O Diretório Central dos Estudantes (DCE) é contrário à medida que deve ser implementada até o final de 2018
Um módulo policial será instalado, até o final deste ano, no Campus Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A medida é da governadora do Estado do Paraná, Cida Borghetti (PP) que, no dia 3 de outubro, anunciou a intenção de implantar um posto da Polícia Militar (PM) à unidade da Instituição.
O posto teria função similar ao existente no Parque Ambiental, na região central da cidade. Dessa forma, assim como já acontece em áreas urbanas do município, ele teria o papel de policiar por meio de rádio-patrulha com viaturas, motocicletas e a pé. Ainda teria a possibilidade de atender as demandas emergenciais recebidas pelo telefone 190.
O vereador Geraldo Stocco (Rede), junto com o deputado federal Aliel Machado (PSB) e outros vereadores, solicitou a implementação do módulo da PM no Campus Uvaranas ao Governo do Estado. Segundo o vereador, a promessa da governadora Cida Borghetti (PP) é de que até o final deste ano o módulo esteja instalado na Universidade.
A construção da estrutura do posto militar seria custeada pela UEPG, segundo o Conselho Municipal de Segurança Pública, e haveria o deslocamento de profissionais do posto do Centro para o novo, em Uvaranas. O atendimento não seria restrito à Universidade, mas seria ampliado para cobrir a região.
“Mensalmente, a gente vê notícia de menina quase sendo abusada no Campus, roubos e furtos. A PM vai estar lá para proteger os estudantes e para coibir pessoas que andam lá para fazer o mal”, defende o vereador. Segundo a assessoria da UEPG, neste ano, houve cinco roubos, sete furtos de bens de terceiros, 18 furtos de bens materiais e três tentativas de furto na Universidade.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEPG, atualmente gestado pela chapa “Língua Solta”, postou, na página do Facebook, uma nota contrária à implementação do posto da Polícia Militar no Campus. Após alguns dias, devido a conflitos entre os alunos da Universidade sobre o posicionamento do DCE e a forma como ele foi publicizado, a postagem foi excluída.
“A instalação do módulo da PM no Campus Uvaranas, enquanto medida de segurança, não foi discutida com o DCE”, afirma uma das coordenadoras gerais da atual gestão do Diretório, Clara do Prado, que não deixa de considerar que já há um diálogo estabelecido entre a representação estudantil e a Reitoria em outros aspectos.
O DCE “defende o amplo debate e implementação da Rota Segura, a promoção de espaços culturais, esportivos e educacionais no Campus Uvaranas e a desburocratização do uso dos espaços da Universidade” como alternativa para garantir a segurança no Campus.
O Rota Segura é o projeto que determina trajetos mais seguros e sinalizados para os alunos da universidade, considerando os lugares mais usados e onde acontecem mais assaltos.
“Nós [DCE] também entendemos que a instalação do módulo da PM diz respeito a negociações em espaços fora da Universidade, principalmente políticos. Por isso, a participação do Movimento Estudantil, sindicatos e comunidade externa é essencial para a construção da pauta”, pondera a estudante Clara.
A membra do DCE também explica o que foi considerado para a elaboração da nota. “Foi considerado o acúmulo desses debates [sobre segurança] e a conjuntura política em que nos vimos nesse período eleitoral”, esclarece.
A nota emitida pelo DCE pontua a questão “das identidades marginalizadas e que carregam estigma no contexto da militarização”, explica Prado. “Tememos que colegas e a comunidade externa de negros(as) sejam perseguidos, que mulheres sejam assediadas na abordagem, que convenções estudantis e diálogos sejam limitados ou vigiados”. O texto divulgado crítica, dessa forma, a abordagem policial.
O vereador Geraldo Stocco (Rede) não acredita que a PM agiria dessa forma. “A polícia não vai poder reprimir os estudantes por fazer manifestações, por expressarem os seus pensamentos, mas se algum estudante furtar alguma coisa e a polícia ver, obviamente esse estudante vai ser reprimido como qualquer outra pessoa”, argumenta.
Em nota, o DCE afirma que a publicação sobre a polícia no Campus “interferir no direito democrático” e “na liberdade dos corpos” provém de “pesquisas, depoimentos e das próprias vivências”. Contudo, o Diretório não generaliza a conduta abusiva à atuação de todos policiais.
“Àqueles(as) que dedicam suas vidas para o melhor da segurança pública da sociedade e têm abordagens responsáveis, nós reconhecemos e admiramos a dedicação”, destaca o texto publicado. “Aos que se constroem em relações de poder hierárquicas e utilizam o aparato institucional para menosprezar identidades, continuamos firmes para dialogar e discutir qualquer eventual postura violenta”, contrapõe.
A PM e as universidades paranaenses
No Paraná existem algumas universidades com policiamento, como é o caso da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), de Guarapuava. Com autorização da Reitoria, há um serviço de segurança armada terceirizada e patrulhamento da PM dentro do Campus Cedeteg (Centro Educacional de Desenvolvimento Tecnológico de Guarapuava). Além disso, também há um posto da PM (Força Verde) no local.
“Já fizemos alguns debates sobre isso”, comenta o presidente do DCE da Unicentro, Luiz Felipe de Lima. “Nós percebemos que há uma maior resistência desses estudantes em discutir o assunto. É uma característica bem política mesmo”, identifica o acadêmico ao considerar os cursos instalados no local que são de saúde, agrárias e ambientais, exatas e tecnologia, áreas que não têm debates frequentes sobre a questão.
“O Campus Santa Cruz, onde estão os cursos de humanas e sociais aplicadas, é quase totalmente contrário à presença da polícia dentro do Campus”, compara o estudante ao considerar que esses cursos têm o perfil de discutir mais essas questões.
“É um tema que tem gerado bastante discussão por aqui, principalmente a partir dos boatos que chegaram sobre a instalação de módulo policial dentro da UEPG. Rolou até uma nota de repúdio do curso de Agronomia daqui contra o posicionamento do DCE da UEPG”, conta o membro do Diretório de Guarapuava.
As discussões sobre segurança pública e desmilitarização estão presentes no movimento estudantil. Segundo uma das coordenadoras gerais do DCE da UEPG, Clara do Prado, a retomada, no Paraná, sobre o assunto aconteceu em 2015 com o “Massacre do 29 de abril”. Na ocasião, servidores públicos sofreram com ações violentas da Polícia Militar, que respondia em nome do Governo do Paraná, enquanto protestaram, em frente ao Centro Cívico em Curitiba, contra o Projeto de Lei que alterava a Previdência Social dos profissionais da educação.
Em 2016, após a ocupação da Reitoria da UEPG, a pauta de segurança novamente fez parte das discussões do movimento estudantil. A realização do Fórum UEPG+segura, em 2017, foi uma das consequências da reivindicação estudantil.
O evento reuniu acadêmicos, professores e técnicos, bem como representantes dos órgãos de segurança e do poder legislativo do município para discutir soluções e propostas para promover a segurança na universidade, principalmente no Campus Uvaranas.
No evento, a acadêmica de Ciências Biológicas, Iniwara Pereira, apresentou o projeto de criação de uma “Rota Segura” na Universidade, considerando os pontos mais percorridos pelos frequentadores do Campus e os lugares onde ocorrem mais assaltos. Houve a apresentação de duas opções de trajeto e, em ambas, há a sugestão de mais guaritas instaladas no campus, maior quantidade de vigilantes e manutenção e sinalização do trajeto.
A partir de 2017, quando o estudante Eric Navaro foi baleado no campus Uvaranas enquanto esperava o ônibus, várias mobilizações estudantis foram realizadas para reivindicar a segurança nas instalações da universidade.