Iniciativas divulgam a literatura preta nas periferias
O Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura (Promific) aprovou, para a execução até 2024, projetos que tratam da decolonialidade nas artes, com ênfase na literatura preta realizada na periferia. Dentre os projetos contemplados está “A Glória do Meu Quilombo - A Importância de Carolina Maria de Jesus”, de autoria da atriz Ligiane Ferreira e do Ateliê Criativo. A proposta da iniciativa é de realizar apresentações teatrais, exposições e palestras em escolas da periferia do município. Ligi, como prefere ser chamada, acredita que pelas palestras e outras atividades do projeto é possível trazer à tona a história do Quilombo Sutil, localizado entre Ponta Grossa e Palmeira. “A gente tem um quilombo, é da minha família, ela tá lá ainda. Essa história não é contada, e eu preciso contar essa história enquanto atriz e artista”, afirma Ligi sobre a origem do projeto, que começou após a morte de seu pai.
Em consenso entre pesquisadores da área, se define por decolonial tudo aquilo que desafia a ideia de que a colonização acabou, é a luta contra as contínuas colonialidades impostas a minorias. Desta maneira, figuras históricas pertencentes a grupos minoritários se tornam marcos de existência decolonial, como é o caso de Carolina Maria de Jesus.
A importância da escritora na literatura brasileira é assunto de outra iniciativa contemplada pelo Promific, o “Círculo de Leitura de Mulheres para Mulheres” , com autoria de Fernanda Burgath, Ligiane Ferreira e Indianara Oliveira. A proposta busca realizar leituras entre mulheres da Central Única das Favelas (Cufa), Cáritas Diocesana, Centro Pontagrossense de Reabilitação Auditiva e da Fala (Cepraf) e Ocupação Ericson John Duarte. No projeto, além do clássico “Quarto de despejo”, de Carolina de Jesus, serão trabalhados as obras “Meu livrinho vermelho”, que trabalha temas como a primeira menstruação, gravidez, e outros; “A menina que virou lua”, de Cardoso Morena, que aborda a sabedoria ancestral feminina na utilização de ervas.
“Nós fizemos a curadoria de livros que contam histórias de mulheres reais, especialmente Quarto de despejo. Até pelo formato diário, não é somente ler para essas mulheres, é apresentar essas histórias a elas e fazer com que elas sejam tocadas pelas ideias e elas mesmas contêm suas próprias histórias”, afirma Fernanda sobre a razão para tal seleção de livros.
Mesmo sendo contempladas nos projetos, as idealizadoras não perceberam o pluralismo em outras edições do programa. Ligiane e Fernanda afirmam que os editais de cultura de Ponta Grossa não são acessíveis e representativos. “Uma das discussões que a gente tem visto nas conferências de cultura, é que os editais sejam reformulados e haja cotas para pessoas negras, povos originários, imigrantes”, comenta Fernanda.
Joice Aline Jorge, diretora da Companhia Municipal de Dança, que já foi avaliadora e participante de editais afirma que a lei Aldir Blanc foi o primeiro passo na diversificação de editais no cenário estadual. “Precisa chegar o acesso às pessoas. O conselheiro não vai até a colônia quilombola, até as pessoas pretas”, afirma Joice.
Lançado em outubro de 2022, o quarto edital do Promific, selecionou 19 projetos para o recebimento de bolsas de 16.000, 25.000 e 54.200,00 reais. Dos 19, quatro estão em funcionamento, e cinco em lista de espera na classificação do edital.
Ficha técnica:
Produção: Victor Gabriel Schinato
Foto: Kailani Czornei
Edição de texto: Laura Urbano Janiaki
Publicação: Iasmin Gowdak
Supervisão de produção: Muriel Amaral, Fernanda Cavassana e Marizandra Rutili
Supervisão de Publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutili