Em Ponta Grossa os casos mais frequentes de desistência estão relacionados à evasão escolar, demandas econômicas e familiares 

CEBEJA Gabriela Oliveira

CEEBJA Prof. Paschoal Salles Rosa e Mário Pinheiro, localizada na Avenida Bonifácio Viléla, 128, Centro, Ponta Grossa - PR. Foto: Gabriela Oliveira 

 

Do total de 163 milhões de pessoas no Brasil, de 15 anos de idade ou mais, estima-se que 11,4 milhões não sabem ler e escrever. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em maio deste ano, e corresponde a 2022. Em Ponta Grossa, a população  nesta faixa etária que não concluiu o Ensino Básico pode completar os estudos pelo Centro Educacional de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) Prof. Paschoal Salles Rosa e Mário Pinheiro, que oferecem aulas no período da manhã e noite. Porém, a diretora da escola, Denise Gomes, afirma que a instituição  possui 643 matrículas ativas, mas apenas 232 estudantes frequentam as aulas. “As pessoas se matriculam, frequentam as aulas por um tempo e depois desistem”, expõe. Segundo Denise, grande parte dos alunos são adolescentes que correspondem à evasão escolar. 

A diretora observa que outro caso frequente de desistência está relacionado com as demandas econômicas. “Tem alunos que desistem por questões de emprego, às vezes entram desempregados e quando acham um trabalho não conseguem conciliar os turnos com as aulas” , conta. Segundo Denise, muitas mães também acabam abandonando os estudos, por conta das demandas domésticas.

A dona de brechó, que não quis ser identificada, comenta que largou os estudos quando tinha 15 anos para trabalhar e ajudar nas despesas de casa. Na vida adulta, ela se matriculou em uma instituição de ensino que realiza a educação de jovens e adultos (EJA), porém precisou desistir novamente dos estudos. “Quando voltei não consegui acompanhar o ensino, porque matérias como inglês eram difíceis”, explica.  Ela buscava aprender a escrever e compreender normas básicas da língua portuguesa e matemática, “na minha época não tinha conteúdos tão difíceis, com coisas que não vão servir no momento para mim”, conta. 

Para incentivar a permanência dos estudantes, a diretora aponta que o centro realiza palestras, atividades fora do ambiente escolar e conversas com psicólogas e assistentes sociais. “Tentamos programar atividades extracurriculares para dar um incentivo para se manterem na escola”, fala. 

A diretora explica que a EJA possui duas fases, sendo elas: a fase 1 que atende o Ensino Fundamental I e a fase 2, que contempla o Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Denise destaca que a primeira deve ser garantida pelo município, enquanto a segunda pelo Estado. Ela também observa que o número de escolas que oferecem essa modalidade de ensino diminuiu na cidade e, consequentemente, afeta na procura da população pela continuidade dos estudos. 

  

Dados da pesquisa

 

De acordo com o censo, em 2010 a taxa de analfabetismo no país era de 9,6% e no último levantamento foi de 7%. Mesmo havendo um avanço nas taxas de alfabetização, é necessário se atentar aos demais números.  Ainda segundo a pesquisa realizada pelo IBGE, a taxa de pessoas pretas corresponde a 10,1% e pardos 8,8%, enquanto os brancos chegam apenas a 4,3%. Já o número de pessoas indígenas chegam a ser quatro vezes maiores, cerca de 16%. Além disso, o número de mulheres que sabem ler e escrever é maior do que o número de homens, sendo 93,5% e 92,5% respectivamente.

No Estado do Paraná cerca de 4,3% da população de 15 anos ou mais não sabe ler e escrever, sendo a maior taxa de analfabetismo da região sul do Brasil. Em Santa Catarina é de 2,67% e no Rio Grande do Sul, é de 3,11%. Os adultos e idosos paranaenses são os mais analfabetos, entre as pessoas com 65 anos ou mais 15,48% não são alfabetizadas. 

A EJA está inserida na Educação Básica e permite que jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso ou concluíram o ensino básico, fundamental ou médio possam retomar os estudos. De acordo com o Censo Escolar de 2023, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no ano de 2019 no Paraná cerca de 125 mil pessoas estavam matriculadas na EJA. Entretanto, torna-se perceptível o desmonte nessa modalidade da educação, pois em 2023 apenas 31.743 pessoas estão matriculadas. Também, em 2019 o Paraná contava com 333 colégios que disponibilizam o EJA e, no ano passado, por volta de 283 instituições. 

 

Ficha Técnica: 

Produção: Wesley Machado

Edição e publicação: Eduarda Macedo e Karen Stinsky

Supervisão de produção: Muriel Emidio Pessoa do Amaral 

Supervição de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos