CAPSij têm como objetivo reabilitar pacientes para reinserção na sociedade a partir de especificidades do psicológico infantil
Instituída a lei da reforma psiquiátrica em 2001, a marca deste movimento é o fechamento gradual de manicômios e hospícios no Brasil. Desde então, centros e instituições foram criados para atender casos de saúde mental com o intuito de reinserir os pacientes à sociedade a partir de atendimento humanizado e especializado nas condições necessárias. Para o público infanto-juvenil, esse serviço deve ser ainda mais especializado.
A psicóloga Gyovanna Guimarães argumenta que crianças não devem ser tratadas como adultos, pois não têm o desenvolvimento racional. Elas enxergam a realidade de forma lúdica atribuída ao simbólico - aquilo que a brincadeira representa no universo psicológico. Ludoterapia é a abordagem que pode ser resumida como “uso de brinquedos”, como forma de auto-expressão da criança, pois contextualiza manifestações infantis decorridas do brincar, desenhar, cantar, dançar, atuar, etc. Essas expressões representam fragmentos do psicológico de uma criança, o profissional que os interpreta compreende o papel a ser realizado para o desenvolvimento dessa criança.
O tratamento da saúde mental na infáncia ajuda a ter uma vida adulta emocionalmente saudável | Foto: Sara Dalzoto
O trabalho dos serviços de saúde mental infantil não é simples e deve ser realizado de acordo com a complexidade de cada paciente. No serviço público de saúde, é estabelecido o tratamento que busca o desenvolvimento emocional saudável das crianças para que elas convivam na sociedade. Gyovanna explica que, com o tratamento na infância, o caminho para a fase adulta emocionalmente saudável se torna mais viável, pois questões psicológicas se acumulam quando não resolvidas.
A médica Clarissa Rego buscou o tratamento adequado para seus filhos. “Levei o meu filho mais velho por volta de uns sete anos porque notei uma mudança de comportamento dele. Ele chorava desproporcionalmente, estava com muitas queixas de dor cabeça e de barriga, que não tinham fundamento. Já tinha levado para o oftalmologista, sabia que não era intolerância alimentar e ele estava muito reativo também”, relata. Para ela, apesar de existir negligência e resistência social para tratamento psicológico, ainda mais infantil, a importância dele precisa ser reforçada. “O tratamento é importantíssimo nessa fase, porque a criança passa por várias fases e conflitos escolares e pessoais, a própria mudança hormonal daquela fase”, diz a médica.
Assim, o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil João de Barro (CAPSij), em Ponta Grossa, atende casos graves de saúde mental infantil. O CAPS busca estabilizar os casos para que crianças e adolescentes convivam normalmente em comunidade. O trabalho é realizado por uma equipe de profissionais que compreendem as especificidades do tratamento infantil.
Antes de serem encaminhados para o tratamento, a equipe realiza uma avaliação com o paciente para compreender a intensidade do transtorno. Depois da avaliação inicial, a criança já é inserida no atendimento do CAPS. “Com saúde mental grave a gente não espera, nós começamos o atendimento para ontem”, evidencia Fabiane Maria Schwab Méier, coordenadora do CAPSij.
O atendimento organiza-se por dinâmicas em grupo, característica dos CAPS. “O grupo é importante pois as crianças têm dificuldade de identificar sua situação e, no grupo, ela percebe que existem outras crianças em situações semelhantes”, conta Fabiane. Os trabalhos são realizados com psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, uma professora de dança e uma professora de música. As crianças também recebem orientação para produção de desenhos e pinturas. Fabiane destaca que essas dinâmicas para o tratamento não podem ser realizadas por profissionais que não entendem o universo infantil.
Ficha técnica:
Produção: Cassiana Tozati e Maria Luiza Pontaldi
Edição e publicação: Rafaela Koloda e Wesley Machado
Supervisão de produção: Luiza C. dos Santos
Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos e Marizandra Rutilli