Mesmo com a intensa rotina de estudos, estudantes encontram tempo para atuar nas baterias universitárias
“Além de motivar os acadêmicos a se empenharem nos seus respectivos cursos, trazemos disciplina, organização, responsabilidade, networking, trabalho em equipe e o desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais”. Assim a presidente da Liga de Baterias de Ponta Grossa, Elisa Flizicoski, define a existência das baterias universitárias nas universidades públicas e particulares do município.
A Liga é composta atualmente por 6 grupos, que integram os cursos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e o Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (Cescage). A relação entre os grupos e as instituições é tão grande, que as baterias acabam integrando a grade curricular nas universidades, como é o caso da Tourada, bateria dos cursos de Engenharias da UEPG que é um projeto de extensão dentro da universidade.
No momento, cerca de 130 estudantes integram as baterias que participam das atividades desenvolvidas pela LBPG, que entre elas está o Desafio de Baterias do Jogo Inter Atléticas de Ponta Grossa (JOIA), única competição realizada na cidade, além de outros eventos. A Liga não recebe nenhum investimento monetário do Município e todas as suas despesas são custeadas por esses eventos. A presidente em exercício ainda explica que essas competições são organizadas pela diretoria, a partir de um regulamento que segue critérios de outros eventos de âmbito nacional.
Competições como o Batucada e o Interbatuc, fazem com que as baterias universitárias de Ponta Grossa, ganhem reconhecimento nacional. Mostrando assim a relevância da prática no município, Elisa Flizicoski ainda ressalta que as baterias ajudam no desenvolvimento cultural da cidade e que a LBPG também auxilia nas atividades de outras baterias, prestando apoio para quem deseja participar.
O mestre da Bateria Caveirão do curso de Direito da UEPG, Thierry Sautchuk, também ressalta a importância das baterias dentro dos espaços universitários. “Para o curso além das próprias questões de torcida e das competições, a Bateria funciona como um espaço de acolhimento aos alunos, de criação de novas amizades, servindo como um momento de distração das atribulações diárias que cada um possui”, explica Thierry. Esse espaço de acolhimento para atividade extracurricular também é observado pela musicoterapeuta Aline Siqueira, que ressalta os benefícios, “é importante para a conexão dos universitários, socialização e troca de experiências entre os alunos. Também proporciona lazer para além do âmbito acadêmico”, comenta.
Baterias
A Tourada foi fundada em 2009, e a bateria leva o nome da universidade para diferentes cidades e estados do país. “É uma representação única e demonstra que a reunião de alunos da universidade também produz conhecimento e cultura e traz uma alternativa sadia para lazer dos alunos que muitas vezes buscam um refúgio psicológico externo aos cursos que fazem parte”, ressalta Lizandro Diniz Borgo, atual mestre da bateria. A tourada já participou de diversas competições, como o Balatucada pré-seletiva, da Copa das Baterias Universitárias (CBU) e Interbatuc, todos esses disputados no estado de São Paulo. No mês de junho, a bateria ficou em primeiro lugar no Engenharíadas Paranaense, competição que reúne todos os cursos de engenharia do estado.
Um grande diferencial é que, em 2020, em meio ao período de pandemia, a Tourada começou a integrar um curso de extensão dentro da UEPG. O projeto surgiu com o intuito inicial de retomada de atividades extensionistas, no momento remotas, com o objetivo de chamar novos egressos para a bateria. Na ocasião foram realizadas apresentações em vídeo para os estudantes, workshops para outras baterias da região, reuniões e ações sociais que integravam o projeto da associação da Bateria da Tourada.
O projeto está buscando formalizar a bateria como atividade extensionista institucional, pois no momento é ofertada somente como curso de extensão. Lizandro Diniz Borgo explica que hoje a bateria está em processo de mudança de nomenclatura para Projeto de Extensão, “por ser mais abrangente, poderão fazer parte do projeto também os ensaios da bateria principal e de acesso, além de ações sociais que recorrentemente são realizadas pela instituição”.
Outra bateria com bastante destaque dentro da UEPG é a Caveirão. Fundada em 2008, a bateria é formada única e exclusivamente por acadêmicos do curso de Direito, e atualmente possuem em torno de 25 membros considerados ativos, sendo eles efetivamente ritmistas ou staff. O mestre Thierry Sautchuk ressalta que é considerado ritmista aquele que possui assiduidade nos ensaios e que saibam fundamentos executórios básicos do seu instrumento. Os ensaios da bateria são realizados semanalmente, no entanto, por conta de sua formação ser apenas de estudantes e como muitos realizam estágios acadêmicos, resta principalmente os finais de semana para os encontros. “Em datas próximas aos shows ou competições, costumamos ensaiar durante a semana após às 22h por conta dos acadêmicos do noturno”, esclarece o mestre, em casos assim a bateria arca com os ensaios em estúdios.
As baterias universitárias estão presentes nas mais diversas instituições da cidade, o que é o caso da Bateria Esparta, do curso de Direito da Cescage que existe desde de 2018. A presidente Tauany Soares, explica que a bateria ingressou no processo para entrar na liga, no entanto, com a pandemia eles acabaram ficando estáticos. Por ser relativamente nova, a Espartana tocou apenas em apresentações e no Desafio do JOIA em 2019, como bateria convidada.
A Carniceiros é a bateria dos cursos de Engenharia da UTFPR, única da instituição. O estudante do 3º período do curso de Engenharia de Produção, Victor Luís Caraffini participa do coletivo desde 2019, no entanto apenas esse ano ele saiu da bateria júnior e começou a tocar caixa na principal. Victor ainda comenta que a rotina de ensaios é bastante intensa, “os ensaios são em geral de segunda a sexta no meio dia, porém conforme as competições vão se aproximando a gente ensaia à noite e aos finais de semana”, explica.
Instrumentos e Ritmistas
As baterias universitárias são compostas basicamente por instrumentos típicos que figuram nas escolas de samba, sendo eles, agogô, caixa, chocalho, repique, surdos de corte, surtos de marcação e tamborim. Dentro da configuração do grupo não existe uma ordem específica para a disposição dos instrumentos, no entanto, eles sempre ficam dispostos com base no quesito da equalização da bateria, um dos principais critérios avaliados nas competições. Regra essa que exige que todos os instrumentos fiquem audíveis no decorrer da apresentação.
As baterias universitárias possuem grande afinidade com outros grupos musicais, elas nasceram de torcidas esportivas em arquibancadas, que por sua vez, utilizam instrumentos de escolas de samba em suas atividades. Assim mostrando sua grande herança cultural vinculada à escolha dos instrumentos, sendo esse o motivo para que a base musical das baterias universitárias seja o samba, assim remetendo às origens do estilo musical. “Não é possível afirmar que haja algum instrumento mais importante que o outro, podemos comparar com uma orquestra, não posso afirmar que os violinos são mais importantes que as flautas. Talvez em determinada música um instrumento se destaque mais, mas o concerto em si ganha a sua forma pela coesão de todos”, ressalta o mestre Thierry Sautchuk, sobre a formação e importância dos instrumentos dentro das baterias
Mesmo possuindo algumas diferenças, ultimamente as baterias no geral se assemelham cada vez mais. Tendo em vista que que muitas das escolas de samba principalmente possuem diversos ritmistas ou ex-ritmistas das Baterias Universitárias, que também acabam exercendo cargos de diretoria e ajudam em apresentações. Atualmente o que mais destaca as Baterias Universitárias é que as mesmas contam com pessoas matriculadas em uma universidade ou formadas até certo período, enquanto as demais são abertas para toda a comunidade.
Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e acesse a edição completa.
Ficha técnica:
Reportagem: Vanessa Galvão
Edição e publicação: Heryvelton Martins
Supervisão de produção: Cândida de Oliveira, Maurício Liesen e Ricardo Tesseroli
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen