Cidade possui opções de destinos naturais, mas nem todo mundo consegue acessá-los.

Ponta Grossa, cidade com 30 destinos turísticos culturais, religiosos e naturais, conta com sete lugares de ecoturismo, incluindo o Buraco do Padre, Cachoeira da Mariquinha, Canyon do Rio São Jorge, Furnas Gêmeas, Parque Vila Velha, Refúgio das Curucacas e Represa dos Alagados. Embora o site da Secretaria Municipal de Turismo apresente descrições convidativas e detalhadas sobre cada local, não há informações sobre a acessibilidade desses destinos turísticos.

Embora fotos bonitas e endereços possam ser suficientes para uma parcela da população decidir seu destino, para pessoas com mobilidade reduzida é necessário um esforço duplo para saber se os lugares são minimamente preparados para recebê-los com segurança. Para pessoas com deficiência, idosos e pessoas com obesidade, é necessário acessar os sites de cada destino e buscar informações sobre acessibilidade. O Parque Vila Velha apresenta, dentro da descrição de cada um dos atrativos, uma imagem que informa se é possível acessar a área mesmo com a mobilidade reduzida, sendo o único a apresentar tal facilidade.

Arte

Em 2009, o governo federal reconheceu que grupos com mobilidade reduzida são excluídos do mundo do turismo, a afirmação está presente na cartilha “Turismo Acessível: uma introdução a uma viagem de inclusão”, de autoria Ministério do Turismo em parceria com a Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência. Segundo o documento, essas pessoas “encontram dificuldades para se adaptarem às instalações e equipamentos nas edificações turísticas e espaços de lazer, ao mesmo tempo em que encontram prestadores de serviços sem qualificações específicas para um atendimento diferenciado”.

Flavia Novaski, que utiliza uma cadeira de rodas, visitou o Parque Vila Velha pela primeira vez ainda em 2018, quando o parque ainda era de responsabilidade do poder público. Hoje em dia, as atividades foram concedidas pelo governo estadual para uma empresa privada: a Soul Vila Velha, parte do grupo empresarial Soul Parques. No ano em que visitou o parque, teve uma experiência negativa com a equipe de funcionários, por meio do comportamento do guia turístico que estava acompanhando o passeio: “Ele foi grosseiro com a gente, queria que o passeio fosse muito rápido”, explica. 

Em 2018, Flavia recebeu a recomendação para que não realizasse o passeio completo por sua própria segurança. Na época, os espaços com acessibilidade disponível para pessoas com mobilidade reduzida eram a parte da frente dos arenitos e a Lagoa Dourada. Pamela, representante da comunicação do Parque Vila Velha confirma que esses espaços são preparados para receber o público: “Temos uma estrutura de apoio que conta com cadeira de rodas à disposição das pessoas com dificuldade de locomoção e ônibus adaptados”, informa. O site do parque indica que o trajeto dos arenitos é acessível até a taça, atrativo mais famoso do espaço. Outros espaços, como as furnas e o arvorismo, não possuem a estrutura necessária para atender pessoas com mobilidade prejudicada.

O gestor do Parque de Natureza Buraco do Padre, Alvaro Fernandes Dias Filho, explica que o parque conta com quatro cadeiras adaptadas que são emprestadas para visitantes sem custos adicionais, o que possibilita o acesso à trilha principal que vai até o Buraco do Padre. Mesmo com as cadeiras, Dias Filho detalha que ainda existem partes do parque que não são acessíveis, como a Trilha do Favo, que sobe uma escarpa em uma elevação de 90 metros. O gestor explica que, nessa área, é proibido construir rampas ou elevadores, por se tratar de um ambiente rochoso e de preservação. “Não aumentamos a acessibilidade por conta da impossibilidade de intervenção humana na paisagem e do investimento altíssimo que teria que ser feito para levar uma pessoa até a parte de cima da escarpa”, afirma.

Fabiane Aleixo e William Gabriel Cruz são irmãos que compartilham suas viagens juntos em uma página no Instagram, mostrando como os dois se locomovem, já que Gabriel tem que fazer uso da cadeira de rodas e necessita da ajuda da irmã. Em 2020, os dois visitaram o Buraco do Padre e compartilharam a experiência por meio de fotos e textos na rede social. Em uma das legendas, Fabiane afirma que foi até o parque quando o local ainda não tinha as adaptações necessárias. “Quando comecei a andar pelo trajeto até a cachoeira, era um misto de adrenalina com angústia, alegria e tristeza, pois sabia que o Gabriel não iria conseguir conhecer aquela cachoeira ao mesmo que alguém o carregasse no colo até lá”, afirma.

Diante  de uma segunda visita mais recente, feita com o irmão, Fabiane comenta em uma das legendas que pessoas com deficiência precisam da sensação de liberdade e independência, de sentir que podem ir onde quiserem. “O Buraco do Padre é um lugar incrível  e que agora possui uma acessibilidade fantástica. Meu irmão se sentiu livre, acredito que como nunca antes”, comemora. 

O gestor do Refúgio das Curucacas, Guilherme Forbeck, afirma que o local está em uma fase de adaptação para acessibilidade, e não considera que o atrativo é 100% acessível. Atualmente, é possível fazer a visitação da furna grande, pois há um acesso operacional que é habilitado para atender os casos específicos. O parque também está iniciando uma parceria com outra empresa para que possam ser utilizadas cadeiras que permitam que cadeirantes acessem trilhas. “Esbarramos na parte do investimento. Apesar de termos 7 anos de funcionamento, não temos o montante para investimento para que façamos as adaptações na íntegra”, afirma. Forbeck cita como exemplo de ponto negativo do parque os banheiros, que ainda não possuem barras de apoio nem o vaso sanitário adequado.

 

Ficha técnica:

Produção: Maria Helena Denck

Publicação: Kailani Czornei e Manuela Rocha

Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos

Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli