Mesmo com incentivo público, produtores locais relatam dificuldades na produção do audiovisual

 

Editais de incentivo a produções audiovisuais e a iniciativa de grupos independentes visam ampliar a produção cinematográfica em Ponta Grossa. Os amantes locais do cinema, considerado a  sétima arte, precisam contornar desafios para a produção de filmes como, por exemplo, a falta de profissionalização e de valorização da atividade, além dos orçamentos insuficientes. Apesar disso, o cenário da produção independente ainda é promissor na cidade.

 

Principais desafios

O principal fator que dificulta a produção e o desenvolvimento da atividade cinematográfica em Ponta Grossa é relacionado aos custos elevados de produção. Envolve questões como aluguel de materiais, especialmente de câmeras, contratação, alimentação, transporte e estadia do elenco. O cinema, por várias razões, exige orçamentos maiores quando comparado a outras manifestações artísticas produzidas de maneira independente.

Gabriel Borges é bacharel em Cinema e Audiovisual e atua como curador, diretor e produtor em Ponta Grossa. Ele explica que, aliada aos custos altos, a não valorização da produção cinematográfica  como uma indústria criativa e econômica faz com que os recursos destinados pelos órgãos públicos ao setor sejam insuficientes. “São poucos recursos que vêm para o cinema, e eles não conseguem garantir a continuidade da produção”, desabafa o diretor. Borges explica ainda que o apoio e o financiamento público são fundamentais para estimular a indústria audiovisual na cidade, isso porque ainda não existe no município um mercado para esse tipo de produção, o que dificulta a renda e a manutenção do negócio.

Outra dificuldade apontada por quem atua na área é a não profissionalização. O cinema ainda não é considerado, em âmbito local, uma profissão. A falta de instituições de ensino da cinematografia em Ponta Grossa contribui para  esse problema. Segundo Borges não há incentivo à entrada de novas pessoas no mercado, e os profissionais que existem na cidade são insuficientes para manter o fluxo de produção.  

 

Apesar dos incentivos as dificuldades influenciam a produção independente

Apesar dos incentivos, as dificuldades influenciam a produção independente | Arte: Maria Vitória Carollo

 

Perspectivas

Apesar dos desafios, há algumas mobilizações locais de incentivo à cultura do cinema, com a realização de workshops, mostras gratuitas e, também, a produção de filmes com recursos de editais públicos.

Uma das fontes de recursos mais expressivas vem da Lei Paulo Gustavo (nº 195/2022), que destina mais de 3 bilhões de reais ao setor cultural no Brasil. Dos R$203,4 milhões que o estado do Paraná recebeu, Ponta Grossa é a 4ª cidade com o maior valor de repasse, o qual chegou a R$2,7 milhões na primeira distribuição. Homologado em dezembro de 2023 pela Secretaria Municipal de Cultura, o edital com os resultados dos projetos contemplados pela lei inclui 22 propostas de produção audiovisual. Dentre eles, filmes de média e curta metragem de ficção, animação e documentários,programas culturais ou televisivos para web, videoclipes e vídeos curtos gravados e editados em celular.

Gabriel Ipólito é professor de inglês e ator. Para ele, o cenário do cinema está em crescimento, apesar das dificuldades. Atualmente, há mais pessoas e grupos organizados para começar a produzir, estudar e realizar ações formativas. Ele afirma que o crescimento das produções inicia um ciclo positivo. “Cada produção incentiva que haja mais produções; mais pessoas começam a fazer e ver que tem gente fazendo cinema, e que isso é viável e possível”, salienta Ipólito. O ator explica que as leis e editais de incentivo à produção audiovisual acabam estimulando esse ciclo positivo em nível local, regional e nacional. 

A jornalista Luiza Stemmler, analista de conteúdo e pós graduada em intermídias visuais, tem uma visão parecida. “O cinema tem muita oportunidade, ele tá ‘engatinhando’ ainda na cidade. Até por causa disso, a gente criou um coletivo, porque a gente vê essa chance de impulsionar o cinema, a formação de profissionais e o incentivo, por parte do governo e, também, de empresários”, afirma.

 

O Coletivo Inajá

O Inajá é um coletivo que atua na produção, exibição e educação em cinema em Ponta Grossa. Formado por cinco ponta-grossenses que se conheceram na produção do longa-metragem Ponta Grossa, não sei se te amo e  em outros eventos da área. Após o término das gravações, decidiram dar continuidade às produções e a movimentar a cena do audiovisual na cidade.

Até o mês de junho, o grupo realizava quinzenalmente o Cineclube Inajá, com sessões gratuitas de filmes de países, épocas e equipes diversas. O objetivo é ampliar o acesso e promover debates intelectuais. “A gente engrandece o nosso repertório e tudo isso reflete nas nossas vidas, escolhas e forma de enxergar o mundo. É abrir portas para novas perspectivas [...] Dá margem para discussões inteligentes e para mais conhecimento”, afirma Luiza. 

No dia 27 de junho, o Coletivo Inajá divulgou por meio de suas redes sociais a suspensão das atividades do grupo. Parado por tempo indeterminado, o coletivo prometeu reformular o Cineclube e afirmou que a decisão ocorreu por motivos que não estão ao alcance da instituição.    

 

Ficha técnica:

Produção: Maria Vitória Carollo

Edição e publicação: Diogo Laba e Nicolle Brustolim

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado