Organizações não governamentais são uma alternativa para as PcDs manterem a atividade enquanto não conseguem emprego

 

A busca pela inclusão é uma batalha recorrente na vida das Pessoas com Deficiência (PcDs). No mercado de trabalho, as dificuldades aumentam. Apesar de existir a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência desde 1991, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), sete em cada dez pessoas com deficiência estão fora do mercado de trabalho. Além da barreira para se inserirem no mercado de trabalho, a diferença salarial entre as PcDs e os outros trabalhadores é outro empecilho. Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, revelam que as PcDs recebem quase mil reais a menos que as pessoas sem deficiência. 

A publicação “Pessoas com deficiência e as desigualdades sociais no Brasil”, do IBGE em 2019, também apresentou que somente 34% das PcDs estão em empregos com carteira assinada. O relatório expõe que a dinâmica do mercado não favorece o trabalho formal, sendo uma alternativa para os PcDs o trabalho informal. 

Em Ponta Grossa, Noel Kostiurezko, militante da visibilidade de PcDs, ressalta que as pessoas com deficiência enfrentam muitas dificuldades em conseguir um emprego. Entre os problemas mais comuns estão a falta de acessibilidade nas empresas e o capacitismo.

Marlon Cezar Nadal perdeu totalmente a visão há cerca de três anos. Antes disso, possuía uma empresa que prestava serviços de vigilância e jardinagem. Mas precisou se afastar após a descoberta do diagnóstico, o que levou ao fechamento da empresa. Atualmente, Marlon assumiu a presidência do Conselho da Pessoa com Deficiência, na tentativa de assegurar os direitos das PcDs. 

Marlon precisou passar por muitas mudanças para se adaptar a sua nova condição de vida e trabalho. Apesar de não estar registrado em nenhuma empresa, o presidente do Conselho concorda que a legislação seja importante para a participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Mas acredita que para isso acontecer, são necessárias adequações tanto por parte do funcionário, quanto da empresa. “O deficiente precisa ter a qualificação necessária para ocupar o cargo e a pessoa que receberá a PcD na empresa deve estar preparada para conduzir e orientar o deficiente para exercer sua função”, explica.

Embora a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência assegure a entrada de algumas PcDs no mercado de trabalho, Marlon acredita que a legislação seja injusta para estas pessoas. Apesar de existir a possibilidade dos funcionários participarem do mercado de trabalho, as funções normalmente não exigem profissionalização, como empacotadores e monitores de estacionamento. “Ela tem pontos que ajudam, mas ela não especifica em quais áreas deve trabalhar e a gente pode trabalhar em várias áreas”, revela.

 

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 Agência do Trabalhador de Ponta Grossa recebe currículos de PcDs para encaminhá-los a vagas de emprego | Foto: Larissa Del Pozo

 

Agência do Trabalhador

De acordo com a assistente social da Agência do Trabalhador de Ponta Grossa, Rosângela Legat, são mais de 450 PcDs cadastrados na instituição. De janeiro a outubro deste ano, cerca de 150 pessoas com deficiência foram contratadas para assumirem cargos em diversas áreas. A assistente social explica que o perfil das PcDs cadastradas na agência são maioria homens, entre 30 a 40 anos. E o setor que mais empregou as pessoas com deficiência  neste ano foi o de prestação de serviços.

Apesar do grande número de pessoas inscritas para ocuparem as vagas, Rosângela ressalta que a qualificação é um fator exigido em algumas empresas. Porém grande parte das PcDs cadastradas na agência possuem apenas o ensino médio. Nesse sentido, para que a pessoa com deficiência exerça a função com mais qualificação, a agência oferece cursos voltados para administração e informática. 

 

PcDs e o Mercado de Trabalho

Márcio Batista (58) perdeu os movimentos após uma fratura na coluna aos 20 anos. Para ele, atuar no mercado de trabalho nunca foi uma opção, pois sabia que as limitações dos movimentos das pernas e braços, por conta da tetraplegia, seriam uma barreira em qualquer profissão. Márcio conta que para trabalhar precisaria enfrentar muitas dificuldades, desde o transporte até a execução da função. Além disso, ele ressalta que a legislação para inclusão de PcDs no mercado de trabalho ainda precisa passar por adequações, para que todos tenham direito à uma profissão. “Na teoria ela é boa, mas na prática falta muito”, revela. 

Jeferson Araújo teve paralisia infantil aos dois anos de idade. Atualmente, é aposentado e vende balas no centro de Ponta Grossa para adquirir uma renda extra. Jeferson conta que não possui escolaridade, o que dificulta a contratação, por isso nunca tentou se inserir no mercado de trabalho. Além disso, ele revela que a única vez que pensou em desistir do benefício recebido por invalidez, foi instruído a não buscar emprego e manter o benefício, pois não compensaria.



Ficha Técnica

Produção: Larissa Del Pozo 

Edição e publicação: Vitória Testa e Larissa Del Pozo

Supervisão de produção: Luiza C. dos Santos

Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos, Marizandra Rutilli e Maria Eduarda Ribeiro