Corpo de Bombeiros de PG registrou 138 ocorrências em setembro

Ponta Grossa é a cidade paranaense com o maior número de incêndios florestais, de acordo com dados do 2º Batalhão do Corpo de Bombeiros (2° GB). O aumento do registro de queimadas, no período entre janeiro e setembro de 2024, foi de mais de 300% em comparação ao ano inteiro de 2023. Mesmo faltando três meses para o fim doo ano, o 2º GB já registrou 681 ocorrências em 2024, que já superam os 215 casos de 2023. Ao todo, o Paraná soma mais de 11 mil queimadas neste ano. As mudanças climáticas mundiais, longos períodos de estiagem, baixa umidade e a seca da vegetação e do ar são fatores que favorecem o surgimento de incêndios, muitos destes de natureza criminosa

Vários fatores causam incêndios florestais, inclusive a irresponsabilidade humana. Para que as queimadas ocorram, é necessário o acúmulo de biomassa, condição que favorece o ressecamento da vegetação e uma fonte de calor para iniciar o fogo, que pode ser de origem natural ou criada intencionalmente. De acordo com os dados da Polícia Federal (PF), em 2024 foram abertos 101 inquéritos que buscam investigar queimadas intencionais e responsabilizar os criminosos. A investigação envolve o uso de imagens de satélite e envio de peritos aos locais para identificar a origem do fogo. No estado do Paraná não há registros concretos sobre a origem dos focos de incêndio. Selene Leal é bióloga do Instituto Água e Terra e relata que há queimadas provocadas intencionalmente, mas que, na maioria dos casos, é difícil comprovar a origem do fogo. 

A bióloga explica, ainda, que a mudança climática é realidade global e que mesmo ciente desse fato, o poder público e a sociedade são negligentes com as políticas públicas e com a proteção ambiental. Segundo Selene, o desmonte de estruturas das políticas públicas de meio ambiente e a precarização do trabalho de agentes fiscais, desde 2018, resultaram na redução da fiscalização, aplicação de multas e má preservação dos biomas. “Enquanto não começarmos a ter pautas ambientais no poder público, planos de governo que foquem em educação ambiental, apoio a energias renováveis e penalidades rígidas a grandes empresas que não se adequam a práticas sustentáveis, vamos tentar apagar o fogo com gasolina”, ressalta a bióloga.

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Até setembro de 2024, foram registrados mais de 600 casos de incêndios florestais em Ponta Grossa | Foto: Annelise dos Santos

A moradora da Vila Vicentina, Letícia Nievola avistou um incêndio próximo à sua casa. O Cemitério Vicentino, nas proximidades da residência, foi tomado pelas chamas e os moradores da região sentiram a mudança na qualidade do ar. “Todos nós estamos sofrendo com problemas respiratórios, como rinite e alergias. Pessoalmente, tenho até notado sangramento nasal e dificuldade para respirar e dormir. A fumaça é visível a olho nu, o que só piora a sensação de desconforto”. Ela se preocupa com a falta de conscientização da população a respeito da preservação ambiental e critica as queimadas criminosas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo, cerca de 7 a 9 milhões de mortes prematuras anuais podem ser atribuídas à inalação de ar de má qualidade. Os principais riscos à saúde envolvem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e respiratórias. A médica de família e comunidade do Sistema Único de Saúde (SUS) Mayara Floss, afirma que a inalação de grandes quantidades de fumaça seria o equivalente a toda a população se tornar fumante passiva.

Mayara afirma que as partículas que poluem o ar são até 20 vezes mais finas que um fio de cabelo, por isso são responsáveis por causar irritações e inflamações. Os principais sintomas da inalação de fumaça tóxica são irritação nas mucosas, tosse, ardência nos olhos e mal-estar. Mayara explica quais cuidados devem ser adotados pela população em períodos de secas e queimadas. “O ideal é não sair de casa sem necessidade, manter portas e janelas fechadas, evitar atividades ao ar livre, utilizar máscaras N95 durante as saídas, beber bastante água, usar colírios lubrificantes nos olhos e ficar atento a tosse e mal-estar para buscar ajuda profissional caso seja necessário”, destaca.

Mayara ainda conta que notou que mais pessoas buscaram atendimento médico por problemas respiratórios, cardiovasculares e questoẽs oculares em decorrência do crescimento no número de incêndios. Além disso, também houve um aumento no número de internações e mortes por poluição do ar. “Para cuidarmos da nossa saúde será necessário parar as queimadas, responsabilizar as pessoas culpadas e reflorestar nossos biomas. Caso contrário, a consequência é enfrentarmos mais secas e mais instabilidade”, enfatiza.. 

A população tem sentido as consequências da péssima qualidade de ar, especialmente os que já possuem algum problema respiratório crônico. Marina Troyner tem asma e afirma que em períodos de seca precisa dobrar a dosagem de sua medicação diária. “Além da dificuldade para respirar, os quadros de irritação na garganta têm desencadeado otite e secreção no ouvido. Esses estão sendo sintomas recorrentes nos últimos dias”. 

O Ministério da Saúde orienta que, em caso de incêndio, os bombeiros devem ser acionados imediatamente, por meio do 193. Além disso, os grupos de risco, como crianças menores de 5 anos, gestantes e idosos devem ter atenção redobrada às recomendações médicas e ficar atento ao agravo de sintomas respiratórios.

 

Ficha Técnica

Produção: Ana Beatriz de Paiva e Annelise dos Santos

Edição: Laura Urbano, Maria Vitória Carollo e Mel Pires

Publicação: Mel Pires

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado