A chegada da temporada chuvosa em Ponta Grossa, com a emissão de alertas de temporais pelo Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), já traz transtornos para o Campus Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Como resultado das fortes chuvas registradas na última quarta-feira, 17, houve alagamento do Setor de Ciências Biológicas e Saúde (Sebisa), localizado no bloco M.
Corredores e laboratórios ficaram enxurrados com a chuva que escorria do teto e entrava pela porta. Segundo o professor do Sebisa Marcos Pileggi, o problema é anterior aos anos 90, quando ele passou a integrar o quadro de docentes da UEPG. “Isso acontece desde que eu entrei aqui. E já vinha de muitos e muitos anos”, lembra.
O problema persiste há mais de duas décadas, como relata o professor, mas nenhuma ação foi efetiva para evitar sua recorrência. “A gente sempre pede uma medida preventiva, mas nos dizem que não há pessoal para isso”, afirma. Segundo o professor, a Prefeitura do Campus (Precam) alega que o “material necessário [para a manutenção] é caro”.
A estudante Lohanne Paz, membro do Centro Acadêmico de Farmácia Valmir de Santi, relata que a chuva se intensificou na tarde do dia 17, momento em que os alunos aguardavam pelo início das aulas. E, aos poucos, a chuva invadiu o bloco M. “Achamos estranho quando vimos a água escorrendo pela parede, pois é um prédio que tem mais de um andar”, comenta. “Então, não teria como ser goteira e, sim, infiltração”, questiona.
Para Pileggi, a infiltração se deve à falta de limpeza das calhas. Isso leva “a chuva entrar por lâmpada, pelo teto, por qualquer buraquinho que tenha”. Ao todo, cinco laboratórios e mais uma sala de professores foram atingidos pelo alagamento.
Segundo o professor, não basta a limpeza das calhas, cujo trabalho de manutenção é mais caro em função da questão da segurança. Além das goteiras pelas rachaduras nas paredes e no teto, o alagamento também é intensificado pelo transbordamento dos bueiros. Para que haja o escoamento pluvial, os bueiros também precisam ser limpos.
Lohane conta que os alunos e funcionários perceberam que as salas de pesquisa eram as que estavam sendo mais afetadas. “Os alunos viram que ia alagar e começaram a retirar computadores, microscópios”, afirma a estudante, que participou do mutirão de salvamento dos equipamentos. Como nem todos têm acesso à senha de entrada no Centro Acadêmico e às chaves dos laboratórios do Sebisa, o problema poderia ter sido pior. “Só não perdemos mais coisas, pois tinha gente lá dentro para ajudar a retirar tudo e, aos poucos, surgiram pessoas com rodos para remover a água”, avalia.
Provas do curso de Medicina, agendadas para o dia 17, foram canceladas. As aulas do dia 18 foram suspensas, já que muitas não poderiam ser realizadas, pois dependem de microscópios. Pileggi estima que os equipamentos dos laboratórios estejam avaliados em cerca de R$ 1 milhão. O professor confirmou a perda de um microscópio, no valor de R$ 2 mil. O prejuízo só não foi maior porque alunos e funcionários já estão acostumados a ações emergenciais de salvamento dos equipamentos, conta Pileggi.
Alunos das áreas de biológicas e saúde – como os graduandos em Farmácia, Medicina, Odontologia, Enfermagem e Ciências Biológicas – utilizam os laboratórios do Sebisa para aulas e para atividades de pesquisa. Para o estudante de Odontologia Pedro Stremel, a situação “é preocupante, pois estamos nas atividades de fim de ano. Qualquer prejuízo ou atraso significa complicar a conclusão de pesquisas e atividades dentro do prazo”.
A responsável pela limpeza e manutenção das calhas e bueiros é a Precam. Segundo Pileggi, quando procurados pelos professores, a prefeitura alega o alto custo dos equipamentos e a falta de mão de obra que impedem o trabalho de manutenção e limpeza. Na quinta-feira (18), dia seguinte ao alagamento, a Prefeitura do Campus realizou a limpeza de calhas. De acordo com alunos do Sebisa, a Precam também podou as árvores localizadas no entorno do bloco M, cujas folhas seriam responsáveis pela sujeira nas calhas.
A equipe de reportagem do Portal Periódico entrou em contato, por telefone, com a Assessoria de Imprensa da UEPG que encaminhou os repórteres para a Prefeitura do Campus. O contato com a Precam foi realizado, por telefone e pessoalmente. A reportagem não recebeu resposta sobre as providências tomadas para evitar novos alagamentos no Sebisa.
De acordo com Marcos Pileggi, a comunidade acadêmica do Sebisa pretende criar um projeto de mapeamento do tipo de vegetação que pode ser plantada e mantida no entorno dos prédios. A ideia é minimizar a chance de sujeira nas calhas e nos bueiros. “Queremos propor um projeto e mostrar que também entendemos - e podemos contribuir - na solução do problema”, acrescenta.