Projeção indica que a obesidade infantil pode atingir 20 milhões de indivíduos
O Brasil pode ter 50% das crianças e adolescentes entre 5 a 19 anos com obesidade ou sobrepeso até 2035, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2024, lançado em março deste ano pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation, na sigla em inglês WOF). Em outra pesquisa apresentada no Congresso Internacional sobre Obesidade deste ano, em São Paulo, mostra que se os índices atuais permanecerem, as taxas de obesidade aumentarão em meninos e meninas de todas as idades nos próximos 20 anos.
A previsão é de que a obesidade alcance 24% entre crianças de cinco a nove anos, 15% entre as de 10 a 14 anos e 12% entre os adolescentes de 15 a 19 anos até 2044. A pesquisa foi conduzida pelos pesquisadores Ana Carolina Rocha de Oliveira, do Instituto Desiderata, do Rio de Janeiro, Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília, e colegas.
A profissional de educação física, Keyla Gabrielli de Oliveira, que desenvolveu a pesquisa “Aulas de Educação Física como prevenção de obesidade infantil” como trabalho de conclusão de curso, afirma que além da obesidade ser uma doença ela também pode causar outros problemas. “A obesidade é uma doença inflamatória tanto no corpo do adulto quanto no da criança, e por conta deste estado a criança pode desenvolver diabetes, aumento de pressão arterial, doenças cardiorrespiratórias e algumas doenças de pele”, explica a profissional.
Keyla destaca que a obesidade pode afetar o desenvolvimento da criança. Se a criança desenvolver alguma doença, pediatra e nutricionista a tratam como um indivíduo que possui doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). “A obesidade é uma DCNT. Ela é crônica por ser uma doença inflamatória que pode acompanhar a criança para o resto da vida e que pode comprometer o seu desenvolvimento se não for tratada”, alerta.
Segundo a profissional de educação física, a obesidade é uma doença multicausal que ocorre pelos maus hábitos, como não praticar atividades físicas, não se alimentar corretamente e possuir problemas sociais do meio em que a criança está inserida. Além disso, a criança pode ter problemas psicológicos causados pela doença, pois possuem esta carga genética por terem pais ou avós com obesidade. “Atualmente, no mundo estamos passando por um processo onde temos acesso a comida com muita facilidade., Principalmente através dos aplicativos de comida, recebemos o pedido em casa, nisso já perdemos a ida ao mercado e o momento de preparo da refeição que já é uma atividade”, comenta a profissional.
Keyla afirma que nossa sociedade tem cada vez mais acesso a telas e comodidade sem praticar atividades físicas. A compra de comida por aplicativos foi absorvida por crianças, fato que contribui para a obesidade infantil. “Na nossa sociedade, há muitas pessoas com obesidade e sobrepeso, e consequentemente eles vão ter filhos que vão ter esta carga genética. Isso vai fazer com que a porcentagem mundial de obesidade atinja índices inimagináveis”, relata Keyla. A profissional reforça que nesta projeção há o risco de obesidade mórbida, que pode futuramente causar um colapso no sistema de saúde.
A profissional relata que, se a sociedade não mudar tanto a sua forma de pensar quanto os hábitos, e repassar isso para as crianças, vamos caminhar para um futuro em que 100% das pessoas vão ter problemas de saúde por causa da obesidade.
Suzane Freitas, mãe de duas crianças, Felipe (14), e Leonardo (5), relata que seu primeiro filho foi diagnosticado com sobrepeso quando tinha sete anos. “O pediatra me instruiu a fazer com que meu filho fizesse as refeições nos horários certos de forma balanceada e diminuir as ‘’besteiras’’, como as bolachas recheadas”, comenta. Suzane relata que antes seu filho não comia nenhum alimento saudável e gostava de comer muita bolacha, chocolate e salgadinho, mas, após muitas conversas, começou a diminuir o consumo destes alimentos.
De acordo com Suzane, seu filho Felipe começou a praticar mais esporte principalmente depois que mudou de escola. Por Felipe estar na pré-adolescência, agora ele se preocupa mais com a saúde e estética. “Optei pelo meu filho fazer acompanhamento com o pediatra para acompanhar o desenvolvimento dele, pois era algo que eu dava atenção, porque a família do meu marido tem problemas com obesidade”, conta a mãe.
Luciene dos Santos, mãe de Carlos (23) e Gustavo (15) conta que ambos tiveram sobrepeso desde os dois anos até a pré-adolescência. “Eu tentava cuidar muito da quantidade de comida que eles consumiam, tanto que cortei bolacha e refrigerante, mas eles mudaram os maus hábitos de alimentação conforme foram crescendo”, relata. De acordo com Luciene, seus filhos não se importavam com o peso e a preocupação era somente dela, tanto que além do acompanhamento com o pediatra seus filhos também faziam exames com frequência.
Como prevenir
A médica endocrinologista Janete Machozeki diz que os pais devem sinalizar a doença no histórico familiar quando procurarem ajuda médica já que a obesidade pode ser genética. Janete diz que os pais precisam cortar carboidratos e alimentos como doces, bolachas e refrigerantes nas refeições das crianças, além de incentivá-las a brincar, pois esta é a melhor forma de queimarem calorias.
A endocrinologista comenta que não há nenhuma medicação aprovada para crianças, portanto o tratamento depende de uma alimentação saudável aliada à atividade física e o incentivo dos pais. “Quando a criança quer emagrecer e isso parte dela, ela está envolvida no processo por conta do incentivo dos pais, e isso facilita todo o processo”, menciona.
Keyla aconselha que os pais controlem o tempo em que as crianças passam na frente das telas, além de cuidarem dos alimentos que elas consomem desde o início da introdução alimentar ainda quando bebês. “Para a criança se desenvolver, precisa de uma alimentação saudável com alimentos in natura, pois os alimentos ultraprocessados possuem uma quantidade muito grande de hormônios, gorduras saturadas e açúcares adicionados que só fazem mal”, relata a profissional de educação física.
Para Keyla, o desenvolvimento infantil será melhor se houver equilíbrio alimentar e prática de esportes, já que a criança se torna, aos poucos, um adolescente e adulto saudável. A profissional cita que a partir do momento em que a criança é inflexível com relação à alimentação, e ela se torna uma criança com sobrepeso, as chances de ser um adulto com sobrepeso e obesidade são muito grandes. Keyla ainda reforça que na fase adulta é mais difícil convencer o indivíduo a mudar seus hábitos para aderir uma vida saudável.
Ficha técnica
Produção: Tayná Landarin
Edição e publicação: Annelise dos Santos, Betania Ramos da Silva e Mel Pires
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado