Professor especialista relaciona golpe militar de 1964 com atos de 08 de janeiro

 

Os acontecimentos antidemocráticos que marcaram a história do Brasil e antecederam o 8 de janeiro de 2024 foram o tema da aula inaugural do Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A palestra integrou a programação do V Ciclo Descomemorar Golpes, ministrada na quinta-feira (21) pelo professor Luis Felipe Miguel, da Universidade de Brasília (UnB), no Grande Auditório da UEPG Campus Central.

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Luis Felipe Miguel palestrante do evento relata sobre momentos históricos do Brasil | Foto: Betania Ramos

 

Miguel é cientista político e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades da UnB, e é autor de três livros sobre o assunto. Em sua fala explicitou três momentos históricos do Brasil em que se colocou em risco o regime democrático nacional. Contextualizou, também, o surgimento da democracia brasileira enquanto “uma luta dos grupos dominados para que as suas vozes sejam, de alguma maneira, ouvidas nas decisões sociais".

O golpe militar de 1964 foi o primeiro dos três atos citados pelo professor, que explicou a sua motivação como uma tentativa - bem sucedida - da elite dominante de extirpar a possibilidade da retomada de um progresso social e da diminuição da desigualdade social do Brasil. O contexto político nacional era similar ao período que antecedeu o segundo ato: o impeachment da presidente Dilma, em 2016. Sucessora de dois mandatos de Lula, nos quais avançaram as políticas de transferência de renda e a redução das desigualdades, Dilma Rousseff enfrentou a represália de uma elite descontente com tais medidas.

Desde então, de acordo com Miguel, a extrema direita passou a se tornar cada vez mais presente no cenário político nacional e essas políticas públicas de assistência entraram em decadência. Com a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018, a esquerda passou a ser criminalizada e ideais como o radicalismo, o discurso ultra reacionário e uma meritocracia exacerbada entraram em ascensão, endossados pela figura de Jair Bolsonaro.

A tentativa de golpe realizada no dia 8 de janeiro de 2023 foi "uma demonstração do desespero da claque do Bolsonaro para impedir a posse do presidente Lula”, afirma Luis Felipe. O professor acredita que caso o golpe fosse bem sucedido, a sociedade estaria indo em direção a outra ditadura.

Quando questionado sobre a falta de apoio do Exército Brasileiro ao Golpe de 8 de janeiro, o professor explica que alguns dos comandantes da corporação achavam que a manobra seria arriscada demais, por isso não concordaram. Diferentemente do golpe de 64, não existe nos dias de hoje uma força que una o exército brasileiro. “Quando houve o golpe de 64, a primeira coisa que os militares fizeram foi limpar as forças armadas da sua ala legalista, que julgavam que o exército deveria seguir a constituição” explica o pesquisador.

Outro questionamento levantado no evento, foi sobre o posicionamento atual da esquerda brasileira, que, de acordo com o professor, encontra-se num processo de retração, ocupando espaço que um dia já foi de centro direita. “A direita ganhou tanta força que quem é de esquerda precisa gastar parte do seu tempo defendendo valores que não são específicos da esquerda”, relata Miguel.

 

Rede Universitária da Solidariedade ao Povo Palestino

Antes do início da fala do professor Luiz Felipe Miguel, o professor Fábio Bacila Sahd, representante da Rede Universitária da Solidariedade ao Povo Palestino em Ponta Grossa, se manifestou a respeito do genocidio Palestino que está acontecendo em Gaza, na Cisjordânia e na Palestina. Convidou os presentes a se unirem a causa de apoio ao povo palestino.

 

Ficha técnica: 

Produção: Betania Ramos, João Victor Lemos e Maria Vitória Carollo

Edição e Publicação: Laura Urbano e Radmila Baranoski 

Supervisão da produção: Carlos Alberto de Sousa

Supervisão da publicação: Cândida de Oliveira e Luiza C. dos Santos

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