A moeda, criada na década de 1990, foi responsável por estabilizar a inflação e a economia brasileira

 

Em 2024, o Plano Real completou 30 anos. A medida foi implantada durante o governo de Itamar Franco com o objetivo de amenizar a inflação vigente na época. A nova moeda cumpriu com o seu objetivo e durante os primeiros anos de circulação, um real era equivalente a um dólar. De acordo com o Banco Central do Brasil, em 1994 a inflação alcançava índices altíssimos de 47,7% ao mês e 4.922% ao ano antes da implantação desse plano. Os produtos básicos naquele período sofriam oscilações de preços mais de uma vez ao dia.

 No site do Banco Central é possível encontrar a calculadora do cidadão. Ela aponta que em 2024, para o brasileiro ter o mesmo poder de compra equivalente a um real em 1994, seria preciso desembolsar R$ 8,08. A agência classificadora de risco de crédito Austin Rating apontou recentemente as moedas mais desvalorizadas do mundo. No ranking, o real brasileiro ocupa a 5° posição, com uma desvalorização de -14,6%, atrás apenas das moedas da Nigéria (-42,6%), Egito (-35,8%), Sudão do Sul (-29,9%) e Gana (-21,9%).

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 Moedas desvalorizadas no mundo. | Crédito: Ana Beatriz de Paiva

José Renato Olszewski é economista e explica que na década de 1990, o real foi responsável por trazer estabilidade econômica para o Brasil. “Juntamente com o plano real, vieram outros adventos responsáveis por modernizar a economia”. Olszewski comenta como a desvalorização da nossa moeda pode impactar a vida dos brasileiros: “as famílias hoje, com a mesma renda, compram menos. Esse processo afeta diretamente o fluxo circular da economia e a queda atinge a indústria”.

O economista observa que dentre as principais explicações para a desvalorização de uma moeda está o endividamento do setor público. “O governo precisa fazer o pagamento de juros pelo déficit primário gerado, há uma transferência de recursos financeiros que poderiam ser investidos no crescimento da economia, mas foram para pagamento de juros”. Além disso, o comércio internacional se torna outro polo responsável pela desvalorização, visto que há grande procura pelo dólar, moeda em comum entre os países, para a realização de transações internacionais. “É importante entender que a moeda mais utilizada no mercado é o dólar, e o Brasil precisa da moeda internacional para fazer frente aos pagamentos de importações. Assim funciona a lei da oferta e da procura, quanto mais se procura uma moeda no exterior, maior é o preço que irá ser pago nela”, esclarece.

A desvalorização da moeda e o consequente crescimento no preço de produtos básicos afetam diretamente os comerciantes. Vladimir Axt é dono de um pequeno negócio em Ponta Grossa. Ele afirma que com o aumento dos preços, seus clientes pagam o mesmo valor para quantidades cada vez menores. Além da compra dos produtos gerar lucros menores para o seu negócio. “Quando o valor das mercadorias sobe, os dois lados perdem, tanto eu como vendedor, porque preciso diminuir o lucro para o valor do produto não ser tão alto para os clientes. E os clientes pagam o mesmo valor por quantidades menores de produtos”. Ele relata que procura equilibrar os preços das mercadorias para não prejudicar os compradores. 

Diva dos Santos é dona de uma mercearia. Costuma fazer compras para seu negócio a cada 15 dias e percebe o aumento regular dos preços a cada transação. “Toda vez que faço compras, o valor aumenta. Então, como forma de manter meu negócio, preciso reajustar o valor dos meus produtos frequentemente”. A comerciante conta, ainda, que parou de vender alguns itens devido aos altos valores e a baixa procura em sua região. Como uma forma de alavancar o seu comércio, Diva destaca que em períodos próximos a datas festivas ou comemorações, investe em produtos específicos, que geralmente não são comercializados por ela durante outras épocas do ano.

 

Os preços no início do Plano Real

De acordo com o Banco Central, em 1994, o valor do salário mínimo era de 64,79 reais, o que equivaleria a R$523,52 corrigidos pela inflação dos dias atuais. Em 2024, o valor é de R$1.412.

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1994, uma cesta básica poderia ser comprada por R$67,40, o que em valores atuais, corrigidos pela inflação, seria o equivalente a R$544,61. Atualmente, o valor de uma cesta básica é de R$809,77.

Já o preço do litro da gasolina na maior cidade do Brasil (São Paulo) era de R$0,55, o que equivaleria a R$4,44 nos dias de hoje. No entanto, atualmente o valor do litro da gasolina em São Paulo é de R$5,66 segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

 

Histórico da moeda brasileira

Durante o governo de Itamar Franco, o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso foi responsável por elaborar o Plano Real, implantado no dia 1 de julho de 1994, com o objetivo de reorganizar a economia brasileira. Nos anos 1990, a inflação no Brasil atingia níveis altíssimos,  e o cruzeiro, moeda vigente na época, valia cada vez menos do que o dólar e os preços de alimentos, gasolina e prestações subiam descontroladamente. Ao longo dos primeiros quatro anos da implementação do plano, o valor do real foi estável, sofrendo apenas em 1998, uma pequena inflação de 1,5%. 

Na atual economia, a situação é diferente. Para se comprar um dólar, o brasileiro precisa desembolsar cerca de cinco reais e cinquenta centavos. Atualmente, de acordo com o IBGE, o governo federal utiliza o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como “índice oficial da inflação no Brasil’’. Este serve de referência para as metas de inflação e para as alterações nas taxas de juros. O IBGE divulga o índice regularmente desde 1980. Segundo o IPCA, houve uma alta geral dos preços de 521% desde o primeiro dia em que o real passou a circular.

 

Ficha Tecnica: 

Produção: Ana Beatriz de Paiva

Edição e publicação: Mel Pires e Luisa de Andrade

Supervisão de produção: Carlos de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado