Mesmo após solicitações de alunos, não há projeto para possível instalação de linhas que levem os estudantes do Campus Central a Uvaranas
Ônibus próprios da UEPG estacionados no Campus Uvaranas. | Foto: Fernanda Wolf
A entrada em uma universidade pública acarreta em uma série de novos gastos ao estudante. Quem é de fora gasta com moradia, contas, alimentação e materiais específicos para as aulas. O custo das refeições oferecidas pelo Restaurante Universitário da UEPG é de R$ 3,80 e não há a oferta de café da manhã. Em alguns momentos, o aluno precisa recorrer às lanchonetes internas da universidade. Muitas vezes, é preciso imprimir textos em uma copiadora. E o transporte público oferecido por uma empresa privada, apesar do passe estudantil, não disponibiliza preços que ajudam na permanência do estudante na universidade. Dentre estes aspectos, vemos uma alternativa que poderia partir da própria universidade: as linhas intercampi.
As intercampi são linhas que ligam os campi das universidades que possuem unidades separadas e distantes, gratuitas para alunos e servidores da instituição. Essa prática de mobilidade existe majoritariamente em universidades federais do país. No Sul, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) possuem linhas intercampi.
Transporte é uma medida de permanência estudantil. A Constituição de 1988 afirma a educação como um direito de todos e dever do Estado. Medidas como a redução da passagem e o preço do ticket do R.U. ( Restaurante Universitário) visam a estabilidade do estudante que se encontra em vulnerabilidade social (renda per capita de sua família menor que meio salário mínimo ou renda total da família inferior a dois salários mínimos). Segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEPG, estas medidas igualam as condições dos acadêmicos da instituição.
As políticas de assistência estudantil, pela resolução do Conselho Administrativo da UEPG Nº095 de 17 de abril de 2017, prevê a isenção em taxas de inscrição (de eventos, cursos, extensões, projetos culturais, esportivos e científicos), doações de materiais (livros, equipamentos e instrumentos didáticos) pela Coordenadoria de Assistência e Orientação ao Estudtudante e possibilidade de uso do fundo em casos emergenciais. Porém, em questão de transporte, a universidade não oferece um transporte próprio.
Linhas Intercampi no Paraná
As linhas intercampi estão presentes no Paraná por uma iniciativa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que desde 2013, oferta linhas que funcionam de segunda a sexta no período da manhã e tarde, e nos sábados pela manhã. São quatro linhas nos dias de semana e uma funciona aos sábados. Os ônibus possuem horários estimados de chegada e saída informados no site da instituição. Esse serviço ofertado pelo estabelecimento não possui vínculos com o transporte coletivo da cidade, organizado exclusivamente pela Central de Transportes (Centran), unidade pertencente à Pró-Reitoria de Administração da UFPR, que faz a gestão de veículos da universidade. O serviço é gratuito e de uso exclusivo de estudantes e servidores - mediante apresentação da carteirinha de estudante ou crachá de funcionário mostrado ao motorista - para atividades acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão. O transporte intercampi da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu, é chamado de “Interunidades”, com linhas em diversos horários a partir das 7h30 da manhã até 23h40 da noite. O acesso da comunidade acadêmica à instituição também é gratuito.
Em uma breve comparação com a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) que apresenta um número similar de alunos - 8.316 alunos na FURG e 8.465 na UEPG, possui micro ônibus intracampi (que seria um ônibus interblocos, o mesmo que a UEPG tentou implantar) que funciona das 6h45 às 23h15 - em 23 horários de segunda a sexta.
Para o estudante Felipe Luiz Gradin que cursa Engenharia Civil na UFPR, a linha intercampi é de grande utilidade uma vez que o estudante se circula bastante entre os blocos da faculdade durante o dia. “Uso o intercampi todos os dias para ir e para voltar, consigo economizar bastante no mês. Tem muita demanda, muitas vezes o ônibus está lotado de estudantes”, destaca Gradin.
A realidade da UEPG
No caso da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a distância entre o Campus Central e Uvaranas é de 7 a 8 quilômetros (cálculo de rotas feito pelo aplicativo Google Maps) - um trajeto de meia hora de ônibus da Viação Campos Gerais (VCG). Fatores como trânsito, superlotação, horários disponíveis, paradas em terminais e linhas, dificultam a trajetória entre os campos. A movimentação não se faz necessária para que alunos tenham acesso às suas aulas, projetos,eventos e biblioteca, assim como à parte administrativa da instituição, concentrada no campus de Uvaranas.
O trajeto entre campus central e o campus de Uvaranas precisa ser feito com dois ônibus. O estudante que sair do campus central necessita pegar um primeiro ônibus em direção ao terminal de Uvaranas, através da linha “Terminal Uvaranas/Terminal Nova Rússia”. Em seguida, pegar uma linha “Campus” que passa dentro do UEPG. Caso o aluno não consiga pegar este ônibus, precisa fazer um trajeto de três linhas até chegar ao campus de Uvaranas. Dentro da instituição, a distância entre blocos torna a caminhada longa e perigosa pela falta de segurança. A grande maioria dos estudantes da instituição, não possuem veículo próprio.
Em 2016 houve uma mobilização de estudantes da UEPG que pediram uma linha da VCG (Viação Campos Gerais) que ligasse os dois campus via Terminal Central, o pedido de análise da linha foi protocolado e encaminhado para a AMTT (Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte). Para a criação de uma nova linha de ônibus, o primeiro passo é observar o número de pessoas não atendidas pelo transporte coletivo de uma região e depois o Índice de Passageiro por Quilômetro (IPK).
Segundo a lei municipal 7.018/2002 que dispõe sobre a prestação de serviços públicos municipais de transportes coletivos, a VCG concede benefício de 50% de desconto aos estudantes, o que reduz a passagem para R$1,90. Então, um estudante que faça o trajeto todos os dias do campus central ao campus Uvaranas, gasta em média R$38 reais por mês.
De acordo com os dados informados pela assessoria de imprensa da UEPG, entre alunos de graduação e pós graduação, servidores e docentes nos campi Central e Uvaranas, somam-se 10.278 pessoas.
Em 2011, houve um levantamento da chamada “Caronas no Campus UEPG” desenvolvida por acadêmicos da disciplina de Gerenciamento de Projetos do quinto ano do Curso de Engenharia Civil, estimava que cerca de 15.000 pessoas circulavam no campus de Uvaranas. Neste projeto, os estudantes realizaram estudos para implantar um sistema de caronas para a locomoção de estudantes e professores pelos blocos.
Em 2015, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEPG fez um pedido ao reitor para que houvesse a instalação dessas linhas, porém, até este ano o pedido não foi instituído. Em 2016, o DCE estava desativado. Após a reintegração do diretório, alunos se mobilizaram para fazer um abaixo-assinado diretamente para a Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte pedindo a implantação da linha. Atualmente, a Viação Campos Gerais não possui ônibus direto para o Campus Uvaranas. Segundo o coordenador Milton Aparecido Anfilo, de Assistência e Orientação ao estudante, a existência dessa linha já iria ser uma melhora no sistema.
A estudante de Serviço Social Tatiane Vaz enfatiza que antes de tudo, é fundamental regularizar o CNPJ da entidade, que está irregular devido às gestões anteriores, para conseguir entrar nas discussões sobre o transporte público no Conselho Municipal de Transportes de Ponta Grossa, onde possuem direito a voto. Vaz, exalta a importância da linha intercampi para a comunidade acadêmica e reforça que a possível integração entre campi de alunos pode acrescentar na vivência acadêmica dos mesmos e também facilitar acesso a área administrativa da universidade que hoje fica restrito ao Campus Uvaranas. Ela exemplifica o caso dos alunos que moram no bairro Nova Rússia e pegam ônibus para o Campus Uvaranas. “Aqueles que costumam pegar percebem que este está sempre lotado nos horários em que as aulas começam e grande parte dos passageiros descem em frente à UEPG, porque são acadêmicos e estão indo frequentar as aulas”, relata a representante.
O gerente da divisão de transportes da UEPG Roberto Rodrigues da Silva, diz não ser viável a linha intercampi por falta de motoristas. Segundo Silva, desde 2009 a universidade não faz concurso público para motorista para carteira D - habilitado para a direção de ônibus. Atualmente a Gerência de Transportes da UEPG possui 10 motoristas e 3 atendem extensões.
Interblocos
No ano de 2013, na gestão do reitor João Carlos Gomes, por uma demanda dos estudantes do campus de Uvaranas, a universidade disponibilizou um ônibus que circulava da reitoria até o Colégio Agrícola, de segunda a sexta das 8h às 12h e das 14h às 18h, com intervalos de 30 minutos, e utilizava os mesmos pontos onde passa o atual ônibus da VCG, para o deslocamento dos acadêmicos no campus que possui 48 alqueires e mais de oito quilômetros de divisas. O ônibus era gratuito, mas, não funcionava a noite por falta de motorista, por ser necessário o pagamento de hora extra para eles trabalharem nesse período. O custo inicial do projeto era de R$1.800 reais mensais. Joel dos Anjos Carneiro, gerente da Coordenadoria de Logística (CLOG) da universidade, explica que na maioria das vezes foi utilizado van, a demanda de passageiros era pequena, para um serviço que o gasto não era tão pequeno. A linha parou de funcionar porque o motorista responsável pelo transporte se aposentou e outros motoristas também acabaram pedindo aposentadoria, consequentemente faltando servidores para esse serviço.
O gerente da divisão de transportes da UEPG Roberto Rodrigues menciona que hoje é inviável ter interblocos na UEPG por falta de pessoal. “Na época, por falta de motoristas não teve como operar, hoje a situação de servidores é ainda mais agravante”, denuncia Rodrigues. Os documentos para a implementação do META 4 já foram enviados pelo reitor Carlos Luciano Santana Vargas ao governo do Estado do Paraná, e caso o sistema seja implementado, questões como: a contratação de servidores, ascensão de carreira precisarão ser autorizada pela Secretaria da Fazenda.
Em uma pesquisa por buscadores da internet e o próprio site da UEPG encontramos apenas uma matéria falando sobre a iniciativa de ônibus interblocos - matéria essa da assessoria da universidade, datada em 7 de fevereiro de 2013.