Treinos para maratonistas oferecem ganhos à saúde cardiovascular e mental, mas exigem cuidados com o corpo para evitar lesões
Treinar para uma maratona é um desafio que vai além da superação física. Para as mulheres maratonistas, a preparação envolve não só resistência mental e física, mas também alta performance e a superação de barreiras sociais. Com uma rotina de treinos exaustiva, as atletas precisam conciliar dedicação, saúde e, em alguns casos, preconceitos que persistem nesse ambiente.
A preparação de atletas maratonistas demanda planejamento minucioso, dividido em diferentes fases, que vão desde a construção de resistência física até o período de recuperação pré-prova. Normalmente, os treinos variam entre seis e sete dias por semana, incluindo longas corridas, trabalho de força muscular e dias reservados aos treinos de recuperação. Para muitas dessas atletas, conciliar essa carga horária com a vida pessoal e profissional é um dos maiores desafios.
Larissa Aparecida Vieira é diretora de escola municipal em Ponta Grossa e se considera atleta amadora. Ela conta que pratica corridas há sete anos, mas ainda assim enfrenta muitos desafios. “É uma rotina que exige muita organização e disciplina. Preciso sempre manter o foco no meu trabalho e nos meus treinos que, normalmente, acontecem à noite”. A atleta afirma que a corrida beneficia sua saúde mental, pois os treinos proporcionam tempo “para pensar, se distrair e esquecer um pouco da correria do dia a dia”. Ela já correu 13 meias maratonas (21km) e três maratonas (42km), em Florianópolis, Curitiba e uma em Ponta Grossa. Atualmente, Vieira tem feito treinos mais curtos em relação às provas, com distâncias de oito quilômetros.
A Maratona Internacional de Florianópolis conta com percursos de 5km, 21km e 42km
Treinar para uma maratona melhora significativamente o condicionamento físico e a resistência cardiovascular, além de fortalecer músculos e ossos. Irineu Loturco é fisiologista do Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo e conta que, no processo de uma prova, microlesões nos músculos das pernas acontecem por conta do atrito na aterrissagem e provocam a diminuição da rigidez muscular. Em razão disso, recomenda musculação simples e treino de flexibilidade, para ajudar na ampliação da passada e na corrida, reduzindo, assim, os gastos de calorias na atividade.
Um dos fatores mais relevantes para evitar problemas de saúde ao treinar para maratonas é contar com o suporte de profissionais da educação física e da saúde. Eles podem criar planos de treino ajustados à realidade de cada atleta, levando em consideração a sua condição física e objetivos. O educador físico Cláudio Lafemina explica que os treinos de fortalecimento muscular devem ser feitos ao longo de toda a preparação. “Eles melhoram a capacidade respiratória e a resistência do corpo aos impactos da corrida”. Lafemina pontua ainda que a musculação melhora a capacidade metabólica, promove a perda de gordura e o aumento de massa magra.
Os riscos não podem ser ignorados
Por mais que haja benefícios, um dos principais perigos da corrida está relacionado ao impacto excessivo nas articulações e nos efeitos que o esforço físico extremo pode ter sobre o corpo, como a insuficiência renal temporária. Um estudo da Universidade Yale, publicado no American Journal of Kidney Diseases, mostrou que 82% dos maratonistas apresentam sinais desse problema após uma prova, devido à desidratação e ao aumento da temperatura corporal.
A síndrome de overtraining também é uma realidade para muitos atletas. Este problema acontece quando o corpo é submetido a um esforço contínuo sem tempo suficiente para recuperação. O resultado pode ser queda no desempenho, cansaço extremo e maior possibilidade de lesões. Isso reforça a importância de um planejamento de treinos que equilibrem carga, descanso e hidratação.
Depois de correr sua segunda maratona em 2018, Victória Cardoso Melo sentiu que seu corpo não apresentava os resultados esperados por ela e seu treinador. “O meu desempenho foi ladeira abaixo. Eu não estava conseguindo aumentar minhas passadas e muito menos o fôlego que eu tinha antes”. Victória enfatiza a importância da ajuda psicológica, já que o cansaço mental também é uma realidade para atletas de corrida.
Vieira destaca o desgaste em função de uma alimentação e hidratação inadequada, pois muitos atletas amadores passam mal e perdem muito peso em função disso. “Um erro ou um descuido em um treino de duas horas que cause uma lesão pode fazer com que o atleta demore meses para se recuperar”, pontua.
Ficha Técnica
Produção: Lucas Veloso
Edição e publicação: Laura Urbano e Maria Vitória Carollo
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado