Empresas afirmam que o aumento no valor das passagens aéreas e na hotelaria prejudicaram os serviços prestado

O mercado de viagens brasileiro vem estremecendo em função do descumprimento de acordos entre empresas do setor e seus clientes. Desde o início do ano, a 123 Milhas e a Hurb sinalizaram uma crise nos negócios. As companhias recebem diversas reclamações dos clientes que contrataram pacotes de viagem e serviços da linha ‘Promo’, mas até hoje nunca conseguiram realizar as respectivas viagens.

A 123 Milhas, especializada em passagens aéreas, e a Hurb, voltada para pacotes de viagens, foram ordenadas pelas autoridades brasileiras a suspenderem a venda desses pacotes promocionais. Contudo, o cancelamento das viagens já tinha atingido diversos brasileiros que esperam até hoje por justiça. O modelo adotado pelas empresas se mostrou difícil de se sustentar. Para oferecer preços mais em conta, as empresas desconsideram os reajustes e a inflação acumulada durante a pandemia. Com o reaquecimento do turismo após a pandemia, os preços vendidos aos clientes não pagavam os reais custos. Segundo um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a inflação no setor do turismo cresceu 8,26% nos últimos 12 meses e foi um grande fator para o cancelamento dos pacotes promocionais.

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O cancelamento das vendas promocionais ocasionou insatisfação entre os clientes das empresas aéreas. Foto: Kathleen Schenberger

Com esse cenário, as empresas não conseguiram encontrar datas e serviços com valores que condizem com as promoções oferecidas em um momento em que o mercado do turismo estava em baixa. O caso não é uma novidade para a administradora especializada em hotelaria e turismo, Simone de Campos. Segundo ela, o modelo de negócios é arriscado. “Isso é resultado da especulação de um mercado muito inconstante e de um grande investimento em marketing”, destaca.

De acordo com Simone, outro problema é a venda com muita antecedência das viagens. “Eles acreditavam que o mercado poderia aquecer no pós-pandemia, mas que logo se estabilizaria. Não foi o que aconteceu. A inflamação dos serviços nesse setor acabaram refletindo nos preços, eles não conseguiram achar datas que oferecessem os mesmos valores propostos inicialmente.”, afirma.

Quem sofreu com essa situação foi a psicóloga Bianca Mioduski. Em 2022, Bianca adquiriu um pacote para a Tailândia com alguns amigos pela Hurb e fez a compra de um voo de ida e volta para a Roma através da 123 Milhas. Os pacotes faziam parte da linha promocional das empresas, e apesar de desconfiar dos valores, ela resolveu arriscar. “Sempre vi as propagandas da Hurb com receio, pelo valor baixo, mas vários amigos e familiares adquiriram e conseguiram realizar as viagens, então acabei comprando também”, fala.

Ela conta que percebeu que as coisas não estavam certas quando tentou marcar uma possível data da viagem para Tailândia em abril deste ano. “Recebi um e-mail da própria Hurb que falava que não seria possível realizar a viagem e logo saíram as notícias na mídia sobre a 123 milhas”, lembra. Além dos danos materiais, a psicóloga também relata os impactos emocionais que ela, os amigos e familiares sofreram. “Já estava tudo planejado para a Tailândia, era um sonho antigo. Quanto a Roma, foi triste por ver todos os meus familiares desapontados. Seria a primeira viagem internacional deles. Iríamos em 11 familiares para passar 15 dias na Europa. É frustrante.”

O advogado especializado em direito do consumidor Matheus de Quadros explica que o código civil permite essa modalidade de contratação de serviços. “Nesses casos, o que foi feito é a contratação de pacotes com datas aleatórias. A pessoa recebe o direito de realizar a viagem, mas não escolhe a data”, observa. Ele reforça que as pessoas atingidas por esses cancelamentos ou adiamentos de viagens devem buscar seus direitos. 

O advogado destaca que o primeiro passo deve ser entrar em contato com a empresa e, caso eles não comuniquem uma resposta assertiva, é direito do consumidor buscar o respaldo jurídico. “É importante procurar um advogado para exigir o comprimento do contrato ou resolução do contrato, ou seja, a devolução do dinheiro que envolve a questão de perdas e danos, assim como, a reposição inflacionária”, afirma. 

Ele ressalta que a pessoa que passa por essa situação pode procurar o juizado especial cível para o acesso aos direitos enquanto consumidor. Dessa forma, a pessoa não tem custos adicionais para realizar os trâmites processuais. 

 

Ficha Técnica:

Produção: Kathleen Schenberger

Edição e Publicação: Naiomi Mainardes

Supervisão de produção: Luiza C. dos Santos

Supervisão de publicação: Luiza C. dos Santos, Marizandra Rutilli e Maria Eduarda Ribeiro