Em parceria com Grupo Renascer, projeto Elos produz documentário sobre as primeiras travestis de Ponta Grossa
Em produção desde 2019 e interrompido com o início da pandemia de Covid-19, “Sobre Vivências Travestis” teve sua estreia na última quarta-feira, 23, no Grande Auditório do campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Protagonizado por Debora Lee e Fernanda Riquelme, com participação da professora Joseli Maria Silva, o filme conta a história da vida e agressões sofridas pelas travestis em sua trajetória de abusos, aprendizado e ativismo.
Protagonistas do documentário em evento de lançamento no último dia 23 | Foto: Victor Schinato
Produzido pelo projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, do curso de Jornalismo da UEPG, em parceria com o Grupo Renascer, o documentário detalha as múltiplas violências sofridas pelas primeiras travestis em Ponta Grossa. Entre violências sexuais, pedofilia e transfobia, Debora e Fernanda se formaram e atuam nas áreas de assistência social e saúde.
Debora fundou a ONG Renascer em 2000, que atua prestando assistência à população LGBTQIAP+, garantindo seus direitos básicos. Ao ser expulsa de casa no Rio Grande do Sul, a travesti se viu obrigada a entrar na prostituição aos 12 anos para sobreviver. Ela foi vítima de aliciamento e repressão policial, durante a ditadura militar. Passou também por Santa Catarina, até chegar em Ponta Grossa nos anos 1990, onde sofreu preconceitos e foi vítima de estupro. Debora relata mudanças na sua vida quando voltou a estudar por meio da educação de jovens e adultos e sente orgulho por ter se formado em Serviço Social em 2022, tornando-se a primeira assistente social travesti do Paraná.
Fernanda Riquelme também já atuou como ativista junto à população LGBTQIAP+ da cidade. Tendo performado como artista por diversos anos, relatou ser reconhecida pela sua beleza e pela pessoa que é. “Espero que o filme possa ser um dispositivo de debate social”, disse Fernanda Riquelme em apresentação durante o evento. Com esperança, ela espera que o documentário desperte discussões pertinentes que abram os olhos da população para as pessoas à margem da sociedade.
Em pergunta sobre violência prisional, Debora relatou ser vítima de agressões institucionais. Ela relembra que as travestis eram presas em penitenciárias para homens, tendo sua identidade de gênero negada, e considera que há avanços na conquista de direitos, embora ainda persistam violações em todas as áreas.
As protagonistas ressaltam que o Brasil é um país extremamente violento para a população LGBTQIAP+, especialmente para travestis. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), uma pessoa trans é assassinada a cada 48 horas no Brasil. Ainda segundo a instituição, 70% delas trabalhavam com sexo, e 55% dos crimes aconteceram nas ruas.
Karina Janz Woitowicz, Debora Lee, Joseli Maria Silva, Fernanda Riquelme e Paula Melani Rocha, em homenagem do projeto Elos às participantes do documentário | Fotos: Victor Schinato
Ficha técnica:
Reportagem: Victor Schinato
Edição e publicação: Bettina Guarienti e Leriany Barbosa
Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli