Pseudociência estuda teorias distantes da comunidade científica tradicional
Será que os alienígenas estariam envolvidos no conflito Israel e Palestina? Esse foi um dos debates do 1º Congresso de Ufologia dos Campos Gerais. O evento ocorreu de forma virtual em novembro e reuniu quase 300 pessoas. Além do conflito do Oriente Médio, os debates no evento trataram da hipnose, ocultação estatal e interferência alienígena em conflitos globais.
A Ufologia não é considerada uma disciplina científica. Embora envolva o estudo de avistamento de objetos voadores não identificados (OVNIs), ela não cumpre os requisitos da comunidade científica tradicional, como métodos de pesquisa e evidências empíricas. Os participantes a consideram mais como uma “área de interesse popular”.
O coordenador do congresso, Dirceu Klemba, justificou o fato de o campo ainda não ser considerado ciência pela falta de estudos. Segundo ele, é essa a intenção de suas lives. “A ufologia é considerada uma pseudociência porque não tem como mensurar o objeto de pesquisa. Sendo assim, não têm arquivos científicos, materiais nos quais você possa se apoiar para construir esse conhecimento ", explica.
Os quatro encontros do congresso ao longo do mês de novembro reuniu de 100 a 300 pessoas em cada live. Além do alcance da comunidade de interessados, Dirceu conta que também têm conseguido espaço nos jornais da cidade para disseminar suas informações e crenças. O coordenador conta que já foi convidado para entrevistas em rádios.
O jornalista Marcos Paulo da Silva, doutor em comunicação e professor na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), compara o movimento ufológico ao movimento terraplanista. De acordo com ele, é a função do jornalista situar as informações sem fazer falsas simetrias: “Se você apresenta um cientista falando que a terra é redonda você tem que dar voz a quem argumenta que a terra é plana? Acho que o que cabe a discussão aqui é que tem de errado na vida cotidiana que faz com que as pessoas dediquem seu tempo a discutir esse tipo de pauta” declarou o Professor.
Questionado sobre a possibilidade da disseminação de desinformação através de suas lives no Youtube, Klemba disse que a intenção não é convencer ninguém a acreditar em alienígenas, mas sim apresentar as ideias e recentes estudos sobre o tema. “A ufologia sempre foi muito camuflada. Quem falava sobre isso antigamente era taxado como uma pessoa doida, uma pessoa maluca. Esse tabu acaba afastando as pessoas desse estudo, é uma forma de controle. Já pensou o que seria se fosse comprovada a existência de vida extraterrestre?”. E quanto ao fato de informações falsas serem repassadas através de seu canal, o organizador do congresso respondeu que sempre faz a checagem de suas informações e os documentos que são enviados a ele: “A ufologia é um campo com muita informação falsa, e a gente faz checagem para isso, verificando se houve alteração nas imagens, por exemplo. Se o nome da imagem teve o nome alterado há uma alta probabilidade de ser fake ", afirma.
Dirceu conta já ter sido chamado de maluco e insano por suas crenças, e relatou dificuldade para ser levado a sério pelo ceticismo e o nível de polêmica da ufologia, isso também se refletiu nas críticas sobre os temas escolhidos para as lives. O congresso abordou temas complexos, como a possível presença de inteligências extraterrestres em eventos globais, incluindo conflitos como a Guerra da Ucrânia e o Conflito Palestino. Contudo as “provas” apresentadas no evento para tais relações consistiam em sua maioria de fotos pouco nítidas e teorias elaboradas pelos participantes.
Klemba concluiu comentando sobre o espaço que a ufologia adquiriu no meio virtual e explicou que atualmente as redes, fóruns e canais do Youtube são os principais meios para se debater esse tipo de assunto. “A ufologia era considerada um tabu, mas com a internet esse assunto tem ganhado um espaço para discussão, e com a juventude também, as pessoas jovens são muito mais abertas” afirmou.
O Congresso foi realizado de forma informal, organizado por ele e disponibilizado em suas redes. Atualmente as informações difundidas na internet não tem uma regulamentação governamental. O controle do que pode ser publicado ou não consta nas diretrizes das próprias plataformas. Sendo assim, qualquer pessoa pode montar um congresso, encontros e discussões de temas sobre seus próprios interesses, mesmo sem embasamento, podendo contribuir para a desinformação.
Ficha Técnica
Produção: João Paulo Fagundes
Edição e publicação: Larissa Del Pozo e Vitória Testa
Supervisão de produção: Luiza C. dos Santos
Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos, Marizandra Rutilli e Maria Eduarda Ribeiro