Grupo se reunia no pátio da UEPG, mas com pandemia precisou deixar local
Em um mês com boas vendas, Maria Helena Gonçalves arrecadava, em média, R$ 2 mil. Com o início da pandemia, a feirante passou a ganhar menos de R$ 500. O dinheiro obtido a partir da comercialização de artesanato e produtos alimentícios auxilia no sustento dela, do marido e do neto.
A redução de renda se tornou a realidade de membros da Associação de Feirantes de Economia Solidária (AFESOL). O grupo participa da Feira de Economia Solidária, que acontece há nove anos no pátio da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Como medida de prevenção, a instituição de ensino foi fechada e a feira interrompida. O último encontro aconteceu em março de 2020.
Com a impossibilidade de realizar vendas presencialmente, as feirantes apostam na divulgação em redes sociais e em grupos de venda online. No entanto, o número de encomendas é baixo. “Está difícil vender. Poucas pessoas conhecem a economia solidária”, diz Maria Helena. Uma estratégia adotada pela feirante é a comercialização de produtos na vizinhança. “Os vizinhos se tornaram a minha freguesia”, relata.
Ivone da Silva é integrante da Associação de Feirantes de Economia Solidária (AFESOL); trabalho parou durante a pandemia. Foto: João Guilherme Castro.
Para complementar a renda, a feirante solicitou o Auxílio Emergencial do governo federal. No ano passado, a beneficiária recebia parcelas de R$ 600. Agora, após a reformulação do benefício, recebe apenas R$ 250. A quantia é destinada para a compra de medicamentos. “A gente tá fazendo o possível pra deixar as coisas no jeito. Bom não tá, mas serve”, desabafa a feirante.
Daluz Aparecida Chaves, agente de segurança patrimonial da UEPG, compra produtos da AFESOL desde o início da Feira de Economia Solidária. Mesmo com a pandemia, Daluz ainda consome os itens produzidos pelas feirantes. “Eu faço a encomenda pelo telefone e elas entregam no meu trabalho, tomando os cuidados, com máscara e distanciamento. É um ganho extra, mas elas foram prejudicadas pela pandemia”, explica a agente que reconhece a importância das vendas.
Financiamento
Em abril do 2020, a Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol), programa de extensão da UEPG, realizou uma campanha de financiamento coletivo na internet. Com doações de 42 pessoas, a iniciativa arrecadou R$ 2,7 mil, dos quais R$ 1,6 mil foram destinados ao grupo de feirantes. O restante, R$ 1,1 mil, foi repassado para a Associação dos Campos Gerais de Jardinagem. A AFESOL utilizou o dinheiro para quitar dívidas, realizar a manutenção de máquinas e comprar materiais para confecção de produtos.
A coordenadora da IESol, Reidy Rolim, explica que há poucas alternativas disponíveis para complementar a arrecadação das feirantes, como o Auxílio Emergencial, aposentadoria, apoio da família e doações. “Isso é pouco, não complementa a renda. Na verdade, substitui um valor que elas não conseguem arrecadar como antes”, observa Reidy. “A pandemia precisava ter sido enfrentada com mais rapidez. As feirantes deveriam estar vendendo seus produtos”, completa.
A dificuldade em realizar vendas e a impossibilidade de sentir a valorização de seu trabalho abalaram a saúde mental das feirantes. Por conta das medidas de prevenção ao coronavírus, as empreendedoras solidárias não se reúnem desde o ano passado. “Não é só o dinheiro que faz falta, o convívio com as pessoas também”, confirma a feirante Maria Helena.
A IESol prestou apoio aos grupos incubados desde o início da pandemia, por meio de rodas de conversa online sobre saúde mental. Reidy Rolim ressalta que a economia solidária não deve ser vinculada apenas à geração de renda. “É preciso valorizar a sociabilidade, a dignidade humana a partir das relações”, frisa a coordenadora.
Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em: https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre
Repórter: Matheus Gaston
Editor de texto: Maria Luiza Pontaldi
Publicação: Manuela Roque
Supervisão: Jeferson Bertolini, Rafael Kondlatsch e Muriel Emídio Amaral
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen