No primeiro semestre de 2023 ocorreram cerca de 300 ocorrências de vandalismo ao patrimônio público em Ponta Grossa

 

Recentemente, a estátua de Tiradentes, localizada na Praça Barão do Rio Branco em Ponta Grossa, foi alvo de pichações durante a madrugada do dia 21 de Julho. Os vândalos utilizaram tinta vermelha para marcar a estátua, danificando a região dos olhos e parte de trás da estátua. Esse não é um incidente isolado. Também em Julho, um adolescente foi apreendido em flagrante por pichar a marquise do campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). 

Segundo o Secretário Municipal de Meio Ambiente, André Pitela, durante o primeiro semestre de 2023, aconteceram cerca de 300 depredações nos espaços públicos da cidade, entre quebrar e arrancar objetos, e pichações. Ponta Grossa conta com 220 praças, sendo 86 desses espaços com algum equipamento, como campo de futebol, brinquedos ou academia ao ar livre. Pitela comenta sobre o surgimento de um departamento específico para cuidar das praças cadastradas no sistema da secretaria, "O Departamento de Parques e Praças foi transferido para nós nesta gestão, ele estava na Secretaria de Serviços Públicos, e em Julho de 2021, veio para a Secretaria de Meio Ambiente".

O vandalismo em patrimônios públicos é um problema que afeta diversas cidades ao redor do mundo. Monumentos históricos, prédios governamentais, espaços públicos e outras estruturas de valor cultural e social são alvos de depredação. No Brasil, a destruição de patrimônio público é considerada crime conforme o artigo 163 do Código Penal, que prevê punições para aqueles que destroem, inutilizam ou deterioram bens e serviços de entidades municipais, estaduais ou federais.

Os prejuízos da depredação resultam em uma perda. Não apenas do ponto de vista econômico, uma vez que a restauração e reparo do patrimônio público exigem investimentos da Prefeitura, mas também no que se refere à identidade cultural e histórica da cidade. "Em relação ao vandalismo, é bem complexo visto que a pixação é um dos atos mais redundantes, porque é uma manifestação que resulta em um gasto público, jogando dinheiro público fora", reforça André Pitela.

 

Restauração da estátuda de Tiradentes na praça  Barão do Rio Branco Foto: Vittória Mulfait

 

As praças desempenham um papel fundamental no desenvolvimento urbano, proporcionando espaços públicos de encontro, lazer e integração social. Desde os tempos antigos, esses locais têm sido centros de atividades culturais, recreativas e políticas, tornando-se um ponto de referência para os cidadãos e visitantes. Existem diversas razões que destacam a importância das praças para uma cidade: lazer e recreação, preservação ambiental, promoção de cultura e arte, atratividade turística. Entretanto, segundo relatos, a segurança é uma preocupação para quem frequenta a praça Barão do Rio Branco, não desempenhando seu principal papel como espaço público.

 

Praça Barão do Rio Branco

Josiane Felipe é artesã de produtos infantis e feirante há muitos anos. Ela conta que há duas décadas vende seus produtos na Praça Barão do Rio Branco e expressa preocupação com a diminuição de clientes ao longo dos anos e sugere a unificação das feiras da cidade como uma maneira de revitalizar o espaço. "Eu acho que deveria unir as feiras da cidade e fazer uma só aqui, pra ter mais pessoas circulando", relata Josiane. Ela destaca o papel das câmeras de segurança no auxílio à segurança, porém, reconhece a persistência de problemas, "ainda temos as câmeras, que nos ajudam um pouquinho, mas assim mesmo tem pessoas que usam drogas, e roubam quem está na praça", aponta.

Kelly Starosta, mãe que frequenta a praça semanalmente com seu filho, destaca a importância da segurança para as famílias que desejam desfrutar do espaço público. Ela aponta para as áreas da praça que evitam devido ao perigo do local, ressaltando a necessidade de atenção constante ao frequentar a praça. "Pelo meio da praça não tem como passar, só pelas pontas, no meio da praça é perigoso, pelos usuários de drogas, assaltantes, a atenção tem que ser maior", afirma Kelly.

 

Praça Barão do Rio Branco. Foto: Vittória Mulfait

 

Enquanto alguns defendem a necessidade de reforçar medidas de segurança, outros apontam sobre a sensação de pertencimento e o potencial de lazer desse espaço público. Segundo André Pitela, a praça Barão do Rio Branco sempre foi uma espaço de passagem, e que outros locais mais frequentados, como Lago de Olarias e Parque Monteiro Lobato, seriam espaços de lazer. "Por isso as pessoas não têm o sentimento de pertencimento com a praça, justamente por ser um espaço transitório de passagem", afirma Pitela.

Lucas Adami, doutorando em Geografia (UEPG) e integrante do Grupo de Práticas de Pesquisas Qualitativas em Geografia (UEPG), afirma que a praça Barão do Rio Branco não é tão convidativa para atividades de lazer quanto poderia ser, e explica o que faz a praça ser considerado um espaço de passagem."Esse espaço de passagem se dá através de duas perspectivas: até que ponto aquele espaço é convidativo para a prática de lazer, e o que esse espaço público nos oferece para vivenciar aquele espaço, só ter um parque para as crianças, não quer dizer que isso seja um convite", aponta.

Lucas, destaca como ações culturais reforçam a interação social e acredita que a identificação dos frequentadores e uma reestruturação do aproveitamento do espaço são cruciais para redefinir a dinâmica da praça. "A gente tem que identificar quem são as pessoas no entorno daquele espaço público, quem são as pessoas que cruzam, e então replanejar o aproveitamento do espaço", analisa.

Apesar de serem duas praças localizadas no centro de Ponta Grossa, existem muitas diferenças entre o Parque Ambiental e a praça Barão do Rio Branco. Segundo relata Adami, "O parque ambiental por exemplo agrega eventos musicais, ações da prefeitura, ações de desenvolvimento sociais, então ele tem um universo de elementos que fazem com que tenha um convite ao convívio".

A Praça Barão do Rio Branco demonstra algumas complexidades enfrentadas como espaço público funcional em Ponta Grossa. É evidente que ações coordenadas, como reforçar a segurança e promover atividades culturais e de lazer, podem ajudar a transformar essa praça de passagem em um espaço de convívio, pertencimento e cultura, que atenda tanto às necessidades dos cidadãos quanto à revitalização urbana.

 

Ficha técnica:

Produção: Vittória Mulfait

Edição de texto: Rafaela Colman

Publicação: Rafaela Colman

Supervisão de produção: Manoel Moabis

Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli