O exercício de atividades artísticas pode ser terapêutica e auxiliar na qualidade de vida

A arteterapia busca a individualidade e autoconhecimento, e qualquer pessoa pode fazer uso dessa técnica. A médica e psiquiatra Nise da Silveira, reconhecida nacionalmente, recorreu à arteterapia para acompanhar pessoas internadas em hospitais psiquiátricos com base nos estudos de Carl Jung, outro renomado pesquisador da área, sobre o acesso ao inconsciente.  “A arte é uma forma de transmitir o conteúdo do inconsciente, em busca de identificá-lo de forma consciente”, explica Georgina Santos Ávila, tecnóloga em alimentos, mas que sempre trabalhou com o artesanato e atualmente faz pós-graduação na área de arte terapia. 

Entre seus orientandos está Lucas Auer que, a partir das suas produções, criou a exposição “Minha história”. As obras podem ser vistas gratuitamente no Ponto Azul, região central de Ponta Grossa, até 27 de novembro. Georgina conta que através da arte produzida pelo aluno, o terapeuta consegue interpretar demandas e tratá-las. Ela contesta o fato de muitas pessoas acreditarem que a arte é para um determinado grupo da sociedade, mas salienta a possibilidade de todos produzirem. “A arte traz alívio para nós, pois expressamos o que não conseguimos verbalmente. Porém, ainda há muita resistência em relação a essa prática”.

Cristina Sá trabalha com arte há 38 anos e é fundadora da escola de arte Casa Leonardo, uma referência a Leonardo da Vinci, que tem como finalidade a terapia. “A função terapêutica fez parte da minha vida mesmo sem eu perceber. Trabalho com restauração e sou muito satisfeita com minha saúde mental. É uma graça de Deus eu ter tido a oportunidade de desenvolver a arte”. Ela é autodidata, o que mostra como a arte pode ser manifestada por qualquer um que busque trabalhar com o inconsciente, buscando uma vida mais plena. 

A vestibulanda Giovanna Pessin, 19 anos, relata que seus pais sempre estimularam a arte. Ela cresceu praticando dança, desenho, pintura e música com o violão e a bateria. “Eu sou filha única que cresci no meio de adultos. Sempre me senti muito sozinha, e a forma que encontrava para extravasar meus sentimentos era com a arte”, conta. 

Arte terapia

Foto: Arquivo pessoal Giovanna Pessin

Desde o isolamento da pandemia, até hoje, ela faz bordados e tricô como forma de esvaziar a mente. “Eu fico extremamente concentrada em cada pontinho que estou dando, porque se você erra um ponto, perde o trabalho inteiro. É como meditação, você exclui o que está em volta e destina a atenção para você, no aqui e agora”, destaca. Ela acrescenta que sempre encontrou satisfação no trabalho manual por construir algo do zero, e atualmente começou com a prática da mandala por orientação de sua psicóloga, a partir da linha junguiana e estudos de Nise da Silveira. “O círculo é um espaço livre para que eu desenhe e pinte o que bem entender”, diz a estudante. 

Arteterapia no Brasil 

“Aprendi muito com os loucos e isto vem a atrapalhar um pouco o conceito de razão”, descreve Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra precursora do trabalho com arte em instituições de saúde mental no Brasil. Por seguir a linha junguiana, ela acreditava na presença da arte para entrar em contato com o inconsciente, o que resultaria em uma vida mais plena ao promover o autoconhecimento. 

A importância da arteterapia se justifica com o conceito de Jung, de individuação, processo de buscar a personalidade separada de influências externas. A arteterapeuta Edeltraud Nering explica que “o principal foco da individuação é o conhecimento de si mesmo. Ela busca estimular o indivíduo a despertar o melhor de si e do outro, tirando-o do isolamento”. Ela completa o raciocínio em relação à arte. “Quando um conteúdo inconsciente ganha forma e passa a ser consciente, o sujeito tem a possibilidade de ressignificar tal conteúdo e encontrar recursos para viver de forma plena e saudável”.

 

Ficha técnica

Reportagem: Cassiana Tozati 

Edição e publicação: Kathleen Schenberger

Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral 

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky 

 

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