As dificuldades no processo de adoção do animal distanciam a adesão destes facilitadores de mobilidade

 

Na missão de melhor amigo do homem, os cães-guia vão além e não brincam em serviço. Segundo a União Nacional de Usuários de Cães-Guia, esses animais de assistência são treinados para facilitar a locomoção e conduzir em segurança a pessoa cega ou com baixa visão em qualquer tipo de ambiente.

Em Ponta Grossa, de acordo com o Coordenador do Controle de Zoonoses, Leandro Monteiro Inglês, existem mais de 85 mil cães na região. Entretanto, ele desconhece a existência da utilização de cães-guia na cidade. Nesse contexto, segundo a coordenadora pedagógica da Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual (Apadevi), Lucélia Aparecida Lara, entre os quase 200 alunos de Ponta Grossa e região que frequentam a ONG, nenhum utiliza o cão-guia como alternativa de mobilidade. 

A coordenadora expõe que em seus 22 anos de atuação na associação, não conheceu nenhum deficiente visual que dispusesse desses animais. Lucélia justifica que uma das maiores dificuldades para a aquisição de um cão-guia é o alto custo para os treinamentos do animal, pelo fato de não haver instituições que realizam esse serviço no Paraná. 

De acordo com o oftalmologista Gianmarco Penteado, o uso de cães-guia em Ponta Grossa é necessário por conta da dificuldade da mobilidade dos deficientes visuais pelas calçadas acidentadas da cidade. Além disso, ele afirma que, em mais de 20 anos de carreira, nunca atendeu um pontagrossense usuário desses animais de assistência.

Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiências visuais no país, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão. Em contrapartida, de acordo com dados da Revista Nacional de Reabilitação, o Brasil possui menos de 200 cães-guia para auxiliar a mobilidade desta parcela da população, ou seja, a cada cão-guia disponível, quase 33 mil deficientes visuais utilizariam de seus serviços. 

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O piso tátil e a bengala são alternativas de mobilidade mais acessíveis para os deficientes visuais. Foto: Larissa Del Pozo.

No estado do Paraná, o londrinense Thiago Bornia foi um dos poucos que conseguiu substituir sua bengala por um cão-guia. Ele afirma que desde que adquiriu seu labrador, chamado Xarife, sua mobilidade passou a ser mais ágil e segura, além do animal facilitar sua inclusão social. Sobre o treinamento dos animais, Thiago expõe que os investimentos dos institutos são muito altos e que ainda existem dificuldades, por parte do governo, em incentivar e divulgar os papéis das famílias socializadoras e das instituições. “Falta abraçar essa causa de uma maneira mais ampla” - completa.

Segundo informações divulgadas pelo IRIS (Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social), uma das organizações especialistas em cães-guia no país, as despesas dos institutos para preparar e fornecer um animal é de aproximadamente R$ 35 mil. Por este motivo, o tempo de espera para ter acesso gratuito desses assistentes de quatro patas pode chegar a até três anos. E, assim que adquirido, as demais despesas para manutenção do animal (como alimentação e vacinação) ficam ao encargo do usuário.

Além disso, a restrição quanto às raças de cachorro que exercem a função de cão-guia também é seletiva, sendo as mais comuns o Golden Retriever e o Labrador. Neste contexto, o aluno da Apadevi, Agnaldo Machado, de 51 anos, acredita que o processo para se obter um cão-guia no Brasil ainda seja muito complicado e sugere uma alternativa para que estes ajudantes de quatro patas sejam mais acessíveis aos deficientes visuais. “Acho que mais raças poderiam ser treinadas, pois os cães são inteligentes [...] Assim o custo seria menor e poderiam mais pessoas terem acesso aos animais”.

De acordo com o site da Fundação Dorina Nowill para Cegos, o treinamento de um cão-guia passa pelo processo de socialização, de treinamento especializado e adaptação com a pessoa que receberá o cão. O tempo de serviço do animal dura cerca de 8 anos, e, segundo a  Lei n° 11.126 (2005), a pessoa com deficiência visual usuária de cão-guia tem o direito de ingressar e permanecer com o animal em todos os locais públicos ou privados de uso coletivo. 

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e acesse a edição completa

 

Ficha técnica:

Reportagem: Larissa Del Pozo

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Cândida de Oliveira, Maurício Liesen e Ricardo Tesseroli 

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

A lei nº10.436 de 2002 propõe exigências para que a pessoa surda seja incluída socialmente. No entanto, atualmente a lei não é cumprida. A comunidade sofre com a ausência de intérpretes, falta de sinalização, legendas e preconceito.

Confira a reportagem de Allyson Santos e Cícero Goytacaz:

 

Ficha técnica:

Reportagem: Allyson Santos e Cícero Goytacaz

Supervisão: Professoras Angela Aguiar, Fernanda Cavassana e Paula Rocha

Apoio técnico: Jairo de Souza

Edição: Hellen Scheidt 

Políticas públicas adotadas pelos órgãos não englobam a situação das calçadas, ruas e transporte público para pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual. Além disso, o comércio também ainda não se adequou para atender esse grupo social.

A prefeitura de Ponta Grossa descumpre o Art. 4º da Lei Municipal 10644/2011, que determina ser de responsabilidade do Município a implantação de faixas elevadas e de sinalização adequada em locais de intensa movimentação de pessoas. Escolas Municipais e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) devem ser priorizados. Ouça na reportagem de Germano Busato.

A Lei municipal nº 12.767, que obriga restaurantes, bares, lanchonetes e hotéis a terem cardápios em braile, é descumprida por 29 dos 40 estabelecimentos pesquisados pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON).

 

 

A Associação de País e Amigos do deficiente Visual (Apadevi) auxilia estabelecimentos com a criação de cardápios em braile.
Os preços cobrados pela entidade vão de dez a trinta reais.
R$ 10,00 - folha comum;
R$ 15,00 - folha transparente;
R$ 30,00 - folha com o cardápio sobre imagem do restaurante.
A Apadevi atende no telefone: (42) 3223-0784.