Palestra da manhã de hoje resgata os vinte anos das manifestações de 2 de março de 2004

 

​Nesta segunda-feira (18), a palestra “Duas Décadas do Movimento 2 de Março de 2004” marca a primeira manhã do V Ciclo Descomemorar Golpes. O evento aconteceu no Grande Auditório do Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Os palestrantes Luciano Miguel, produtor cultural da Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila) e  Felipe Pontes, professor do Departamento de Jornalismo da UEPG relembram, por meio de relatos, as manifestações de 2 de março de 2004. Na época, ambos eram discentes do curso de Jornalismo na UEPG e participaram dessas manifestações.

​O movimento dessa data foi impulsionado pela falta de professores na UEPG. Naquele ano, o Governador Estadual Roberto Requião (PT) não assinou os documentos para a contratação de professores substitutos. Havia uma defasagem de matérias e estudantes tinham poucas ou nenhuma aula para assistir. Pontes, que era discente do segundo ano do curso de Jornalismo na época, relata o início desse movimento. De acordo com ele, as turmas da primeira e segunda série do curso, não tinham nenhum professor: “E a principal conclusão que nós adotamos foi: Bom, já que não dá para termos aulas separados, vamos ter aulas juntos. Vamos fazer grandes aulas públicas. Vamos ocupar espaços públicos, para que a aula seja pública.”

​Assim, estudantes decidiram ocupar a universidade com acampamentos e realizar protestos em ruas importantes de Ponta Grossa, como na Balduíno Taques e na Avenida Vicente Machado. As manifestações juntaram diversos cursos da universidade e entidades como o Movimento Sem Terra.

​A palestra reforçou que esses temas ainda são atuais. A defasagem na contratação de professores é um problema que persiste até hoje. A UEPG não tem concurso público desde 2016. Em 2004 a instituição contava com 635 professores efetivos. Atualmente, a universidade possui apenas 644.

​Para Luciano Miguel, o Descomemorar Golpes possui importância fundamental por relembrar esses movimentos. Durante a palestra,  discutiu-se a falta de força dos movimentos estudantis na atualidade. De acordo com Miguel, é necessária maior articulação social entre as pessoas: “Precisamos que as ações desse movimento, como o próprio nome diz, sejam dinâmicas, porque é movimento, não pode ser estático. Porque se a gente ficar no mais do mesmo, a gente só está dando voltas e não está chegando ao ponto que deveria chegar, que é abordar as questões de modo sistemático, de modo pontual e de modo conciso.”

​O professor Felipe Pontes acredita que a força dos movimentos estudantis surLuge quando há necessidade. “O movimento estudantil é movimento de fluxo e refluxo. É um movimento que surge a partir de casos concretos e oportunidades. Nós estávamos com o Centro Acadêmico completamente desarticulado e endividado em 2 de março. Nós não tínhamos Centro Acadêmico. Mas houve uma situação específica e uma necessidade muito grande e muito direta: não tinha professor. A gente não tinha estrutura na universidade”, relata.

Yasmin Taques Lente Quente

A luta pela contratação de professores substitutos, por concursos públicos para docentes e contra o fechamento de cursos da universidade foram alguns dos objetivos das manifestações de 2 de março de 2004. Foto: Yasmin Taques / Lente Quente

 

​De acordo com o professor do Departamento de Jornalismo da UEPG e organizador do V Ciclo Descomemorar Golpes, Sérgio Gadini, o debate sobre movimentos estudantis importa para perceber as lições que a história guarda. “O movimento 2 de março, que foi uma iniciativa em defesa da universidade pública, tem que ser entendido com contradições, com dúvidas naturalmente. Esses movimentos sociais nunca são consensuais. Mas o mais importante é que a gente tem que compreender as lições da história. E as lições da história a gente compreende refletindo, relendo, estudando e reavaliando”, argumenta Gadini.

​Para Júlia Andrade, Coordenadora Geral do Centro Acadêmico João do Rio (CAJOR) e discente do quarto ano de Jornalismo, a palestra agrega ao trazer um histórico dos movimentos estudantis: “Você começa a remontar tudo aquilo que já era de uma luta que a gente já vinha fazendo. E você começa a pegar pela raiz dessa luta. Onde a gente começou? Quem eram os personagens desse movimento? Qual era o modus operandi dessa galera? Era fazer acampamento. E como esse acampamento funcionou dentro da nossa sociedade? Será que é possível remontar pros dias de hoje? E é justamente essa equivalência. Você começa a pensar no passado, como se perpetuou dentro da história e, após isso, o que a gente ainda tem e como podemos fazer isso.”

O V Ciclo Descomemorar Golpes é organizado pelo Departamento de Jornalismo e permanece até sexta-feira (22), com palestras, debates e entrevistas no campus central da UEPG. Amanhã, terça-feira (19), às 19 horas, acontece a palestra “Ditadura Militar no Brasil: a luta dos trabalhadores e a defesa da democracia”, no Mini Auditório de Humanas, com os convidados Alessandro de Melo, da UEPG, e Regis Costa, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).

Na quarta-feira, às 13h30, o laboratório de telejornalismo sedia o debate sobre a “Campanha Diretas Já” em Ponta Grossa e no Paraná, com convidados que participaram deste movimento em 1984, como os jornalistas Aluízio Palmar e Alexandre Palmar. Às 19h, acontece no Grande Auditório o painel “Responsabilidade penal dos golpistas" em 08-01-2023”, com Thaís Machinski da Ordem dos Advogados do Brasil - Ponta Grossa (OAB-PG),  Pedro Miranda, da UEPG e Volney Campos, do Sindicato dos Docentes da UEPG (Sinduepg).

Às 19 horas, na quinta-feira, está programada a Aula inaugural “Refletir é descomemorar golpes”, com Luís Felipe Miguel, da Universidade Nacional de Brasília (UnB).

 

Ficha Técnica:

Produção: Mariana Borba e Vitória Schrederhof 

Edição e Publicação: Mariana Borba

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza C. dos Santos 

 

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