Alunos e professores se unem em projeto para amenizar problemas de saúde pública

 

Segundo a ONU, em função da falta de  dinheiro para produtos básicos, meninas de baixa renda que vivem a menarca são mais vulneráveis à precariedade menstrual. Dentre os principais fatores da pobreza menstrual estão a falta de informação sobre a higiene feminina e a dependência dos familiares para obter o absorvente, item considerado superficial, em relação a outras necessidades. No mundo, uma em cada dez meninas faltam às aulas durante o período menstrual. No Brasil, o número é ainda maior: uma entre quatro alunas já deixou de ir à escola por não ter absorventes.

Conforme os dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013, do IBGE, a falta do absorvente pode afetar o desempenho escolar das jovens estudantes, que deixam de frequentar as aulas e recebem faltas por não terem acesso a itens básicos de higiene feminina. Os dados da pesquisa mostram que quase 3% das meninas entre 10 e 19 anos deixaram de fazer determinada atividade, como estudar, trabalhar ou até brincar, por problemas menstruais.

Por estarem em fase de crescimento, os ciclos menstruais das meninas que tiveram menarca há pouco tempo ainda são irregulares. Assim, nem sempre a menina está preparada para a menstruação, podendo ocorrer incidentes que a tornam alvo de preconceito. Para a professora de História, Ieda Leci, apesar da escola fornecer absorventes para as meninas que tiveram um fluxo inesperado, “Não há itens de higiene o suficiente para distribuir durante todo o ciclo menstrual das estudantes”, explica. Dessa forma, os professores e funcionários do Colégio Estadual General Osório colaboram com o projeto Coisas de Menina e doam itens de higiene pessoal, como absorventes e papel higiênico. 

 

O PROJETO

A professora comenta que a iniciativa para o projeto Coisas de Menina partiu de estudantes do nono ano do ensino fundamental em 2022, pois algumas meninas ficavam uma semana sem frequentar a escola. “Ao assistirem às aulas de ciências, as alunas tiveram acesso a informações que deram embasamento teórico para desenvolverem o projeto e conhecerem mais sobre si mesmas”, conta Ieda. A professora afirma que faltam políticas públicas para obter itens básicos de higiene na escola. “Com o projeto vêm palestras, conversas e orientações. Eu não sabia que esse problema atingia as meninas. Para mim, isso partir das próprias estudantes é admirável, já que a obrigação não é delas”, acrescenta.

A diretora do Colégio General Osório, Marivete Souda, diz que as discentes decidiram trabalhar o autoconhecimento, autoestima, educação sexual e pobreza menstrual. O projeto da escola foi elaborado com inspiração em projetos que as alunas conheceram pela internet. “Elas estão fazendo um trabalho social de informar umas às outras sobre o próprio corpo e a informação chega para todas as meninas por meio do projeto”, relata. 

Marivete afirma que, muitas vezes, os familiares não conversam sobre questões íntimas com os jovens e a função de informar fica para a escola. A professora de ciências auxiliou as meninas com o embasamento teórico necessário, já que, conforme ela, a pobreza de informação também é um problema  “Às vezes elas não sabem coisas simples, como colocar um absorvente. Assim, a gente previne gravidez na adolescência, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) e promove o autocuidado”, conclui a diretora.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Daphinne Pimenta

Edição: Camila Souza e João Paulo Fagundes

Publicação: Camila Souza

Supervisão de produção: Manoel Moabis

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos