A construção das edificações estão datadas entre os anos de 1898 a 2004
O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Ponta Grossa (COMPAC) realizou o tombamento de oito prédios localizados em diferentes pontos do município. A sessão pública aconteceu no dia 19 deste mês às 14h30min durante o evento ‘PG Memória no Lago de Olarias’. A decisão foi publicada em Diário Oficial no dia 04 de agosto. São considerados Patrimônios Culturais móveis, imóveis, material ou imaterial que representem valor cultural, histórico, artístico, paisagístico, dentre outros.
Os prédios que foram analisados na sessão são: Casa Comercial Irmãos Menezes, Boteco da Estação, Princesa Assistência, Cine Teatro Pax, Casa Eclética, Casa Branca, Corpo de Bombeiros (edificação no centro da cidade) e Gruta Santa Mônica. Das edificações mencionadas, três apresentavam impugnação ao tombamento. A construção dos edifícios está datada entre os anos de 1898 a 2004 e possui características variadas, como o estilo Art Déco, Eclético ou Modernista. Cinco dos edifícios se encontram no centro de Ponta Grossa, um no bairro de Oficinas, na vila Santa Mônica e no distrito de Guaragi.
A decisão de tombamento preliminar dos edifícios foi publicada em maio do Diário Oficial. Após o parecer oficial, os proprietários são notificados para a contestação ou não do tombamento do imóvel. Durante esse período até a decisão final, os imóveis indicados não podem ter suas características originais da arquitetura alteradas, é o que aponta Johnny William, um dos diretores do Departamento de Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura. “Durante esse período, o proprietário é impedido de demolir a edificação ou fazer modificações que alterem a arquitetura original. O proprietário pode apresentar impugnação, mas a decisão final fica somente com os conselheiros do COMPAC”, explica.
Localização das edificações para tombamento | Infográfico: Leonardo Duarte
Para Jeferson Navolar, conselheiro federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o tombamento é uma forma de preservar a história da sociedade. Ele explica que a história da civilização pode ser contada a partir da interpretação dos vestígios deixados pelas gerações e as edificações são os objetos que mais facilmente exercem esta função por carregarem significados da sua trajetória no tempo. “Uma sociedade que não preserva seu passado, não projeta o seu futuro”, comenta.
Conforme a Lei Nº 8431 para um patrimônio ser tombado é necessário haver 70% de votos favoráveis dos 21 conselheiros presentes, ou seja, se 14 conselheiros do total defenderem o patrimônio, entrará para o inventário de tombamento do município.
Os oitos prédios foram tombados ao final da audiência pública. Durante a sessão a Casa Eclética, Princesa Assistência e a Casa do Guaragi receberam impugnação de tombamento, mas ainda sim foram tombados. A casa Modernista e a casa Branca, não receberam impugnação, mas os proprietários estiveram presentes para defender seu ponto de vista contrário ao tombamento alegando que não há incentivo municipal para os prédios tombados. Na casa do Guaragi os donos disseram não ser contra o tombamento mas que atualmente o prédio se encontra deteriorado e eles não possuem recursos para o restauro, por isso apresentaram a impugnação. Ainda segundo a legislação, prédios tombados têm 70% de desconto no IPTU.
Patrimônios Históricos: o abandono e a preservação
Segundo a lei que dispõe sobre o patrimônio cultural em Ponta Grossa, cabe ao proprietário do bem tombado a conservação, sem que seja descaracterizada sua arquitetura original. Qualquer reparo ou reforma deve ser notificado ao COMPAC para que seja aprovado.
Para alguns proprietários essas determinações da lei podem ser vistos como empecilho, é o que diz Vitória Gabriela de Oliveira, especialista em museografia e patrimônio cultural. “O imóvel pode ser vendido ou alugado, mas ele deve ser preservado e por ser um bem cultural, os órgão públicos cobram a preservação, o que de certo modo é chato para o proprietário”, pontua.
