O modelo oferece disciplinas optativas e foi aprovado sem debate, mas continua sendo implementado nas escolas

O novo ensino médio está em vigor há dois anos no Brasil, esse modelo traz mudanças na grade curricular e a oferta de matérias optativas, sendo implementado nas escolas públicas e particulares de todo o país. A lei  13.415/2017 estipula o aumento progressivo da carga horária. No modelo anterior, eram, no mínimo, 800 horas-aula por ano (2.400 horas no ensino médio inteiro). No novo modelo, a carga deve chegar a 3.000 horas ao final dos três anos. No novo formato, as disciplinas foram agrupadas em áreas de conhecimento: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Neste ano, os alunos podem escolher o conjunto de disciplinas nas quais pretendem se aprofundar. A intenção é que sejam três anos de estudo com os conteúdos eletivos focados nos objetivos pessoais e profissionais dos alunos e  a parte fixa focada nas áreas do conhecimento. 

Cada rede de ensino tem liberdade para distribuir a carga horária dos itinerários formativos ao longo dos três anos. Antes da reforma, o ensino era para a formação superior e agora é voltado para o mercado de trabalho para que os alunos tenham mais de uma opção. Sancionado em 2017, a nova metodologia tem previsão para ser implementada até 2024, impactando o ENEM, que em  2024 contará com uma etapa exclusiva voltada a área que o estudante optar. Para o novo modelo, é ofertado  o “projeto de vida”, que será oferecido nas escolas para ajudar os jovens a entender suas aspirações. Em debate desde que foi anunciado, o novo ensino médio recebe duras críticas da comunidade escolar, principalmente da rede pública de ensino. Por outro lado, há opiniões divididas, muitos defendem a revogação total do novo modelo e outros apenas ajustes.

Conforme a professora de química do Colégio Cívico Militar Frei Doroteu de Pádua, Taciane Fatia de Camargo Mocellin, muitos professores estão trabalhando no escuro, sem saber como será o próximo semestre. Ainda há dúvidas sobre como será a cobrança em vestibulares, uma vez que o novo ensino médio está em caráter experimental. A professora acredita na melhora desde que tenha uma discussão mais ampla, planejamento e estrutura. Taciane  contou que, com o novo modelo, sente que está fingindo dar aula. “Sinto como se estivesse fazendo de conta que estou dando aula. Não vejo retorno em questão de conhecimento e aprendizado tendo em vista que as aulas se tornaram muito superficiais”, disse.  

Estudante do colégio, Larissa Luise Dzuba é da primeira turma a ingressar no novo modelo. Atualmente, no segundo ano, ela conta que, por mais que os alunos tenham chance de estudar aquilo que se identificam, o modelo é mal planejado. “Matérias que não fazem sentido, remoção de disciplinas essenciais como filosofia, sociologia e artes. Sobrecarga em conteúdos e a falta de suporte para os professores que não são especializados nas novas matérias oferecidas”, contou a aluna.

Diferente do colégio público, os colégios particulares se adaptaram bem ao novo modelo de ensino. Uma das coordenadoras pedagógicas do Colégio Sepam de Ponta Grossa, Gisele Guerisson, explica que, no colégio, eles seguem o que é pedido na legislação. De acordo com Gisele, o novo ensino médio permite desenvolver novas habilidades nos alunos, algo que antes não era possível. Mesmo o novo ensino médio tendo uma carga horária maior, a coordenadora acredita que para melhor funcionalidade, o novo modelo deveria ser integral para que não haja perda de conteúdo nas disciplinas. “Se tivesse período integral, seria o ideal porque encaixaria todas as disciplinas sem perder qualidade. Mas, como não é possível, foi preciso fazer ajustes”, afirma. 

Em meio às muitas críticas, o novo modelo tem sido  debatido no atual governo. No último dia 3, os secretários estaduais de educação fecharam uma proposta com mudanças no novo modelo. Outro ponto defendido, é a possibilidade de reduzir a carga horária das disciplinas optativas e aumentar as matérias básicas obrigatórias. A reportagem tentou contato com o Núcleo Regional de Educação para esclarecimentos sobre o modelo, mas não obteve respostas até o encerramento desta matéria.

 

Ficha técnica:

Produção: Emelli Schneider

Edição de texto: Camila Souza e Gabriela Oliveira

Publicação: Eduarda Guimarães e Heloisa Ribas Bida

Supervisão de produção: Manoel Moabis

Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli