Plataformas de streaming utilizam dados para determinar programas que o usuário deve ouvir

 

Os podcasts são programas de conversa com um(a) ou mais apresentadores(as) no formato de áudio, disponibilizados em plataformas de streaming de mídia sonora. Seus temas variam entre reportagens de longa duração ou seriadas, entrevistas, narração, monólogo, bate-papo, entre outros. Segundo a revista Gente, os podcasts estão na sua “era de ouro” no Brasil, em decorrência da junção de alguns fatores. O crescimento do alcance da internet em território nacional, o surgimento de aparelhos smartphones por preços mais acessíveis, a expansão de plataformas de streaming sonoro e o “boom” do consumo de mídia de entretenimento por áudio são alguns deles.

No meio dessa explosão de consumo de cultura sonora, existem gêneros de programas, apresentadores(as) e narrativas diversas para todos os gostos. Inclusive, tem vezes que um novo podcast aparece como mágica na tela do celular com a recomendação “indicado para você”. E quando ouvimos, ah, parece que realmente foi feito do jeito que queríamos! Mas como será que os aplicativos de streaming recomendam conteúdos tão parecidos com nossos gostos, estilo de vida e até compartilham da mesma opinião? 

Segundo o engenheiro de software Luiz Gustavo Nunes, isso acontece por meio do armazenamento na Big Data, os grandes bancos de dados da internet. “Ao instalar um aplicativo, são solicitadas permissões de acesso à galeria, rastreamento de atividade, e até do microfone”, diz. Por meio destas, os aplicativos coletam dados do usuário e formam uma espécie de perfil, e sugerem conteúdos com base nestas informações”. 

Luiz Gustavo explica que esse tipo de serviço não é exclusivo de uma empresa. “Nos navegadores, existem os famosos cookies. É uma prática recorrente que gera muitos lucros, uma vez que essa coletânea de dados pode ser vendida para empresas que também querem traçar o seu perfil, levando em conta o critério dos seus gostos”, afirma o especialista.

Isabella Ganem, graduanda em Arquitetura e Urbanismo, é também uma ouvinte frequente de música e podcasts. A partir do seu consumo como usuária, ela avalia que o algoritmo de plataformas de streaming favorece o que está mais popular. “A gente fica sem a possibilidade de conhecer artistas menores que talvez tenham muito mais a ver com o que a gente procura. O mesmo é com podcasts, às vezes você não quer ouvir só um gênero de programa”. Por outro lado, Isabella reconhece que os podcasts ainda estão ganhando espaço na plataforma, e existem alguns programas que acabam sendo um atrativo para novos ouvintes. “Teve uma época que o podcast do Chico Felitti estourou, e tudo bem que podcasts são um extra nesses aplicativos, já que o que mais chama usuários são as músicas. Mas será que se eles divulgassem melhor não teriam mais pessoas ouvindo podcasts?”, questiona. 

E, na verdade, Isabella não está errada em sua teoria sobre um “favoritismo” das plataformas. De acordo com Marcos Facchin, Desenvolvedor Sênior e estudante de Engenharia de Software, o algoritmo beneficia o que dá lucro. “Streamings normalmente possuem um algoritmo mais apurado, principalmente quando o conteúdo é monetizado. Já, os buscadores, possuem serviços de propaganda, que também são customizados para o usuário”, conta o desenvolvedor. 

Em um panorama geral feito ao observar a aba de podcasts em 5 plataformas de streaming de áudio: Apple, Deezer, Spotify, Tidal e YouTube Music, foi possível identificar alguns elementos que diferem o funcionamento de uma com a outra. O YouTube Music, que teve crescimento sendo uma plataforma de vídeo, prioriza episódios de videocast em sua página inicial ao invés de produtos exclusivamente sonoros. Já, o Tidal, destaca suas produções próprias, majoritariamente em língua inglesa, mesmo quando a plataforma é acessada em domínio nacional. Já, no caso do Deezer, os podcasts são categorizados por tempo e idiomas que variam entre português, inglês, espanhol e alemão.

Apenas a Apple e o Spotify não têm como primeira sugestão os podcasts populares/destaque, mas ainda há uma categorização de Top Charts, ou parada popular, em tradução livre. Assim, pode-se dizer que mesmo com um leque de opções de programas nas plataformas, geralmente os que mais crescem em ouvintes são os que podem investir em publicidade para o seu canal. No caso da Apple Podcasts, programas de notícia aparecem em primeiro e, no Spotify, podcasts originais ou exclusivos da plataforma são indicados inicialmente para o usuário, o que afirma ainda mais que as empresas de streaming dão maior visibilidade aos produtos que geram lucro.

Ficha Técnica:

Produção: Lilian Magalhães

Edição e publicação: Iasmin e Leonardo Czerski

Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos

Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutilli