Políticas públicas adotadas pelos órgãos não englobam a situação das calçadas, ruas e transporte público para pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual. Além disso, o comércio também ainda não se adequou para atender esse grupo social.
Dificuldades cotidianas
Ana Patrícia Carneiro Franco, de 25 anos, é aluna da Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual (APADEVI) desde os 12 anos de idade. Ela nasceu com uma degeneração progressiva na retina e, no período da adolescência, Franco foi perdendo a visão. Primeiramente, perdeu a visão central e depois parte da periférica. A rotina de Ana Patrícia começa na Apadevi no período da manhã. Ela sai de sua casa e vai até a ONG. Depois, vai da associação ao estágio, onde fica até as 18 horas. Sua última parada é na faculdade Sant’Ana, onde cursa educação física, até as 22 horas. Para todas as locomoções entre os locais, Ana utiliza o transporte coletivo.
No terminal, Franco relata a existência de problemas para locomoção. “No terminal é mais fácil de pegar os ônibus porque eles têm o ponto certo. Mas quando tem dois ou mais [ônibus] que param no mesmo ponto a gente precisa se informar com alguém”. A estudante conclui que a maior dificuldade está na hora de ler os nomes dos ônibus enquanto aguarda o transporte, mas geralmente quando solicita ajuda é atendida. Além disso, quando os motoristas não percebem que aquela pessoa possui uma deficiência visual, passam direto, fazendo com que a jovem perca o transporte.
Outro problema da cidade são as calçadas. São muitos buracos, até mesmo no piso tátil que serve de guia para os deficientes visuais. A população também não respeita esse espaço. Um exemplo é o “Calçadão” da cidade, local onde as pessoas realizam suas vendas em cima da orientação. Não só nos ônibus e nas calçadas, Ana Patrícia encontra problemas nos restaurantes na leitura do braille. Quem nasceu cego tem maior facilidade para a leitura pois já foram alfabetizados em braille. Ana Paula acha cansativa a leitura desta forma e, por isso, utiliza o leitor de tela, aparelho que, por meio de softwares, percorre textos e imagens e faz a leitura em voz alta.
Instituições de apoio
A União dos Deficientes Visuais de Ponta Grossa (Unidev) é uma Associação que visa a integração e sociabilidade dos deficientes visuais. Para isso, a Unidev organiza atividades como teatro e esportes. Fundada por José Paulinho Souza, diretor da associação, a instituição tem parceria com o Grupo Teatral Centro de Estudos Cênicos Integrado (CECI) e a com a Associação de Moradores do bairro Maria Otília.
Na gestão do ex-prefeito Pedro Wosgrau, a sede da Associação Unidev ficava localizada no antigo Mercado Municipal da cidade (Mercadão). Por conta da reforma proposta no local, a Prefeitura alugou e pagou por oito anos uma casa de imobiliária, localizada na rua Benjamin Constant. Após a entrada do atual prefeito Marcelo Rangel, a Unidev perdeu o espaço.
A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa afirma que, há alguns anos, a Fundação de Assistência Social de PG (Faspg) não realiza o repasse para a Unidev pois a associação não possui mais convênio com o município. Segundo a assessoria de imprensa, esse cancelamento ocorreu pois a associação não estava dentro das tipificações estabelecidas legalmente. Para o fundador e diretor da Unidev, os motivos para o corte de verbas estão ligados a questões políticas. “Porque nós não apoiamos ele nas eleições e a Associação não tem vínculos políticos. Então eles pararam de pagar o aluguel e ficamos sem sede”, afirma José Paulinho.
Até hoje, a Unidev não possui um local pŕoprio e realiza suas atividades no CECI e na casa do próprio diretor. Além disso, existe um campo sem manutenção no bairro Maria Otília, local onde Souza realiza treinos de futebol amador da Unidev. Ele mesmo é quem mantém o campo com recursos próprios. O diretor também conta que, mesmo quando a associação era financiada pela prefeitura, ele arcava com custos como luz, água, gás, telefone e alimentação.
Ficha Técnica
Reportagem: Erica Fernanda e Maria Fernanda Laravia
Edição: Ane Rebelato e Matheus Rolim
Supervisão: Professoras Angela Aguiar, Fernanda Cavassana e Helena Máximo