Em menos de dois meses, Campos Gerais sediam dois eventos medievais
Feira Medieval. Foto: Larissa Onorio|Arquivo Foca Foto

Entre agosto e outubro, a região dos Campos gerais recebeu dois eventos relacionados a cultura medieval. Juntas, a “III Feira Medieval do Parque Histórico”, em Carambeí, e a “Iª Feira Medieval de Ponta Grossa” contaram com público próximo de 13.800 pessoas, segundo dados dos organizadores. Com atrações como culinária, encenações, estandes de artesanatos e exposições, cada um dos eventos teve duração de dois dias durante final de semana.

Para Alexandrina Leuch, uma das organizadoras do evento em Ponta Grossa, a adesão do público possui um caráter relacionado à ascendência teuto-europeia presente na região, ou seja, pessoas descendentes do povo germânico da antiguidade que migrou durante gerações da Escandinávia até o Império Romano. “O Brasil é um país jovem e não possui um período similar à idade média europeia. Mas como o Sul tem todo o histórico de imigração. Nós trazemos essa cultura na veia. Isso se fortalece somado aos produtos que consumimos culturalmente sobre esse imaginário, como séries, filmes e livros“, comenta Leuch.

O professor do Centro de Línguas Germânia e membro da Academia Ponta-Grossense de Letras, Newton Schnner Jr, vê com bons olhos o resgate cultural oriundo da imigração na região. “Isso reflete um momento de resgate histórico e autoafirmação que vários outros descendentes estão vivendo no Brasil, como o dos descendentes de japoneses e africanos”, argumenta Schnerr.

No caso do Paraná, o sentimento de resgate histórico possui tons de reaprendizagem entre os descendentes atuais e as gerações anteriores, segundo o professor. “Por volta de 1940 os imigrantes alemães, japoneses e italianos foram proibidos de demonstrarem qualquer traço que os identificasse como tais devido ao clima de atrito com as nações do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Algo que lentamente está se procurando reverter com esses movimentos de resgate do imaginário cultural histórico”.

Professor de Sociologia na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Filosofia na Faculdade Sant´Ana, Donizete Pessi, descarta a ideia de herança de sangue, devido ao distanciamento natural que ocorreu entre as tradições vindas com os imigrantes e as desenvolvidas pelos sedescendentes. “Por questões de como fomos colonizados em nossa formação nacional, esse tipo de cultura europeia tende a ser mais facilmente assimilada, visto que foi trazida como uma ‘cultura maior’, do que por exemplo as culturas de matriz afro-indígena”, comenta.

Pessi afirma que primeiro é importante que o país se assuma como periferia frente aos polos norte-americanos e europeus. “A partir da constatação de que somos periferia e que em periferia também se produz cultura, podemos produzir sociedade, do ponto de vista político, econômico e por fim de autonomia”, destaca o professor.

Ficha Técnica

Reportagem: Yuri A.F. Marcinik
Foto: Larissa Onório
Edição: Gabriella de Barros
Supervisão: Professores Angela Aguiar, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves, Ben Hur Demeneck e Rafael Kondlatsch
Monitores: Helen Scheidt

 

Adicionar comentário

Registre-se no site, para que seus comentários sejam publicados imediatamente. Sem o registro, seus comentários precisarão ser aprovados pela administração do Periódico.