Em contrapartida no estado, a União Paranaense dos Estudantes elege nova diretoria e demonstra força no movimento estudantil
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), encontra-se desativado desde 2019 e os acadêmicos da UEPG estão sem representação. Atualmente o movimento estudantil dos alunos da Universidade limita-se apenas aos Centros Acadêmicos (CA) e Diretórios Acadêmicos (DA), ficando somente a lembrança do DCE ativo. A última gestão foi da chapa “Todas as vozes”, entre 2019 e 2020.
Mato alto, vidros quebrados, fios de luz roubados e um prédio abandonado foi o que restou do espaço que antes reunia estudantes para lutas e conquistas de direitos como o fornecimento de opção vegetariana no Restaurante Universitário (RU) e promoção do cursinho popular preparatório para o vestibular.
O DCE é um órgão estudantil unificador que representa todos os estudantes de uma instituição de Ensino Superior com objetivo de levantar as pautas estudantis através da pluralidade de diálogos de maneira democrática. Para definir a diretoria do DCE é realizada uma eleição, convocada via Conselho de Entidade de Base (CEB), requisitada pela própria chapa em vigência, ou na sua ausência, pode ser solicitada por no mínimo cinco CAs e DAs.
Militante do movimento estudantil desde 2011, Isabela Gobbo foi uma das integrantes da chapa “Desatando Nós” que assumiu a diretoria do DCE entre os anos de 2017 e 2018. Isabela destaca que não foi somente a pandemia a causadora do fechamento do espaço, pois a ocorrência de festas no local levou a interdição do espaço para esse tipo de confraternização. Gobbo ainda afirma que com a pandemia ficou mais difícil manter o local, além de atrapalhar a mobilização acadêmica.
Isabela espera que o movimento estudantil seja reestruturado para que haja a possibilidade do retorno do Diretório. “O que falta para ser reativado é reorganizar o movimento. Enfrentar esses desafios exige se reinventar na comunicação com os estudantes, mantendo a trajetória de luta e de defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade”, comenta.
Diretório acadêmico após uma das limpezas realizadas por estudantes| Créditos: João Guilherme Castro
O que vem sendo feito?
Após a deflagração de greve dos docentes da UEPG definida em 10 de maio deste ano, Centros Acadêmicos e Diretórios Acadêmicos convocaram uma reunião discente que contou com representações estudantis de diversos cursos, além de participação de docentes para discutir pautas que afetam diretamente a Universidade.
Na primeira reunião estudantil pós-pandemia, ficou evidente a necessidade de reestruturação do movimento estudantil da Universidade para que as dificuldades sejam discutidas e combatidas. Durante o encontro pautas como a Lei Geral das Universidades e a reestruturação do DCE foram discutidas e com isso, foi solicitado por parte de seis CAs e DAs um Conselho de Entidades de Base (CEB).
Durante o CEB, ocorrido em 29 de maio, foi discutido, além da reestruturação do DCE, a suspensão de calendário acadêmico durante a greve docente e o chamamento de uma Assembleia Estudantil com as mesmas pautas do Conselho. A Assembleia aconteceu no dia 14 de junho e após decisões foi indicada a realização de um novo CEB. Além disso, um mutirão de limpeza no espaço do DCE foi realizado nos dias 24 e 25 de junho - um dos primeiros passos dos estudantes na tentativa de reativar o espaço.
O movimento estudantil no Estado
Entre os dias treze a quinze de outubro aconteceu o 49º Congresso da União Paranaense dos Estudantes (CONUPE), realizado a cada dois anos pela UPE, em Cascavel na Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste). O evento reuniu cerca de quatrocentos estudantes de todo o Paraná. Durante o Congresso, pautas como a desigualdade social e políticas de acesso à universidade foram debatidas por convidados. Além da realização da eleição para a diretoria da entidade.
Os estudantes delegados no evento puderam votar na nova diretoria do UPE, para os próximos dois anos. Duas chapas estavam na disputa e após a votação, foi deferida a vitória da chapa “Unidade para reconstruir o Paraná” com 244 votos (98%). Com isso João Scandolara, estudante da Universidade Paranaense (UNIPAR- Francisco Beltrão), foi eleito o novo presidente da UPE.
Para além da votação em plenária final, aconteceram ciclos de debates. Um dos debates ocorridos teve como tema “O protagonismo das Universidades Estaduais no desenvolvimento econômico, social e regional do Paraná”. A doutora e professora de Geografia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Margarida Cássio Campos falou sobre as desigualdades sociais que dificultam o acesso ao Ensino Superior. “Precisamos reverter o cenário de uma Universidade exclusiva que começa em 1908 por uma Universidade inclusiva, essa é a nossa luta”, comentou.
Campos também abordou os dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), que revelam números da desigualdade no país. Os dados mostraram que na década de sessenta, 95% dos concluintes do Ensino Superior eram pessoas brancas. Já em 2009, pessoas com deficiência (PCD) representavam apenas 0,34% das matrículas na graduação. “Para começarmos o processo de reduzir a desigualdade, a Universidade tem um papel fundamental, e ele se dá através de políticas de acesso (cotas)”, afirmou.
A união paranaense dos estudantes
Fundada em 16 de setembro de 1939, a UPE é a entidade estudantil mais antiga do Brasil, desde a sua fundação e tem como lema “Luta pela defesa da educação e do povo paranaense”. O objetivo da entidade é promover a união e estimular a luta pelos direitos dos estudantes Paranaenses através de ações educacionais, culturais e políticas.
Durante os oitenta e quatro anos de existência, o movimento teve participação ativa em vários embates como a luta contra o aumento da passagem em 1945 no Rio de Janeiro. Em 1953, na campanha “O Petróleo é Nosso”, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promoveu manifestações em cidades do país com panfletagem e cartazes que foram fundamentais na mobilização acerca do tema. O movimento também esteve ativo na luta contra o ensino pago nas Universidades Públicas em 1968.
Ficha técnica:
Produção: Camila Souza
Edição e publicação: Quiara Camargo e Lívia Souza
Supervisão de produção: Manoel Moabis
Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos