Colaboração entre escolas e profissionais especializados melhora experiência educacional de crianças autistas
Em 2021, cerca de 300 mil crianças com autismo estavam matriculadas em instituições de ensino. Imagem: Amanda Dombrowski
O número de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados em instituições de ensino têm crescido nos últimos anos, lançando luz sobre a importância do diagnóstico precoce e da busca por ajuda profissional no desenvolvimento educacional. Apesar do período escolar ser particularmente desafiador para crianças autistas, a criação de um ambiente inclusivo exerce influência significativa na aprendizagem dos alunos.
De acordo com dados do último censo escolar, em 2021, aproximadamente 300 mil estudantes com autismo estavam matriculados em instituições de ensino públicas e privadas no Brasil, abrangendo desde a educação infantil até o ensino médio. Esses números representam um aumento de 280% em relação aos registros de 2017, que contabilizavam cerca de 77 mil alunos.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio que afeta o neurodesenvolvimento e pode levar a dificuldades nas áreas de comunicação e interação social. De acordo com a psicóloga Alana do Nascimento Oliveira, o autismo não tem cura, mas o fornecimento de estímulos adequados e intervenções necessárias podem melhorar a qualidade de vida e adaptabilidade social dos indivíduos.
A psicóloga explica que indivíduos dentro do espectro autista frequentemente enfrentam desafios em vários aspectos do desenvolvimento e adaptação, especialmente durante o período escolar. Nesse estágio, podem surgir dificuldades em se adaptar à rotina, absorver estímulos e adotar métodos de aprendizado tradicionais, o que justifica a necessidade de planos educacionais individualizados.
Elisiane de Oliveira Tratch, que atua como coordenadora pedagógica da educação infantil em um colégio privado em Ponta Grossa, destaca o papel central das escolas na identificação de sinais: “Isolamento em sala de aula, dificuldades de comunicação e desafios na fala são indicadores que chamam nossa atenção”, explica.
Atualmente, a escola possui 12 alunos da educação básica diagnosticados com autismo. Esse número equivale a 7,90% dos alunos matriculados. Antes da pandemia, a média era de apenas um a dois alunos autistas em toda a educação infantil na instituição. Segundo Elisiane, os profissionais da escola nunca oferecem um diagnóstico, mas sim compartilham suas observações e preocupações com os pais, para que possam buscar ajuda especializada.
Ela ressalta que o diagnóstico é essencial para o planejamento educacional em relação a cada criança, a partir do qual a escola pode adaptá-lo para atender às necessidades individuais. Algumas crianças requerem apoio adicional, como tutores em sala. A pedagoga destaca também a importância da colaboração com psicólogos e terapeutas para fornecer o suporte necessário para que as crianças possam prosperar em ambiente escolar.
William Rocco é pai de dois filhos gêmeos de quatro anos que estudam em um Centro Municipal de Educação Infantil – CMEI em Ponta Grossa. De acordo com ele, a comunicação com os pais e a compreensão por parte da escola é positiva, mas faltam auxiliares pedagógicos específicos para as crianças autistas: “A prefeitura não tem dado esse apoio. Não fornece esses professores”.
Segundo William, a prefeitura envia às escolas um profissional para avaliar as crianças durante uma hora e determinar se elas precisam de auxiliar específico. “Às vezes o auxiliar chega justo na hora em que o aluno está tranquilo, não quando a criança precisa trocar a fralda ou desenvolver uma atividade mais complexa. Então, a partir dessa uma hora de convívio, eles julgam que não é necessário o fornecimento de auxiliar pedagógico”, relata.
Dangriani dos Santos é mãe de Gabriel, um menino autista de 7 anos que frequenta o terceiro ano do ensino fundamental. Este ano, Gabriel trocou a escola privada em que ele estudava por uma escola da rede pública. Segundo Dangriani, ele estava infeliz porque a demanda de atividades era muito grande e a escola não proporcionava um ambiente inclusivo para crianças autistas.
O psicólogo de Gabriel pediu para que ele trocasse de escola, mas que desse preferência para uma escola municipal. Dangriani relata que a mudança foi positiva: “Meu filho virou outra criança, ele está menos estressado, menos cansado. Hoje ele está em classe apoio e tem aula com uma professora que tem curso em inclusão para crianças com TEA, coisas que não tinha na escola antiga”, afirma a mãe.
Ficha técnica:
Produção: João Vitor Pizani
Edição de texto: Lincoln Vargas
Publicação: Lincoln Vargas
Supervisão de produção: Manoel Moabis
Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli