Campeonato de surdoatletas é uma das ações realizadas na cidade

Em Ponta Grossa, iniciativas de apoio a pessoas com deficiência auditiva, em parceria com projetos da Escola de Educação Bilíngue para Surdos Geny de Jesus Souza Ribas, são responsáveis pela realização de atividades para promover a inclusão de pessoas surdas e do ensino de Libras. As ações são apoiadas pela Fundação de Assistência Social e a Secretaria Municipal de Políticas Públicas Sociais.

 Nos dias 8 e 9 de junho, a Federação Desportiva de Surdos do Paraná (FDSP) organizou a primeira etapa do Campeonato Paranaense de Tênis de Mesa para Surdos em Ponta Grossa, no Ginásio da Pessoa com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi. A federação é responsável pela organização de diversos eventos e campeonatos que incluem os surdoatletas. Além de ceder espaço para a realização do campeonato, o ginásio oferece  aulas de futsal para surdos, modalidade em que a equipe masculina ponta-grossense se consagrou campeã paranaense no mês de maio. Na categoria feminina, cinco atletas foram convocadas para integrar a seleção paranaense no campeonato brasileiro. Os profissionais do local também ministram aulas de judô para crianças surdas na escola Geny Ribas.

De acordo com o diretor do Ginásio Jamal Farjallah Bazzi, Fabiano Gioppo, o esporte é uma das principais formas de integração social das pessoas surdas. Afirma que o ginásio sempre toma medidas para garantir essa inclusão, como alterações estruturais e disponibilização de intérpretes.“De todas as formas, tentamos incluí-los para que eles possam ter pleno acesso aos eventos e às aulas”. 

A FDSP é uma entidade estadual fundada em 10 de agosto de 1991 que tem como  objetivo promover a prática esportiva entre pessoas surdas e com diferentes graus de deficiência auditiva. A FDSP é ligada à Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), única entidade responsável pela organização de práticas desportivas individuais e coletivas com pessoas surdas (surdoatletas). O trabalho na FDSP é de caráter voluntário.

Em alusão à língua de sinais os alunos da Escola Geny Ribas fizeram artes com as mãos

Em alusão à língua de sinais, os alunos da Escola Geny Ribas fizeram artes com as mãos | Foto: Ana Beatriz de Paiva

 

Associação dos surdos de Ponta Grossa

A Associação dos Surdos de Ponta Grossa (ASPG) é responsável por acolher e integrar os surdos na cidade, além de promover atividades que estimulam a cultura, o esporte e o ensino. A associação foi fundada em 2001 e é uma entidade social sem fins lucrativos que tem como principal objetivo integrar essas pessoas a partir de trabalhos voltados para a cidadania, crescimento, pertencimento e valorização da língua e da cultura surda.  A instituição conta com a participação de voluntários.

A presidente da ASPG, Bruna Bueno, explica como ocorre a inclusão. “Nós promovemos jogos, campeonatos, momentos de interações sociais.  Também temos assembleias abordando diversos temas voltados aos surdos e à sociedade em geral”. De acordo com a ASPG, a sociedade precisa ser informada para combater o preconceito e o capacitismo. Bruna afirma que há poucas ofertas de inclusão. As instituições sociais deveriam disponibilizar mais intérpretes de Libras para facilitar a comunicação com a sociedade. “Entregamos ofícios para várias entidades com a finalidade de conscientizar sobre o respeito e a inclusão às pessoas surdas”, explica a presidente.

 

Inclusão dos surdos na educação

Atualmente, a Escola Geny Ribas é o único colégio bilíngue na cidade de Ponta Grossa (Português e Libras) e região. A instituição conta com educação infantil, ensino fundamental até o quinto ano e Educação de Jovens Adultos (EJA). Também abriga a Associação Comunitária de Apoio, Atendimento e Assessoramento ao Surdo (ACAp).

A fundação da escola foi autorizada pela Secretaria Municipal de Educação em 1977, após duas mães de crianças surdas buscarem uma educação de qualidade para seus filhos. Na época, as crianças eram consideradas ‘deficientes de áudio-comunicação’,  e estavam matriculadas em escolas especiais para deficientes mentais, devido à falta de trabalhos específicos para surdos. A primeira turma da Escola Geny Ribas era composta por dois alunos e as aulas eram ministradas em uma das salas da Biblioteca Municipal.

Araceli Cristina Lopes é pedagoga da escola e conta como é o aprendizado dos alunos. “Nós fazemos projetos para imersão na Libras. Nossa pedagogia é mais visual, porque os surdos são muito visuais.” A professora afirma que trabalha Libras como primeira língua, e posteriormente, português. . Além das línguas, a escola ministra aulas de disciplinas básicas como matemática e história. A pedagoga fala sobre a ocupação do lugar pelos alunos. “Aqui é o espaço deles, tudo é voltado para eles [surdos], o planejamento e os projetos são todos pensados a partir das demandas dos nossos alunos”. 

A professora Luciane David, que dá aulas na escola, fala sobre a necessidade do ensino da Língua Portuguesa. “A inclusão na sociedade se dá por meio da Língua Portuguesa escrita, porque é mais difícil que eles [surdos] encontrem a língua de sinais lá fora.” Além do ensino da língua, existem projetos no contraturno para o desenvolvimento social. A Escola Geny Ribas também disponibiliza cursos de Libras para famílias, para facilitar a comunicação com as crianças surdas.

Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o curso de licenciatura em Letras, do Departamento de Estudos e Linguagem (DEEL), passou a oferecer, a partir de 2023, a habilitação em Libras. A partir deste ano, a graduação se tornou unificada e os alunos possuem uma grade única, e só decidem a língua específica (inglês, espanhol, francês ou libras) no segundo ano do curso.

 

Diferença entre surdo e deficiente auditivo

O termo deficiente auditivo é comumente associado a pessoas surdas, no entanto, a terminologia não é utilizada de maneira correta. A nomenclatura ‘surdo’ se refere a indivíduos que já nascem com surdez profunda, independente se é unilateral ou bilateral. Caracteriza-se quando a pessoa já nasce sem audição e se desenvolve por meio da alfabetização em Libras. Além disso, o termo surdo-mudo é considerado pejorativo e ultrapassado e não deve ser utilizado para se referir a pessoas surdas.

Já a terminologia ‘deficiente auditivo’ se refere a indivíduos que sofreram perdas auditivas ao longo da vida. O artigo quatro do Decreto Federal 3298/1999 define quais pessoas podem ser consideradas deficientes. “Indivíduo que possua perda auditiva bilateral parcial ou total de 41 decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma, na média das frequências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz”.

No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas possuem deficiência auditiva em algum nível e 2,7 milhões têm surdez profunda, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até o ano de 2050, o mundo terá mais de 1 bilhão de pessoas com algum grau de deficiência auditiva.

Os direitos das pessoas surdas são garantidos por meio do Estatuto da pessoa com deficiênciae o artigo 4 dessa lei diz que “toda pessoa com deficiência tem direito a igualdade de oportunidade com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

26 de setembro marca o Dia Nacional do Surdo. Data que homenageia a fundação da primeira Escola de Surdos do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1857. Atualmente, o local é conhecido como Instituto Nacional de Surdos (INES). Além da data comemorativa, oficializada em 2008, por meio do decreto de lei número 11.796. Outra grande conquista dessa comunidade é o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como idioma oficial do Brasil instituída pela Lei 10.436, de 2002 e pelo decreto número 5.626/2005.

 

Ficha técnica:

Produção: Ana Beatriz de Paiva

Edição e publicação: Diogo Laba e Nicolle Brustolim

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado