou sobre a necessidade de uma frente, um espaço que abordasse essas pautas, não só no mês de março (..) a gente pretende que seja duradouro”. A escolha de lançar a Frente Feminista no evento da UEPG foi estratégica, pois o público presente era majoritariamente jovem, composto por estudantes e, principalmente, mulheres. Ana acredita que é nas novas gerações que o feminismo se populariza e ganha força.
Isabela Guimarães, da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), apontou a necessidade de debater a violência contra as mulheres tanto no âmbito doméstico quanto nos casos obstétricos. “Devemos ser mais firmes nas orientações, pois a gente mesmo acaba, não sabendo o que fazer (nessas situações)”. Ela defende a criação da frente como uma forma de ampliar a luta em prol das mulheres na cidade, pois acredita que atualmente essa luta é limitada.
Outra pauta defendida por integrantes do movimento é a emancipação financeira por meio da terra. Adriana Prestes, representante do Movimento Sem Terra (MST), destaca a necessidade de reconhecimento das mulheres como produtoras dentro da agricultura. Ela também ressalta que a frente foi muito bem vinda à população de Ponta Grossa e acredita que ainda há muito a ser divulgado nesse novo espaço de debate para que mais mulheres tenham acesso aos seus direitos.
O Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais (ISNEC), que compõe a nova frente, luta pelo direito da pessoa negra, especialmente no que diz respeito aos direitos das mulheres negras. Cristiane Zelenski, integrante do projeto, defende que é preciso ampliar as discussões sobre o feminismo, pois muitas pessoas ainda têm uma visão limitada sobre o assunto. Para ela, “a luta feminista não é mulheres contra homens, é a luta pelo direito de existir, de viver, de terminar um relacionamento e sobreviver depois do término, é o direito de uma mulher preta ser vista como gente, não só como braço de trabalho, desumanizada”. Cristiane espera que a Frente Feminista promova ações práticas e objetivas, buscando desmitificar o movimento.
Para a vendedora Lauriana Martins, uma área em que a Frente Feminista deveria trabalhar é na saúde, para garantir o acesso efetivo das mulheres a exames preventivos de câncer de mama e de útero. Já para a vendedora Christiane Chrestani, o acompanhamento emocional para mulheres que sofrem violência doméstica é uma questão precária na cidade e deveria receber a atenção do movimento.
Atualmente, a Frente Feminista conta com cerca de 50 pessoas e realiza reuniões mensais. Entre os tópicos discutidos estão: estrutura e funcionamento do coletivo e debates de pautas levantadas, como a defesa do aborto legal e o protocolo de atendimento às mulheres vítimas de violência. De acordo com as organizadoras, mulheres interessadas em participar do movimento poderão se filiar à Frente, bastando entrar em contato com alguma das organizações participantes.
Ficha técnica:
Reportagem: Joyce Clara e Loren Leuch
Edição: Maria Eduarda Leme e João Vitor Pizani
Publicação: João Vitor Pizani
Supervisão de produção: Muriel Amaral, Fernanda Cavassana de Carvalho e Marizandra Rutilli
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos