Escritores ponta-grossenses apontam baixo incentivo para a produção na cidade

Em Ponta Grossa existem mais de 115 autores, como informa a vice-presidente da Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes (APLA), Renata Florisbelo. O espaço reservado à publicação e divulgação de obras autorais na cidade ainda é escasso. Muitas vezes, os escritores desejam ter como profissão a escrita, mas o baixo ou inexistente retorno financeiro dificulta que esta seja a ocupação principal dos autores.


A escritora do livro Sinestesia, Andressa Marcondes avalia que em Ponta Grossa o consumo da literatura produzida por autores da região se restringe sempre ao mesmo público. “As pessoas que também escrevem aqui, na maioria das vezes, vendem para as mesmas pessoas que são focadas em incentivar”, aponta. É como se existisse um grupo de estímulo para adquirir as obras ponta-grossenses, sem nunca sair dessa mesma redoma. “Não devia ser assim. A gente vive do apoio das mesmas pessoas”, lamenta.

Para Renata Florisbelo, o principal método para estimular a literatura produzida por autores locais é por meio de ações de fomento que possibilitem a publicação de obras, por isso, é importante que a Prefeitura invista nestes projetos. Kleber Bordinhão é autor de seis obras e publicou a última obra em 2019. Ele analisa que o investimento na publicação de livros de autores locais é baixo.

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Escritores em encontro de literatura | Foto: Isadora Ricardo

Segundo a Prefeitura de Ponta Grossa, a cidade tem editais de fomento anuais destinados aos autores. É o caso do Fundo Municipal de Cultura, que ao longo de sua existência publicou 13 livros de escritores ponta-grossenses, e o Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura (PROMIFIC), que tem publicado 13 livros de escritores locais, mas, na última edição, contemplou apenas duas iniciativas na área de literatura, livro e leitura, nenhum deles específico para a publicação de obras literárias.

Phellip Willian é autor de mais de 20 livros. Ele concorda com a inexistência de um mercado livreiro no município. “É muito comum pessoas nos pararem, dizer que é fã do nosso trabalho e na conversa a gente perceber que a pessoa não comprou nenhum livro”, aponta. Phellip acredita que, muitas vezes, o público gosta de acompanhar os escritores nas redes sociais digitais, mas não investe dinheiro na compra dos materiais publicados por eles.

Para Kleber Bordinhão, o consumo da literatura produzida por ponta-grossenses é escasso, mas já foi pior. “O público que gosta de literatura, ao meu ver, olha pouco para o autor nascido em Ponta Grossa ou na região”, diz. Concordando com o colega, Phellip afirma que, em lançamentos e eventos promovidos, a adesão da participação da sociedade é baixa, quem mais participa é a própria família dos autores.

Andressa Marcondes aponta que as obras locais ainda é pouco estimulada na cidade. “Deveriam ser realizadas mais ações, e abrir mais editais específicos para literatura”, sugere. “Isso ajudaria as pessoas a conhecerem quem está escrevendo localmente e incentivaria mais jovens que gostariam de escrever, mas não sabem direito que caminho seguir”, finaliza.

Porém, existe a expectativa de que o consumo cresça. Phellip é um dos escritores que apresentam uma visão positiva quanto ao aumento. Para isso, “é preciso que tenha o outro lado dessa ponte, que é o leitor. Sem esse processo, a gente não tem mercado de venda, a gente só tem pessoas entusiastas que gostam muito de literatura”, afirma.

 

Ficha Técnica

Produção:

Edição e publicação: Rafaela Colman e Cristiane de Mello

Supervisão de produção: Luiza C. dos Santos

Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos, Marizandra Rutilli e Maria Eduarda Ribeiro