Baixa produção de mel é um dos fatores que desfavorecem sua proliferação

O Brasil é o país com maior ocorrência de abelhas sem ferrão, também conhecidas como meliponíneos, no mundo inteiro. Segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro em julho do ano passado, o total de espécies em território nacional gira em torno de 300, sendo que 100 delas estão ameaçadas de extinção. Visto que esses insetos realizam a polinização de diversas plantas utilizadas na nossa alimentação, o fato é preocupante. Além disso, o mel proveniente da meliponicultura, ou criação de abelhas sem ferrão, tem altas propriedades culinárias e medicinais, mas ainda é menos popular que o mel produzido pela Apis mellifera, a espécie mais presente na indústria. 

A Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (Abelha) lançou, em outubro de 2023, o Atlas da Meliponicultura, um guia com 93 espécies de meliponíneos ideais para criação no Brasil. O documento foi criado com base no Catálogo Nacional de Abelhas Sem Ferrão, do Instituto Chico Mendes para a Biodiversidade (ICMBio). A iniciativa veio da necessidade de ampliar conhecimentos sobre essas espécies. 

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Das mais de 300 espécies de abelhas existentes no Brasil, cerca de 100 delas correm risco de extinção | Foto: Carolina Olegário

Segundo o professor do Departamento de Ciências do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Luiz Cláudio Garcia, as meliponas não são lucrativas para a agricultura de grande porte por não produzirem muito mel.  Apesar disso, as abelhas sem ferrão encontram espaço no trabalho de pequenos produtores. “Qual a vantagem? Ela é dócil, você consegue manipular sem precisar de um equipamento de proteção específico. Os apiários [locais onde se criam abelhas com ferrão] têm que estar a cinco quilômetros da zona urbana, porque pode haver ataques. As meliponas não. Pelo contrário. Pessoas compram colmeias para colocar no jardim”, pontua. 

As Apis mellifera não sentem o impacto da extinção tanto quanto os meliponíneos porque a ampla utilização na indústria favorece sua proliferação. Enquanto a produção das meliponas vai de 2 a 5 quilos por ano, a da Apis mellifera chega a 50 quilos. “Por não terem essa vantagem comercial, as abelhas sem ferrão são trabalhadas em segundo plano. Elas usam abrigos naturais. Com a diminuição das áreas florestais, também diminui a quantidade de espécies. E por isso, elas migram para o forro de casas e quintais”, afirma Luiz. 

O professor também aponta a criação nas áreas urbanas como um meio para diminuir o risco de extinção e reforça a necessidade de investir em pesquisas sobre o manejo da espécie. “Aqui na região dos Campos Gerais não tem calendário nem para a Apis nem para as meliponas. Tem que ter parceria com os institutos de pesquisa para elaborar e ver a hora de aumentar espaço na colmeia, proteção de inimigos naturais, que florada beneficia aquela colmeia e por aí vai”, conclui. 

Dentre as iniciativas desenvolvidas em Ponta Grossa para favorecer a criação de meliponíneos, há o projeto de extensão coordenado pela professora Maria Marta Loddi, do Departamento de Zootecnia da UEPG. O projeto foi lançado há dois anos, e tem como objetivo principal a promoção da educação ambiental. “A gente já fez três oficinas de isca em colégios estaduais de Ponta Grossa e Carambeí para capturar abelhas que estavam procurando lugar para fazer novas colônias.” Segundo Maria, qualquer pessoa com o treinamento correto pode criar abelhas sem ferrão em casa. “Cada espécie tem a sua preferência, e o alimento [precisa estar] perto. Se não tiver pasto apícola, a gente ensina a fazer uma alimentação artificial. Oferecemos cursos não só de isca, mas também de manejo, porque tem que ter um cuidado: ver se tem predador, não deixar a colmeia no sol”, ensina. As iscas do projeto são feitas de garrafa PET, mas também podem ser utilizados outros materiais. “A gente cria um ambiente oco e escuro, como se fosse o oco da árvore, e põe um atrativo dentro, que é uma cera”, explica.

 

Ficha Técnica

Produção: Carolina Olegário

Edição e publicação: Karen Stinsky e Livia Maria Hass

Supervisão de produção: Muriel Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos