Entre 2022 e 2023, seis pessoas morreram em atropelamentos nas BRs 373 e 376
Detran registrou 408 atropelamentos em rodovias federais do Paraná no ano passado | Foto: Matheus Gaston
Ponta Grossa é reconhecida como um dos maiores entroncamentos rodoviários da região Sul do Brasil. Pela cidade passam as rodovias federais BR-373 e BR-376 que, entre os anos de 2022 e 2023, registraram 23 atropelamentos em seus trechos urbanos, de acordo com dados do 2º Grupamento de Bombeiros. Ainda segundo o levantamento, seis vítimas morreram.
Nos trechos urbanos dessas rodovias, é comum ver pedestres fazendo a travessia pela pista, principalmente funcionários de oficinas mecânicas e de comércios da região. Além disso, essas vias conectam bairros e vilas da cidade, o que aumenta ainda mais o fluxo de pedestres pelo local.
A ligação entre o Distrito de Periquitos e o bairro Nova Rússia, a Avenida Souza Naves (BR 373), registrou 11 atropelamentos em 2022. Ao todo, quatro pedestres perderam a vida. Um dos acidentes ocorreu em agosto do ano passado e matou dois homens. Em 2023, mais três pessoas foram atropeladas.
Mesmo com a existência de passarelas que conectam os dois lados da via, alguns pedestres se arriscam entre os veículos para fazer a travessia. Com 11 km de extensão, a Souza Naves possui apenas três estruturas próprias para a passagem de pessoas. Apesar de começar no distrito de Periquitos, a primeira passarela da avenida está instalada há 5 km do distrito, ao lado de um posto de combustível,entre os dois pontos há acessos para seis vilas.
A segunda passarela da Souza Naves está localizada a 2,3 km da primeira. Já a terceira fica a 1,7 km dali. Assim como a primeira, as outras duas passagens também foram construídas nas proximidades de postos de combustível.
De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), as três passarelas foram implantadas entre 1997 e 2003. As estruturas 1 e 2 foram construídas pela CCR Rodonorte, por meio do contrato de concessão rodoviária nº 075/97 Já a terceira passagem, de responsabilidade da Prefeitura de Ponta Grossa, foi levantada durante a gestão de Péricles Holleben de Mello.
Apesar de possuir 15 km de extensão e ligar o Contorno ao Distrito Industrial, a avenida Presidente Kennedy, (BR-376), tem apenas duas passarelas. As estruturas foram construídas em uma porção específica da rodovia entre os trevos de acesso à Nova Rússia e ao Santa Paula. Em boa parte do trajeto de 2,5 km, há muretas de concreto, telas e defensas metálicas instaladas entre as duas pistas para impedir a travessia perigosa de pedestres.
Entre 2022 e 2023, o 2º Grupamento de Bombeiros atendeu nove atropelamentos na Presidente Kennedy. No ano passado, dois homens morreram na via. Tanto no trecho urbano da 373 quanto da 376, a maioria dos acidentes envolvendo pedestres ocorreu durante o dia.
Construída pela CCR Rodonorte em 2002, a primeira passarela está localizada a 1 km do trevo da Nova Rússia, em um dos acessos ao Parque Dom Pedro II. A outra passagem para pedestres fica a aproximadamente 950 metros da primeira, conectando a Vila Raquel ao Jardim Maracanã. A estrutura também é de responsabilidade do governo municipal.
Segundo a engenheira Fabíola Adimari Cordeiro, o fluxo de pedestres na região, número de atropelamentos, existência de bairros, indústrias ou comércio à beira da rodovia são critérios levados em consideração na definição do local onde uma passarela será instalada.
A engenheira civil, Gabriela Severo, trabalha em uma empresa de terraplanagem às margens da 373. O trajeto até lá é feito de ônibus, pela linha Cristo Rei. Gabriela conta que há uma parada a cerca de 500 metros dali, só que do outro lado da rodovia. Assim, ela espera o coletivo passar para a outra pista para descer. “Eu fico 1h andando para chegar no trabalho. O ônibus vai para o bairro, fica um tempo parado e depois segue. Se eu tivesse coragem para atravessar a pista, ia gastar só 20 minutos”, explica.
Uma quase passarela
A construção de uma passarela estava prevista na Avenida Souza Naves. A instalação da passagem era uma das medidas compensatórias indicadas em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em outubro de 2019 entre o Ministério Público Federal (MPF) e o grupo Muffato, que inaugurou um empreendimento na via naquele mesmo ano.
De acordo com o TAC, a passarela deveria ser construída em até 24 meses a partir da indicação do local e da autorização expressa pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e pela CCR Rodonorte, grupo que era responsável pela concessão da rodovia. O prazo poderia ser prorrogado por até 90 dias, mediante justificativa técnica. Segundo ata da 04ª reunião extraordinária feita pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Ponta Grossa (IPLAN) em 2019, a estrutura seria instalada no KM 172 + 450 m, na interligação entre a vila Dalabona e o jardim Sabará.
Quase quatro anos se passaram desde o acordo e a passarela ainda não foi instalada. A reportagem do Periódico apurou que a estrutura não deve mais ser construída. Uma decisão monocrática assinada pelo subprocurador-geral da República, Eduardo Kurtz Lorenzoni, em março deste ano, aponta que a execução das obras de segurança não eram mais necessárias. Segundo Lorenzoni, intervenções decorrentes de um acordo de leniência entre a CCR Rodonorte e o Ministério Público Federal já teriam atendido aos mesmo objetivos do TAC. Em abril, a 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF decidiu pelo arquivamento do feito.
Das medidas previstas no TAC, apenas a revitalização asfáltica ocorreu | Foto: Reprodução
De acordo com a justificativa da procuradora Elena Urbanavicius Marques, depois da construção de um viaduto com trincheira em frente ao empreendimento, as pessoas passaram a utilizar a estrutura para fazer a travessia, o que teria diminuído o risco existente para pedestres naquele trecho da Souza Naves.
Retorno do MPF
Por e-mail, a reportagem questionou a 3ª Câmara de Coordenação e Revisão sobre a possibilidade de construção da passarela em outro ponto da BR-373. Em nota, o Ministério Público Federal explicou que ao entender que a instalação da estrutura no KM 172 + 450m seria desnecessária, o KM 173 + 550 m foi definido como novo local para passagem de pedestres. No entanto, de acordo com o MPF, a falta de espaço naquele ponto da avenida e a necessidade de realocação da rede elétrica de baixa e alta tensão tornaram a obra inviável.
Em nova reunião, o KM 173 + 600 foi indicado para receber a passarela. Porém, ainda segundo o órgão, a existência de rede elétrica em ambos os lados da rodovia impediu a execução do projeto. Como as condições do TAC foram alteradas em função da obra da CCR Rodonorte, o procedimento foi arquivado. O MPF também disse que não houve previsão de que o grupo Muffato fizesse a mudança na rede elétrica e manutenção necessária para a instalação da estrutura nos outros locais propostos.
Nova concessão, novas passarelas
O projeto de concessão do Lote 3 das Rodovias Integradas do Paraná prevê a construção de 38 passarelas nas BRs 369/373/376 e nas PRs 090/323/445. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), seis novas passagens devem ser construídas na Souza Naves e quatro na Presidente Kennedy.
Além das rodovias mencionadas ao longo da reportagem, a Senador Flávio Carvalho Guimarães, no bairro Boa Vista, deve receber três passagens para pedestres, as primeiras da via. A instalação das novas passarelas deve ser feita em até seis anos após a assinatura do contrato de concessão, prevista para o primeiro trimestre de 2025.
Ficha técnica
Reportagem: Matheus Gaston
Edição e publicação: Maria Eduarda Kobilarz e Júlia Andrade
Supervisão de produção: Manoel Moabis
Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos, Marizandra Rutilli e Maria Eduarda Ribeiro