O Terreiro de Umbanda Caboclos da Lei realiza feijoada para comemorar a data

 

No domingo (21), o Terreiro de Umbanda Caboclos da Lei (TUCLEI) realizou a 6° Grande Festa Feijoada de Ogum em comemoração ao dia do Orixá guerreiro. O evento teve início ao meio-dia, quando a feijoada foi servida para o público. Durante a tarde, as apresentações de Curimbas e a Roda de Samba do grupo Okàn Mimo entreteram o público.

 

1 Pai Rafael canta com a Curimba

Pai Rafael de Ogum canta com a Curimba. | Foto: João Victor Lemos

 

De acordo com a organização do evento, a festa tem um significado mais que especial. Conforme postagem no perfil do terreiro no instagram “Ogum foi o primeiro que nessa casa entrou, nosso chão é de Ogum e a festa é para ele e para os falangeiros que guardam a raiz firme dessa casa”.“Quando o terreiro foi orientado pelo Exu Pimenta, ele determinou que se tornasse um terreiro que fosse caminho e desenvolvesse a sociedade macumbeira de Ponta Grossa, e isso é característica do Orixá Ogum, o Orixá que desenvolve a humanidade”, explica Rafael Miranda de Almeida, mais conhecido como Pai Rafael de Ogum, fundador do TUCLEI.

 

Dia de Ogum e de São Jorge

 

O dia 23 de abril é uma data importante para adeptos de várias religiões. Os católicos comemoram o dia de São Jorge, enquanto os umbandistas,  o dia de Ogum. Não é coincidência que as duas entidades sejam celebradas no mesmo dia, isso acontece devido ao sincretismo religioso entre as divindades africanas e santos católicos,  já que os umbandistas eram proibidos de cultuar suas divindades.

Pai Rafael de Ogum explica que “o sincretismo colaborou para a aceitação das religiões afro-brasileiras, dando abertura a pessoas de raça branca, mas o preço disso foi a exclusão da raça negra e o embranquecimento é apagamento de fundamentos africanos”. Para ele, Ogum e São Jorge são diferentes, mesmo tendo ocorrido esse fenômeno aqui no Brasil, “O sincretismo religioso é algo que não contribui com uma grande parte da população que se identifica como pardos e negros. Eles perdem sua identidade, pois  assim seus Deuses são substituídos por Santos. Isso faz com que não vejam dentro do terreiro coisas que os representem. Portanto crianças negras e adultos negros, por exemplo, não encontram em terreiros sincréticos a representatividade” completa.

 

Preconceito religioso

 

De acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada no final de 2019, a religião dos brasileiros se configura da seguinte forma: Católica, 50%; Evangélica, 31%; Não tem religião, 10%; Espírita, 3%; Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras, 2%; Outra, 2%; Ateu, 1%; Judaica, 0,3%.

As religiões afro-brasileiras, por ter número tão pequeno de representantes e  suas raízes no continente africano, sofrem ataques e intolerância religiosa com frequência. “Todos os meses, diversos médiuns sofrem racismo religioso ou intolerância religiosa. A forma de ataque mudou, antes era ataque direto, hoje podemos observar ataques indiretos de maneira velada, por exemplo, quando algo acontece de ruim, acontece com um macumbeiro. Quase sempre recebemos opiniões culpando a religião, ‘Só Jesus salva’, ‘Sangue de Jesus tem poder’, ‘Você tem que acreditar em Deus’, essas são frases que muitas vezes são direcionadas a macumbeiros de maneira a ameaçar e oprimir”, afirma Pai Rafael.

Kimilly Lopes, médium do TUCLEI, relata a mudança nos ataques religiosos. “A discriminação ainda acontece, mas de uma forma muito sutil, como piada, brincadeira, vinda dos proprios familiares ou de pessoas conhecidas. Se a gente não tiver um certo filtro, essas discriminações podem até passar despercebidas”, conta Kimilly.

A aceitação do público aos praticantes das religiões de matriz africana tem melhorado na cidade de Ponta Grossa, porém, ainda há um caminho longo a ser percorrido no combateà discriminação. “Eu acredito que tem muita discriminação ainda. Duas semanas atrás, eu fui vítima de racismo e intolerância religiosa, eu como mulher preta umbandista, [para a sociedade] ainda é um absurdo. Sofro por ser preta, por vir de uma ancestralidade preta e por fazer parte de um chão de matriz africana que foi criado por pretos. Então tem muita coisa que precisa melhorar, o ser humano precisa buscar muito conhecimento, mas tem muitas pessoas que não estão abertas a conhecer. Então tudo que é novo assusta,  mas é necessário ter mais visibilidade. Precisamos ter mais voz e ter mais direitos de expor e apresentar o que é a nossa religião”, observa Evelin de Sousa Gomes, também médium no terreiro. “São tantos os episódios de racismo e intolerância religiosa no cotidiano do macumbeiro que poderíamos escrever um livro”, conclui Pai Rafael.

 

Ficha Técnica:

Produção: João Victor Lemos

Edição e Publicação: Loren Leuch

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos

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