Vitória ainda explica que há determinadas regras que um bem tombado deve seguir. “Para a conservação, o prédio deve ter determinada paleta de cores de pintura, a preservação do original, são processos bastante exigentes. Esses detalhes fazem com que os proprietários abandonem o imóvel. Para não ocorrer o abandono deve ser explicado as vantagens que o tombamento oferece”, complementa.
A ocupação dos espaços das cidades é regrada pelo Poder Público dos municípios. A produção da arquitetura por parte da iniciativa privada, quando executada para fins de comercialização, também deve seguir o regramento posto por legislação urbanística. “Para uma cidade sem legislação de preservação do seu patrimônio histórico edificado é presa fácil do mercado imobiliário”, pontua Jeferson. Em Ponta Grossa, a lei que determina a preservação de patrimônios históricos é a Nº 8431.
O edifício Torre Brasil tem incorporado a sua estrutura a fachada da antiga escola dos ferroviários de Ponta Grossa | Foto: Leonardo Duarte
Para o mercado imobiliário, há interesse sobre o valor comercial no terreno em que se situam edifícios tombados ou históricos. Alguns desses prédios se concentram nos centros urbanos devido ao processo de urbanização de cada localidade.
Recentemente, um dos edifícios do conjunto arquitetônico da Rua 15 de Novembro, no centro da cidade, foi demolido para a construção de um estacionamento. Com características arquitetônicas em Art. Déco, as edificações foram construídas antes da metade do século XX e teve o tombamento rejeitado pelo COMPAC em 2020. Outra edificação demolida foi uma casa azul construída em 1922 localizada na rua Comendador Miró, ao lado do Clube Estância, que no ano passado completou 100 anos.
A expansão imobiliária entre os anos de 1012 a 2022 cresceu cerca de 7 milhões de m2 segundo dados da Secretaria de Planejamento de Ponta Grossa. Ao todo a secretaria emitiu mais de 40 mil alvarás para construção de diferentes edificações. Do ano passado até este ano foram autorizadas 350 alvarás para a construção de prédios com mais de cinco andares.
Vitória Gabriela explica que o mercado visa o lucro. “Para o mercado imobiliário é mais lucrativo acabar demolindo um prédio histórico, para eles sem valor econômico, comparado a construir um edifício residencial ou comercial”, pontua.
Para além do interesse imobiliário, a demolição dessas edificações causa importantes perdas para a sociedade. “Quando um prédio histórico tombado ou não é demolido afeta o aspecto de paisagismo urbano ou cultural porque se perde ali um pedaço da memória da cidade, da história coletiva”, comenta Vitória Gabriela.
A residência ou comércio pode se adaptar ao bem tombado e inovar a depender dos diferentes graus de tombamento. O grau 01 diz respeito em preservar os aspectos externos de uma construção. O grau 02 é sobre mudanças na edificação com o passar dos tempos, mas possível de reparos. O tombamento em grau 03 pode haver intervenção interna e externa no prédio de forma harmônica com o conjunto urbano, mas preservando a arquitetura.
Um exemplo de inovação imobiliária que preserva o patrimônio tombado com o crescimento urbano é o edifício Torre Brasil, situado próximo a Feira do Produtor. "Ali ficava a Escola Tibúrcio Cavalcante e envolve a história da ferrovia na cidade. Manteve-se a fachada da antiga escola ferroviária e junto a isso teve essa nova construção. A gente consegue manter o antigo com o novo", explica Vitória Gabriela.
Histórico dos edifícios tombados
- Casa Comercial irmãos Menezes:
Construída em 1898, a casa de esquina está situada no distrito de Guaragi e possui estilo italiano em alvenaria com aproveitamento de sótão. Em 1925 funcionou uma Bodega pertencente ao Sr. Felipe Justus Sobrinho. Em 1950, o esposo da filha do Sr. Justus passou a administrar o comércio até 1980. No local eram vendidos tecidos, cereais, ferramentas, calçados e outros. Em 2000 o comércio deu lugar a uma sala de exposições chamada “Sala da Saudade Entre Rios”.
- Boteco da Estação
A casa de alvenaria situada no centro da cidade foi construída em 1928, pertenceu ao Sr. Leonardo Szesz que trabalhou na Rede de Viação Paraná-Santa Catarina e posteriormente abriu um armazém em sua residência. Sua família montou a primeira indústria de madeiras em Ponta Grossa e é dona de outras propriedades industriais da cidade.
- Corpo de Bombeiros
O edifício de dois pavimentos e uma torre central foi o primeiro corpo de bombeiros de Ponta Grossa, inaugurado em 1939. A importância para o processo de tombamento significa o crescimento e expansão econômica da cidade, que até então tais serviços eram dependentes da capital Curitiba.
O prédio do Segundo Grupamento de Bombeiro de Ponta Grossa foi construído em 1939 | Foto: Leonardo Duarte
- Gruta Santa Mônica
Em 1984, o então prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau, criou a vila Jardim Santa Mônica no bairro Jardim Carvalho. O residencial na época não possuía água encanada, os moradores então se abasteciam em uma nascente de água em uma pequena gruta que ganhou reconhecimento significativo para a comunidade e posteriormente denominada de Gruta de Santa Mônica. Posteriormente o local se tornou um espaço de lazer e em 2007 foi finalizada uma construção artificial de uma pequena caverna sobre a gruta.
- Casa Eclética
Com estilo Eclético e ornamentos a mão francesa, a casa foi construída antes de 1950 no centro de Ponta Grossa e abrigou importantes famílias da época. Antes dos anos de 1948 abrigou a família Moro, donos de vidraçarias. Até o ano de 1974 pertenceu à família de Victor Malucelli, um dos proprietários da então Firma Malucelli. Já abrigou comércios como escola de idiomas, tabacaria e atualmente um petshop.
- Cine Teatro Pax
O Cine Teatro Pax é uma obra idealizada por Frei Elias em 1955 antigamente destinada a ações educativas para a classe ferroviária. Construído no bairro de Oficinas no ano de 1956, o auditório possui capacidade para 400 pessoas. Os moradores do bairro ferroviário iam até o local assistir filmes e peças teatrais com viés educacional. Em 1961 um terreno foi doado onde hoje se encontra o atual edifício Pax, finalizado em 1964. Em 1980 fechou as portas pela baixa procura por cinema e a prefeitura passou a ter regência sobre a propriedade, chamando-a de Teatro Municipal. Em 2006 é doado para a UEPG.
- Casa Branca
Representa a chegada da arquitetura modernista em Ponta Grossa. Um dos marcos destes traços é a residência Álvaro Correia de Sá projetada pelo arquiteto Vilanova Artigas, edificação que foi rejeitada para tombamento e posteriormente demolida.
O edifício indicado para tombamento em questão possui telhado borboleta inclinado, fachada livre projetada para ser somente com janelas e elementos verticais que dão leveza e criam espaços abertos na edificação.
- Princesa Assistência
Com telhados e ornamentos à mão francesa, sua principal característica arquitetônica é a Art. Déco com parte inferior de alvenaria revestida por pedras. O imóvel representa a arquitetura típica do município até metade do séc. XX
Acervo Casa da Memória. Legenda: Planta arquitetônica da casa Princesa Assistência | Imagem: Acervo Casa da Memória
Com telhados e ornamentos à mão francesa, sua principal característica arquitetônica é a Art. Déco com parte inferior de alvenaria revestida por pedras. O imóvel representa a arquitetura típica do município até metade do séc. XX
Ficha técnica:
Produção: Leonardo Duarte
Fotos: Leonardo Duarte
Edição de texto: Emelli Schneider, Eduarda Guimarães e Heloísa Ribas
Publicação: João Paulo Fagundes
Supervisão de produção: Manoel Moabis
Supervisão de Publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutili