Segundo a Superintendência de Trânsito e Segurança Viária, os registros de 2024 já ultrapassam os dos últimos dois anos

 

Nos últimos anos, Ponta Grossa apresenta aumento nos casos de violência e infrações no trânsito. De acordo com levantamento realizado pela Superintendência de Trânsito e Segurança Viária de Ponta Grossa, foram registrados 12 casos de infrações de trânsito em 2022, por condução de veículo sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa. O crime é previsto nos artigos 165 e 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Em 2023, esse número saltou para 39 casos, e, no primeiro semestre de 2024 já foram contabilizados 56 casos. 

Os crimes de trânsito são detalhados nos artigos 302 a 309 do CTB, e abrangem desde homicídio culposo, quando o condutor do veículo não deseja causar o óbito, mas sua conduta negligente resulta na morte de outra pessoa, até embriaguez ao volante. O aumento significativo dos casos não só representa um desafio para as autoridades de trânsito, como também impacta diretamente a segurança e a qualidade de vida da população. 

 

TRÂNSITO Igor Vieira

O primeiro semestre de 2024 registrou 17 casos de violência no trânsito a mais que em 2023, e 44 a mais que em 2022 | Foto: Igor Vieira.

 

A condutora Giovana dos Santos, de 21 anos de idade, foi vítima de perseguição no trânsito no final do ano passado, após o condutor de uma caminhonete quase bater em seu carro ao desrespeitar o sentido e a sinalização da rua Catão Monclaro. Neste local, a rua se divide em duas vias. A da esquerda é para os condutores que vão seguir em frente , já os que estiverem na da direita, devem obrigatoriamente virar nesse sentido. Nesse dia, o condutor da caminhonete que se encontrava na via da direita fechou o carro de Giovana, que estava à esquerda. “Ele arrancou junto comigo, quase batendo o carro no meu. Ficou extremamente transtornado por um erro dele e me seguiu até o Condor do Jardim Carvalho, onde chamei ele pra encostar e resolvermos. Ele fugiu”, comentou a jovem.

A dificuldade é maior para condutores que vêm de outras cidades. Matheus Kugler, de 21 anos, mora em Castro e diversas vezes vem para Ponta Grossa. Em dezembro de 2023, ao passar pela avenida próxima ao Shopping Palladium, teve seu retrovisor chutado por um motoboy que passava ao lado do seu carro, quando ele possivelmente cometeu um erro. “Foi uma atitude desnecessária por parte dele. Entendo que é a profissão deles e que estão sempre na correria, mas poderia ter um desfecho mais tranquilo”, afirmou o jovem. 

Outra vítima de violência no trânsito foi a professora Ione Jovino. Em agosto de 2022, ao voltar para casa com  as duas filhas, ela teve o veículo danificado de maneira violenta por um condutor. Ao parar na preferencial de um cruzamento e ver um carro parado com as luzes apagadas, a professora seguiu o caminho de maneira cautelosa e lenta, caso precisasse parar para outros automóveis seguirem. Neste momento, outro veículo vem em alta velocidade e quase colide com o dela. “Tinha espaço suficiente para ele passar e eu seguir a minha rota. Esse cara parou o carro de frente ao meu, olhou para mim e jogou o carro de maneira violenta contra o meu”.

Ione afirma que neste meio tempo, o motorista percebeu que além dela havia duas crianças no carro. Após colidir intencionalmente contra o carro da professora, o condutor saiu derrapando pneus. “Ele acabou com a frente do meu carro, ficou pedaços da lateral do parachoque dele na frente do meu carro [...] Dei graças que ele foi embora, pois uma pessoa em um ataque de fúria desses, se estivesse armado ia ser uma tragédia”, afirma. 

As autoridades de trânsito não estão isentas da violência. Viviane Pinheiro é Agente de Trânsito e, em um episódio ocorrido em 2019, enquanto fazia uma notificação por infração de trânsito, uma mulher a agrediu. Além disso, Viviane compartilhou que suas colegas de trabalho também já sofreram agressões no exercício da profissão.

Educação no trânsito

O direito de dirigir se dá após a pessoa avaliada mostrar aptidão ao passar pelos diferentes procedimentos avaliativos, como o teste psicotécnico. Renata Merejoli Torres é psicóloga especialista em trânsito e trabalha para três clínicas credenciadas ao DETRAN. Ela explica que a avaliação psicológica tem como finalidade identificar se o candidato está em condições intelectuais, físicas e motoras para dirigir. Renata comenta que o caráter imediatista da sociedade contemporânea acaba sendo um fator importante para o aumento da violência no trânsito. “Acredito que pela globalização, a questão da internet, a gente anda muito imediatista, e com isso as pessoas estão perdendo a empatia. Todo mundo anda com pressa e, por conta disso, acabamos sendo negligentes e provocamos comportamentos agressivos, desnecessários no trânsito”, pontua.

Para a psicóloga é necessário que a educação no trânsito venha desde a escola. Ensinar a sinalização para as crianças desde pequenas “planta uma sementinha”, e faz com que elas cobrem comportamentos corretos de seus pais. Talvez se a gente retornasse para uma educação voltada ao trânsito, a qualidade dele fosse melhor”, completa.

 

Ficha Técnica

Produção: Luísa Andrade

Edição e publicação: Laura Urbano, Maria Vitória Carollo e Mariana Real

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado