Eventos trouxeram reflexões sobre controle da mídia, desinformação e novas áreas de atuação 

WhatsApp Image 2023 11 24 at 18.35.00

Foto: Alex Dolgan

Realizadas de forma simultânea entre os dias 20 e 24 de novembro, a XXXII Semana de Comunicação (SECOM) e a XVII Semana de Integração e Resistência (SAINTRE) trouxeram jornalistas e pesquisadores de diversas regiões do Brasil para conversar com alunos e professores de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) sobre os atuais problemas a serem enfrentados na profissão e mostrar novas possibilidades de atuação aos estudantes. A XXXII SECOM teve a presença de Maria Cecília Guirado, que conversou sobre Gabriel Garcia Marquez; Olivia Bandeira, que debateu sobre controle da mídia na mesa "Quem controla a mídia? Dos velhos oligopólios às big techs"; Bruno Paes Manso, que trouxe reflexões sobre crime e religião na palestra "Dinheiro, fé e fuzil: o Brasil do crime e da religião sob investigação"; Marcos Paulo da Silva, com o debate "As formas jornalísticas no horizonte da desinformação"; e Luãn Chagas, que ministrou a palestra "Jornalismo declaratório, desinformação e naturalização dos pseudofatos". Além das palestras, a programação contou com oficinas e o lançamento do Cine CAJOR.

Jornalista especializado em Criminologia, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e ganhador do Prêmio Jabuti com o livro "A República das Milícias", Bruno Paes Manso conversou sobre como foi produzir o livro "A fé e o fuzil", que explora o uso do discurso religioso por milícias para promover dominação nas favelas. Por meio de seus livros, Paes Manso revelou alguns dos desafios do jornalismo investigativo, destacando a necessidade de cautela na abordagem das pautas. "Para ser jornalista e escrever sobre esses conflitos, é importante não tomar posição e deixar a fonte à vontade para falar", aponta. Bruno destaca que mulheres têm mais chances de ser agredidas nesse tipo de cobertura, devido ao machismo presente nesse meio. Em suas pesquisas, o professor descobriu que os matadores buscam na violência a solução para seus conflitos. "Quando você usa a violência, não produz obediência, e sim reação", argumenta Bruno.

Na mesa "As formas jornalísticas no horizonte da desinformação", o jornalista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Marcos Paulo da Silva propôs reflexões sobre os desafios impostos pela desinformação à atividade jornalística. Em uma analogia com o contexto artístico, o jornalista afirma que, nos dias atuais, qualquer pessoa pode tanto fazer suas próprias músicas quanto produzir conteúdo para a internet. Tal facilidade impõe desafios à busca por informação, visto que  as fake news assumem a forma de notícias credíveis. "Há um movimento de sobreposição da ideia de aparência sobre a de essência. Isso contribui para a disseminação de desinformação", completa Marcos Paulo. 

No último dia da SECOM, o professor e pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Luãn Chagas participou da mesa "Jornalismo declaratório: desinformação e naturalização dos pseudofatos". Na palestra, o professor alertou para a supervalorização das fontes oficiais, defendendo que é preciso selecionar outras fontes para contrapor o discurso apresentado pelas autoridades públicas, que muitas vezes promovem mentiras. "Essa observação sobre a racionalidade no processo de escolher quem fala e quem deixa de falar passa por verificação prévia. O problema de ouvir todos os lados é quando o que eles dizem não é confiável", analisa. 

A professora Graziela Bianchi, do Departamento de Jornalismo da UEPG, avalia que os debates promovidos pela Semana de Comunicação representam uma oportunidade de ampliar as discussões já feitas em sala de aula. Em relação ao fenômeno da desinformação, Graziela afirma que, nos dias de hoje, existem indústrias de desinformação e que o jornalismo precisa estar a par dessa realidade. No contexto das plataformas digitais, a professora defende que precisa haver responsabilização não só de quem produz ou divulga fake news, mas das próprias plataformas onde o conteúdo é compartilhado. "Os produtores de conteúdo somos todos nós, mas a partir do momento em que você se torna dono de uma plataforma, é claro que você tem responsabilidade. Você está fazendo mediação entre quem produz [e quem consome]”, argumenta Graziela.

Para o acadêmico do segundo ano de Jornalismo, Lucas Veloso, as palestras e os eventos ajudam na formação do estudante, porque já dão uma ideia de como será exercer a profissão no mercado de trabalho. “Quando a gente escuta experiências dos profissionais, a gente já vai pensando no que teremos que passar para seguir na nossa profissão”, explica.

 

OFICINAS

No período da tarde na UEPG Campus Central ocorreram oficinas que fizeram parte da Semana de Integração e Resistência, organizada pelo Centro Acadêmico João do Rio (CAJOR). Ao todo foram realizadas oito oficinas, durante os cinco dias de evento, onde foram abordados diversos temas como: fotografia, jornalismo esportivo, e a rotina de trabalho jornalística.

Uma das primeiras oficinas, ocorrida na segunda-feira (20), foi da  professora doutora em história Maria Antônia Marçal, com o tema Comunicação Inclusiva. Na oficina a palestrante abordou sobre a vida e as obras literárias da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus (1914-  1977), que ficou famosa por relatar em seus livros as dificuldades diárias que enfrenta para sobreviver. Entre as adversidades enfrentadas pela escritora, a sua origem humilde e sua condição de vida que possuía vivendo na favela do Canindé em São Paulo, impediram que ela fosse mais reconhecida no meio artístico, contou a palestrante.

Maria Antônia Marçal, espera que ao abordar este assunto, possa ter ajudado as pessoas a terem mais empatia umas pelas outras. “Eu acho que pode ajudar as pessoas a ter uma sensibilidade maior. Eu acho que esta sensibilização é o primeiro movimento para a gente fazer o preconceito acabar”, explica a professora.

 

CINEMA

Uma novidade desta edição da Semana de Integração e Resistência foi a 1º Mostra Cine CAJOR Hélcio Kovaleski, onde foi exibido um filme por dia aos estudantes que não conseguiram se inscrever para participar das oficinas. A Mostra Cine CAJOR possui este nome, em homenagem ao jornalista pontagrossense Hélcio Kovaleski falecido este ano, que teve grande participação na área da cultura da cidade.

A ideia desse evento surgiu com o objetivo de gerar uma atração cultural no curso de jornalismo. Os filmes escolhidos para a mostra, retrataram  como é a profissão jornalística no dia a dia através de animação, drama e ficção científica., através de filmes nacionais e estrangeiros. 

Para Júlia Andrade, Coordenadora Geral do Centro João do Rio, o Cine CAJOR é um evento que pode continuar nas próximas edições da Semana de Integração e Resistência. “A gente ficaria muito feliz se o cinema continuasse a integrar a Semana de Integração e Resistência. Essa ideia ainda está em construção, é um teste  para saber se vai dar certo” conta.

 

Ficha técnica:

Produção: Carolina Olegário e Kauan Ribeiro

Edição e publicação: Carolina Olegário e Kauan Ribeiro

Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos e Marizandra Rutilli