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Mulheres participam em corrida de kart em Ponta Grossa | Foto: Milena Miranda dos Santos

Por meio de redes sociais e projeto de extensão universitário, acadêmicas se inserem no automobilismo

 

Menino brinca com carrinho e menina com boneca, ou então quem nunca ouviu o ditado “mulher no volante, perigo constante”? Essas idéias refletem a dificuldade masculina em reconhecer a mulher no meio dos carros. Até março de 2023, de acordo com os dados disponíveis no site do Ministério dos Transportes, apenas 35% das mulheres no Brasil possuem habilitação. No país, Maria José Pereira Barbosa Lima e Rosa Helena Schorling foram as primeiras mulheres habilitadas e ganharam o direito de assumir o volante do carro, em 1932. Nas categorias de corrida de automobilismo a participação das mulheres vem crescendo,  entretanto, na principal categoria do setor, a Fórmula 1, não há nenhuma mulher pilotando dentre os 20 pilotos que ocupam o cockpit.

A predominância masculina atrás do volante é notória tanto nas corridas quanto nas ruas, como demonstra o número de habilitações no Brasil. No caminho para conquistar seu lugar no automobilismo, as mulheres precisam ser resistentes. É o caso de Aurélia Nobels, que faz parte da Ferrari Driver Academy e participa da F4 Italiana, uma das categorias de acesso para a Fórmula 1. E também de Antonella Bassani, a primeira mulher a vencer uma corrida na Porsche Cup classe Sprint Challenge, em 04 de junho deste ano, no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Goiânia (GO). Além de pilotas, outras mulheres procuram se afirmar no meio, como engenheiras e jornalistas.

 

Correndo contra o relógio

O ramo da engenharia e da mecânica eram vistos como carreiras majoritariamente masculinas, fato que segue em desconstrução ao longo dos anos. A estudante de engenharia mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Nicole Baêta, se diz apaixonada por carros. Em função do curso, ela faz parte do BAJA Vitória, projeto de extensão que faz monopostos off-road, um tipo de veículo gaiola idealizado para corridas. Além de estudar engenharia, Baêta também é a pilota da equipe, fato que ocorreu devido ao apoio e incentivo dos homens de sua equipe, os quais ela relata que a ajudaram a aprender como pilotar.

No meio da comunicação, a estudante de jornalismo, Maria Claro Castro, de 21 anos, possui 6.910 seguidores no Twitter. Ela chamou a atenção de uma agência, que a convidou para estagiar na área em 2021. O destaque aconteceu quando Castro começou a crescer nas redes sociais durante a pandemia, momento em que as categorias de F1, F2 e F3 retornaram. “Eu comecei a trazer muitas informações, fiz uma coisa super básica mas que ninguém tinha feito antes que era de traduzir informações, de categoria de base principalmente”, comenta. Maria conta que focou na produção de informações sobre os brasileiros que integram as categorias de base - a F2, F3, Formula Regional Europeia. Desde então Maria já cobriu corridas de base no final de semana Grande Prêmio de Mônaco, um dos principais e mais antigos circuitos de categorias de Fórmula, além de ser editora no CAR Magazine e no site F1 Mania.

 

Ainda um longo caminho a percorrer

Maria Claro Castro conta que durante o período em que está inserida nesse meio, o preconceito por ser mulher se expressa em pequenas ações e falas. “São microviolências que às vezes as pessoas nem percebem”, aponta. Ela conta que  alguns questionamentos são recorrentes, como qual piloto é seu namorado, qual o piloto favorito e citar algum piloto considerado bonito no meio, como se fossem “gracinhas”. Apesar disso, Castro relata que sempre se sentiu bem vinda nos autódromos em que esteve presente.

Já Laíssa Ijotton de 20 anos, que acompanha Fórmula 1 desde criança, comenta que ainda ouve comentários desagradáveis por parte de homens quando fala que gosta de automobilismo. “Infelizmente na sociedade em que vivemos ainda é natural a gente sofrer o preconceito. Escuto vários comentários, como qual o piloto que você acha mais bonito ou então em que ano aconteceu tal acidente, quem foi campeão em tal ano?”, relata. Ela fala que comentários como esses são formas de homens tentar diminuir o apreço das mulheres por este esporte.

No meio da engenharia, Nicole Baêta aponta que nunca sofreu algum tipo de preconceito desde que entrou no projeto BAJA Vitória. “É comum na nossa equipe ter mulheres e respeitam muito as mulheres, tanto em competição quanto em qualquer meio”.

 

Rumo a igualdade nas corridas

Algumas ações estão em atividade para integrar e melhorar a posição feminina dentro do automobilismo. Neste ano, a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) criou a Comissão Feminina do Automobilismo (CFA), presidida pela pilota Bia Figueiredo. A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) desenvolve o projeto Girls On Track como forma de promover a igualdade de gênero, capacitando as participantes nas diferentes áreas que envolvem o automobilismo. A FIA também projetou no ano passado a F1 Academy, categoria de monoposto exclusivamente feminina, contando com 21 corridas, cinco equipes e 15 pilotas.

 

Ficha técnica

Reportagem: Amanda Dal'Bosco

Edição: Lincoln Vargas e Diego Chila

Publicação: Lincoln Vargas e Diego Chila

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos